Jornal Estado de Minas

Presidente Franco está em busca de alianças

Presidente Federico Franco se reúne com o Congresso, pede legitimidade e defende a aprovação de projetos. O destituído Fernando Lugo agora ensaia candidatura ao Senado

Renata Tranches

No que diz respeito às sanções internacionais, Lugo foi categórico e defendeu seu país, mesmo tendo sido vítima de um golpe - Foto: REUTERS/Jorge Adorno  

Depois de minimizar a pressão internacional, o novo presidente do Paraguai, Federico Franco, pediu ontem apoio interno, durante seu primeiro encontro com o Congresso desde que assumiu o cargo. O presidente destituído, Fernando Lugo, por sua vez, começou a articular um "plano B" e sinalizou para uma possível candidatura ao Senado pela Frente Guasu, a coalizão de 19 siglas políticas que o apoiou na última campanha eleitoral. Na região, as articulações de repreensão ao impeachment relâmpago de Lugo continuavam na véspera da cúpula do Mercosul, realizada hoje e amanhã em Mendoza, na Argentina. Segundo fontes do governo brasileiro, a expectativa é de que a reunião condene a destituição do ex-mandatário, mas não inclua sanções econômicas contra o Paraguai, suspenso do bloco (leia nesta página). O próprio Lugo rejeitou medidas punitivas a seu país.

Franco pediu ontem que, passada a convulsão política, o Congresso destrave projetos dos setores agrícolas e de obras públicas, na tentativa de impulsionar a economia paraguaia. Os programas, muitos dos quais financiados pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), são da ordem de centenas de milhões de dólares, segundo noticiaram os jornais locais. Ao falar com a imprensa, em Assunção, um dos principais colaboradores do novo governo, o ministro da Fazenda, Manuel Ferreira Brusquetti, disse que o Legislativo — a quem propôs uma "sociedade" — detém responsabilidade sobre cerca de US$ 480 milhões em projetos.

Enquanto isso, Lugo articulava sua volta ao poder pelas vias eleitorais. O pré-candidato à Presidência pela Frente Guasu, Mario Ferreiro, confirmou à rádio local Monumental que a coalizão de partidos a que pertence quer chegar a um consenso sobre uma lista única ao Congresso, encabeçada por Lugo para as eleições de 2013. "A realidade agora é outra e temos de ser mais pragmáticos", afirmou, descartando as chances de o ex-bispo voltar a ser presidente. Lugo não se pronunciou sobre o tema, mas Ferreiro afirmou que a decisão sobre o futuro do ex-mandatário deverá ser tomada nas próximas semanas.

Por meio de um comunicado, o partido País Solidário, que tem funcionado como a sede da chamada Frente para a Defesa da Democracia no Paraguai, denunciou que setores "golpistas" estão semeando a "desinformação". A frente responsabilizou Franco por qualquer resultado negativo ao país nas relações internacionais. Ainda de acordo com o comunicado, a frente vai reiterar diretamente ao secretário-geral da Organização dos Estados Americanos (OEA), José Miguel Insulza, a ilegalidade do impeachment de Lugo. Insulza deve chegar ao país nesta semana, para se reunir com autoridades do novo governo e com o próprio Lugo. A decisão de enviá-lo foi tomada durante reunião de emergência da OEA, anteontem, em Washington.

Ao mesmo tempo, o presidente destituído tenta angariar apoio popular. Partidários do ex-presidente fizeram manifestações no interior do país e em regiões fronteiriças, como Ciudad del Este, que faz divisa com Foz do Iguaçu (PR), e Encarnación, na Argentina. A passagem pela Ponte da Amizade foi temporariamente interrompida. No Brasil, também houve mobilização de apoio, mas em Brasília.

Agindo em outra frente, integrantes de movimentos sociais, deputados e senadores entregaram ao ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota, uma moção manifestando "repúdio" ao que classificaram de um "golpe de Estado" contra Lugo. O grupo demonstrou apoio ao posicionamento do governo brasileiro com relação à crise e solicitou que, como medida punitiva, Assunção também seja suspensa da Unasul. A frente sugeriu que, em virtude da suspensão paraguaia no Mercosul, a Venezuela "seja definitivamente incorporada" ao bloco, uma vez que tal participação já foi aprovada nos parlamentos de Argentina, Brasil e Uruguai. A única oposição era por parte do Paraguai.

Segundo o porta-voz do Itamaraty, embaixador Tovar Nunes, uma possível integração da Venezuela ao bloco do Cone Sul dependerá de uma solução sobre o Paraguai. "Individualmente, o Brasil apoia a entrada da Venezuela. Surgiu um fato novo, que é a projetada suspensão do Paraguai. É preciso que ela ocorra primeiro para se tomar qualquer atitude em relação ao conjunto das iniciativas do Mercosul."

O ex-presidente do Paraguai, Fernando Lugo, por sua vez, disse ontem que não deseja que o país seja alvo de sanções internacionais que possam prejudicar a população paraguaia. “Somos conscientes de que as medidas de bloqueio e isolamento acabam sendo prejudiciais para todos os paraguaios", disse o ex-presidente em comunicado divulgado depois de uma reunião com líderes da esquerda, Em Nova York, o secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU) expressou preocupação sobre a deposição do presidente paraguaio Fernando Lugo e disse que apoia os esforços de mediação dos líderes regionais. "O secretário-geral acompanha de perto e com preocupação os eventos recentes no Paraguai que culminaram na remoção do cargo" de Lugo, disse o porta-voz da ONU, Martin Nesirky. "Ele percebe a preocupação expressada pelos líderes regionais sobre o processo de impeachment e suas implicações para a democracia do país", acrescentou Nesirky, que declarou que Ban saudou a missão de esclarecimento dos fatos da Organização dos Estados Americanos (OEA). "O secretário-geral pede a todos os envolvidos que trabalhem nos próximos dias para assegurar uma solução pacífica para as diferenças", disse o porta-voz.