Depois de minimizar a pressão internacional, o novo presidente do Paraguai, Federico Franco, pediu ontem apoio interno, durante seu primeiro encontro com o Congresso desde que assumiu o cargo. O presidente destituído, Fernando Lugo, por sua vez, começou a articular um "plano B" e sinalizou para uma possível candidatura ao Senado pela Frente Guasu, a coalizão de 19 siglas políticas que o apoiou na última campanha eleitoral. Na região, as articulações de repreensão ao impeachment relâmpago de Lugo continuavam na véspera da cúpula do Mercosul, realizada hoje e amanhã em Mendoza, na Argentina. Segundo fontes do governo brasileiro, a expectativa é de que a reunião condene a destituição do ex-mandatário, mas não inclua sanções econômicas contra o Paraguai, suspenso do bloco (leia nesta página). O próprio Lugo rejeitou medidas punitivas a seu país.
Enquanto isso, Lugo articulava sua volta ao poder pelas vias eleitorais. O pré-candidato à Presidência pela Frente Guasu, Mario Ferreiro, confirmou à rádio local Monumental que a coalizão de partidos a que pertence quer chegar a um consenso sobre uma lista única ao Congresso, encabeçada por Lugo para as eleições de 2013. "A realidade agora é outra e temos de ser mais pragmáticos", afirmou, descartando as chances de o ex-bispo voltar a ser presidente. Lugo não se pronunciou sobre o tema, mas Ferreiro afirmou que a decisão sobre o futuro do ex-mandatário deverá ser tomada nas próximas semanas.
Por meio de um comunicado, o partido País Solidário, que tem funcionado como a sede da chamada Frente para a Defesa da Democracia no Paraguai, denunciou que setores "golpistas" estão semeando a "desinformação". A frente responsabilizou Franco por qualquer resultado negativo ao país nas relações internacionais. Ainda de acordo com o comunicado, a frente vai reiterar diretamente ao secretário-geral da Organização dos Estados Americanos (OEA), José Miguel Insulza, a ilegalidade do impeachment de Lugo. Insulza deve chegar ao país nesta semana, para se reunir com autoridades do novo governo e com o próprio Lugo. A decisão de enviá-lo foi tomada durante reunião de emergência da OEA, anteontem, em Washington.
Ao mesmo tempo, o presidente destituído tenta angariar apoio popular. Partidários do ex-presidente fizeram manifestações no interior do país e em regiões fronteiriças, como Ciudad del Este, que faz divisa com Foz do Iguaçu (PR), e Encarnación, na Argentina. A passagem pela Ponte da Amizade foi temporariamente interrompida. No Brasil, também houve mobilização de apoio, mas em Brasília.
Agindo em outra frente, integrantes de movimentos sociais, deputados e senadores entregaram ao ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota, uma moção manifestando "repúdio" ao que classificaram de um "golpe de Estado" contra Lugo. O grupo demonstrou apoio ao posicionamento do governo brasileiro com relação à crise e solicitou que, como medida punitiva, Assunção também seja suspensa da Unasul. A frente sugeriu que, em virtude da suspensão paraguaia no Mercosul, a Venezuela "seja definitivamente incorporada" ao bloco, uma vez que tal participação já foi aprovada nos parlamentos de Argentina, Brasil e Uruguai. A única oposição era por parte do Paraguai.
Segundo o porta-voz do Itamaraty, embaixador Tovar Nunes, uma possível integração da Venezuela ao bloco do Cone Sul dependerá de uma solução sobre o Paraguai. "Individualmente, o Brasil apoia a entrada da Venezuela. Surgiu um fato novo, que é a projetada suspensão do Paraguai. É preciso que ela ocorra primeiro para se tomar qualquer atitude em relação ao conjunto das iniciativas do Mercosul."
O ex-presidente do Paraguai, Fernando Lugo, por sua vez, disse ontem que não deseja que o país seja alvo de sanções internacionais que possam prejudicar a população paraguaia. “Somos conscientes de que as medidas de bloqueio e isolamento acabam sendo prejudiciais para todos os paraguaios", disse o ex-presidente em comunicado divulgado depois de uma reunião com líderes da esquerda, Em Nova York, o secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU) expressou preocupação sobre a deposição do presidente paraguaio Fernando Lugo e disse que apoia os esforços de mediação dos líderes regionais. "O secretário-geral acompanha de perto e com preocupação os eventos recentes no Paraguai que culminaram na remoção do cargo" de Lugo, disse o porta-voz da ONU, Martin Nesirky. "Ele percebe a preocupação expressada pelos líderes regionais sobre o processo de impeachment e suas implicações para a democracia do país", acrescentou Nesirky, que declarou que Ban saudou a missão de esclarecimento dos fatos da Organização dos Estados Americanos (OEA). "O secretário-geral pede a todos os envolvidos que trabalhem nos próximos dias para assegurar uma solução pacífica para as diferenças", disse o porta-voz.