O recado foi dado na sexta-feira pelos chanceleres Antonio Patriota (Brasil) e Héctor Timerman (Argentina), por telefone. Eles haviam sido avisados sobre o processo de impeachment na quinta-feira, durante a Rio%2b20. Na manhã seguinte, os ministros entraram em contato com Franco. "Vocês não podem fazer um rito sumário desses", afirmou Patriota. "Vocês já fizeram o mesmo no Brasil (em uma alusão ao afastamento de Fernando Collor em 1992)", devolveu Franco. Patriota retrucou: "O processo levou seis meses". Franco insistiu: "Nós vamos fazer hoje".
Foi a vez de Timerman tentar uma saída. "Lugo se licencia por um período de três a seis meses, o clima melhora e, a partir daí, vocês analisam o afastamento". Como o então vice-presidente paraguaio não mudou de ideia, os dois chanceleres resolveram dar o ultimato e alertaram que ele teria que lidar com "sanções políticas pesadas". Franco mostrou-se irredutível. "Ele está arcando com as consequências", declarou uma fonte do governo brasileiro à reportagem.
Moderação Apesar da crise, os diplomatas brasileiros estão tranquilos. Alegam que adotaram um tom moderado no continente, menos agressivo do que as críticas feitas pelo venezuelano Hugo Chávez e pela argentina Cristina Kirchner. "A Cristina estava doida para arrumar uma desculpa para deixar de ser vista como a única governante que adota medidas ilegais", disse um integrante da cúpula do governo brasileiro.
A desistência do ex-presidente Lugo de participar da reunião do Mercosul foi encarada com naturalidade pelo Brasil. "Ele não é mais chefe de Estado, o que faria lá?" questionou um observador privilegiado da crise paraguaia. Mas a postura do ex-dirigente atraiu críticas dos companheiros de Mercosul. "Todos nós fomos contra o impeachment sumário. Mas Lugo, em um primeiro momento, pareceu resignado e aceitou a decisão, dizendo que era legal. Isso tirou a força das nossas reclamações", justificou um diplomata brasileiro.
"Todos nós fomos contra o impeachment sumário. Mas, Lugo, em um primeiro momento, pareceu resignado e aceitou a decisão"
Diplomata brasileiro, em entrevista à reportagem, sob condição de anonimato