Jornal Estado de Minas

Declarações de Obrador sobre fraude eleitoram causam suspense no México

López Obrador, candidato derrotado nas eleições presidenciais, declara que tem provas de que vencedor comprou milhões de votos e deve pedir a impugnação do pleito até quinta

Thais de Luna
Pela segunda eleição presidencial consecutiva, López Obrador contesta resultado alegando favorecimento e fraude no processo - Foto: REUTERS/Edgard Garrido
Assim como quando perdeu as eleições de 2006, o esquerdista Andrés Manuel López Obrador %u2013 candidato derrotado no pleito presidencial deste ano %u2013 não reconheceu a vitória de Enrique Peña Nieto e afirmou que, até quinta-feira, deve entrar na Justiça com um processo de impugnação da votação. "Às 18h de quinta-feira, segundo os termos da lei, tomaremos uma posição definitiva", disse o candidato, um dia após o Instituto Federal Eleitoral (IFE) concluir a recontagem de votos para presidente, senadores e deputados eleitos pela população no dia 1º. López Obrador acusa o Partido Revolucionário Institucional (PRI), de Peña Nieto, de ter comprado 5 milhões de votos. "O certo é que a eleição não foi limpa", declarou, durante entrevista coletiva. O político prometeu reunir provas para comprovar suas denúncias.
Em uma aparente pressão política contra Peña Nieto, eleito com 38,21% dos votos (3,3 milhões a mais que o segundo colocado), López Obrador acusou o IFE de não ter cumprido com seu papel, ao não punir a suposta troca de votos por cartões pré-pagos de supermercado. Embora o Partido da Revolução Democrática (PRD), ao qual é filiado, tenha anunciado que impugnaria a votação, o esquerdista preferiu adotar a cautela. "Esse é um assunto muito delicado e não podemos nos precipitar. Apresentaremos as provas (ao Tribunal Eleitoral) e definiremos o tipo de julgamento com o qual vamos prosseguir", disse López Obrador. Ele completou que pretende ter as provas das acusações em mãos e esclarecer todas as dúvidas antes de possivelmente pedir pela anulação do pleito, em um tom moderado que vem usando desde a campanha. Ainda assim, o segundo colocado reiterou que a recontagem de 54,5% dos votos na semana passada não foi suficiente, "pois houve a abertura de pacotes que já estavam abertos e cédulas que chegaram por fora".

O Tribunal Eleitoral, que valida as eleições e declara quem é o mandatário eleito, receberá as contestações do processo até a meia-noite de quinta-feira e deverá respondê-las até 6 de setembro. O atual chefe de Estado, Felipe Calderón, se mostrou incomodado com a denúncia de compra de votos por parte do PRI. Em entrevista à Radio Mil, ele considerou a prática inaceitável e, apesar de acreditar que os resultados eleitorais serão preservados, defendeu a investigação.

Para Rafael Loyola Díaz, professor do Instituto de Pesquisas Sociais da Universidade Nacional Autônoma do México (Unam), López Obrador buscará as instâncias judiciais para deixar claras as confusões eleitorais do México. "Ele vai jogar com os acontecimentos para ver quão longe pode chegar. A confrontação de seis anos atrás pesou muito contra o esquerdista, sobretudo a tomada da Avenida de Reforma (em protesto pelo não-reconhecimento da vitória de Calderón", comentou. O analista disse que López Obrador recorrerá ao Tribunal Eleitoral a fim de medir o nível de descontentamento popular.

LEGITIMIDADE Segundo Gustavo Madero Muñoz, presidente do Partido Ação Nacional (PAN), do atual chefe de Estado, as denúncias contra Peña Nieto fazem com que ele não tenha legitimidade suficiente para governar. "Se Peña Nieto ganhar, ele tem a legalidade para ser presidente da República. Mas não terá legitimidade, devido aos questionamentos que surgem em torno das eleições", advertiu, citado pelo jornal mexicano Vanguardia. Díaz concorda: "O candidato do PRI não vai chegar ao poder com o apoio popular e a festa que queria".