Jornal Estado de Minas

Central sindical peronista se divide entre leais e adversários de Kirchner

AFP
A poderosa central sindical peronista CGT dividiu-se em um setor leal à presidente argentina, Cristina Kirchner, e outro que, por ter sido afastado do poder político, enfrenta a chefe de Estado e, nesta quinta-feira, realizará um congresso impugnado pelo governo.
A origem da ruptura foi a decisão da presidente de promover a retirada de Hugo Moyano da liderança da Confederação Geral do Trabalho (8 milhões de afiliados). Ele passou para a oposição e organizou para amanhã um congresso de associações fiéis que irá reelegê-lo.

"Após a minha reeleição, farei um pedido muito firme ao governo. Sempre houve dois ou três setores na CGT, isto não surpreende ninguém", declarou Moyano à radio 10.

Há duas semanas, o sindicalista havia desafiado a presidente com a primeira reunião e uma jornada de protesto na histórica Praça de Maio. Líder do poderoso sindicato dos caminhoneiros, Moyano tem processos pendentes na Justiça, incluindo uma investigação de supostos testas de ferro seus por lavagem de dinheiro na Suíça.

"É tudo mentira. Este governo se afastou dos trabalhadores", afirmou, na TV. Em 18 de março de 2011, a Suíça se negou oficialmente a investigar Moyano e seu filho Pablo, também líder caminhoneiro.

Confrontando o sindicalista opositor, a ala pró-governamental reuniu-se em torno do líder dos metalúrgicos, Antonio Caló, que disse hoje que será "o novo titular da CGT" em outro congresso, em 3 de outubro. "Discuto com os empresários por salários; com o governo, não tenho problemas", disse Caló, em entrevista à rádio 10.

A divisão em dois grupos e o confronto com a presidente ganhou força após os contatos recentes de Moyano com líderes políticos e sociais contrários a Cristina. A crise se aprofundou no governo quando o líder caminhoneiro reuniu-se com o governador da província de Buenos Aires (reduto peronista), Daniel Scioli, que também entrou em choque com a presidente, ao anunciar sua candidatura para as eleições presidenciais de 2015.

"O confronto entre Moyano e a presidente torna explícita a divisão no peronismo em relação ao apoio ao governo. Acredito que Moyano irá tentar empurrar para a polarização", disse o sociólogo Manuel Mora y Araujo.

O analista, titular da consultoria Ipsos e vice-presidente da Universidade Torcuato Di Tella, indicou que, para Moyano, "o momento pode ser propício, com uma tendência previsível à recessão mais inflação. Mas os métodos de luta sindical caem mal entre a população."

Contexto econômico favorece a tensão

A economia argentina enfrenta uma desaceleração brusca este ano, após crescer uma média de 8% anual. "Apesar de o consumo se manter estável e não haver recessão, o freio na construção tem impacto nas fábricas", disse ao canal 26 o presidente da União Industrial Argentina, José de Mendiguren.

O desprestigiado índice de inflação oficial, questionado pelo FMI e por agentes econômicos, ronda os 10% anuais, mas o aumento do custo de vida real atinge 25% ao ano, segundo a oposição, que o divulga mensalmente no Congresso.

"Acho que a presidente não está sendo assessorada inteligentemente, porque, de outra forma, não teria entrado em um confronto tão absurdo com Moyano. Está brincando com fogo", disse à rádio El Mundo o cientista político Jorge Giacobbe, titular da consultoria homônima e assessor da Transparência Internacional.

Moyano foi um aliado tático do ex-presidente Néstor Kirchner (2003-2007), mas começou a se distanciar quando rejeitaram a inclusão de sindicalistas nas listas de candidatos para as eleições presidenciais e legislativas de outubro de 2011.