Brasília – Sem muito para comemorar na economia, o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, tenta desviar o foco dos números insatisfatórios e busca popularidade com medidas endereçadas a grupos específicos de eleitores. Há um mês, a Casa Branca mandou suspender as deportações de jovens imigrantes clandestinos, medida que agradou à comunidade hispânica. Na última semana, de olho na classe média, pediu ao Congresso que prorrogue os cortes de impostos adotados pelo antecessor imediato, George W. Bush, para contribuintes com renda anual inferior a US$ 250 mil. Nesse meio tempo, obteve uma grande vitória com a validação, pela Suprema Corte, de sua reforma da saúde, sancionada em 2010.
As iniciativas fizeram barulho na corrida presidencial. Mas, para analistas, é incerto como elas se refletirão no conjunto do eleitorado. Entre os hispânicos, que representam uma fatia estratégica dos votos, pesquisas realizadas uma semana após o anúncio da regularização de jovens imigrantes, em 27 de junho, mostraram que Obama acrescentou cinco pontos a uma vantagem já grande que tinha sobre o desafiante republicano, Mitt Romney. Segundo a sondagem, encomendada pelas emissoras Telemundo (hispânica) e NBC News, além do jornal Wall Street Journal, o presidente subiu de 61% para 66% de aprovação, enquanto seu adversário caiu de 27% para 26%.
No cenário nacional não houve grandes alterações. Segundo análise do site RealClearPolitics, especializado em pesquisas políticas nos EUA, desde o fim das primárias republicanas, em maio, 10 entre 12 pesquisas nacionais mostraram Obama oscilando entre 43% e 47%, enquanto 11 de 13 sondagens apresentaram Romney com a mesma variação. A exceção é o levantamento da Bloomberg, de 15 de junho, que deu vantagem de 13 pontos para o presidente. "Uma característica estranha para um ano de eleição é a consistência obstinada das pesquisas", avaliou o analista de eleições do site, Sean Trende, em relatório divulgado na quinta-feira.
Na análise do professor Tim Hagle, do Departamento de Ciências Políticas da Universidade de Iowa, muitos americanos ainda estudam o impacto das recentes medidas. "Todos esses aspectos devem ajudar a campanha de Obama, mas ainda não está claro como e quanto", afirma o cientista político. Hagle pondera que há muitas pessoas desconfortáveis com algumas delas, especialmente a reforma da saúde. Alguns pontos da reforma agradam a parte da população, como a possibilidade de manter filhos de até 26 anos como dependentes. Também é bem vista a proibição a seguradoras de vetar clientes com doenças pré-existentes. Mas causa preocupação o possível impacto da extensão da cobertura a 32 milhões de americanos.
Imigração Enquanto agrada à comunidade hispânica, a minoria mais numerosa do país, o presidente descontenta setores mais conservadores. Evitando o controverso tema da anistia geral, a proposta de Obama para a imigração beneficia crianças e jovens de até 30 anos que tenham chegado ao país com menos de 16 e não tenham antecedentes criminais. "É uma posição política cuidadosamente planejada", opina o professor de ciências políticas Shaun Bowler, da Universidade da Califórnia. Segundo ele, uma anistia para estrangeiros adultos enfrentaria resistência, mas o cenário muda quando os beneficiários são crianças.
"Em geral, as pessoas não querem necessariamente uma anistia completa", pondera Tim Hagle. Ele lembra que uma iniciativa do gênero foi adotada em 1986 pelo republicano Ronald Reagan, mas desagradou aos mais conservadores. "A anistia não dissuadiu as pessoas, ao contrário. Muitas vieram depois em busca de oportunidades. Por isso, os republicanos têm argumentado que a anistia, na verdade, encoraja mais imigrantes ilegais."
Os dois analistas ressaltam, porém, que a economia continua e continuará a pautar a corrida eleitoral. Para Bowler, se quiser obter vantagem, Obama precisa de "melhores notícias" nos próximos meses, especialmente na criação de empregos. "E não está claro se conseguirá", afirma o analista. A taxa nacional de desemprego nos EUA permanece em 8,2%. Algumas questões são mais importantes para setores do eleitorado, mas a economia é o tema de interesse geral.
Em artigo publicado esta semana no site da CNN, William Bennett, ex-secretário de governos republicanos, diz que a Casa Branca está ficando sem ideias e sem desculpas para o mau desempenho da economia. Segundo ele, em quase três anos em recuperação, o país adicionou apenas 80 mil empregos em junho, marcando o terceiro mês consecutivo de crescimento baixo. Bennett pontua ainda que a taxa de desemprego divulgada em junho (8,2%) configura o 41º mês acima do patamar de 8% – a série mais longa desde a Grande Depressão, nos anos 1930. "Como a Casa Branca responde a esses dados? Dizendo que ‘não há solução rápida para problemas causados em mais de uma década’", diz Bennet. "A economia se molda como o fator mais importante das eleições de 2012, mas o presidente parece buscar sua reeleição em políticas desgastadas e recicladas e ataques a Romney. É difícil ver essa estratégia como vencedora."
Nos últimos dias, a campanha se tornou mais agressiva, com os candidatos veiculando propagandas negativas contra o adversário e declarações acusatórias. Enquanto Romney fala da política econômica “liberal” de Obama, chamando-a de fracassada, a campanha de Obama veiculou uma propaganda eleitoral com ataques aos investimentos pessoais internacionais do republicano e aos seus negócios. Ontem, Obama fez campanha em Glen Allen, na Virgínia, e, discursando para partidários democratas, chamou Romney de "pioneiro da terceirização" e disse que as ideias de Romney são antiquadas e desacreditadas.
Romney de mãos atadas
Quando propôs novas regras de imigração, que beneficiarão cerca de 800 mil estrangeiros em situação irregular, Barack Obama criou uma situação complicada para o adversário republicano. Se Mitt Romney não pode desprezar o voto hispânico, precisa também do apoio da ala mais conservadora de seu partido, avessa a qualquer benefício para os imigrantes. Segundo o Departamento de Segurança Interna, serão autorizados a ficar no país e pleitear licença de trabalho os imigrantes ilegais de até 30 anos que tenham entrarado no país com menos de 16 e não representem risco à segurança. O projeto é inspirado no Dream Act, proposta que circula há mais de uma década no Congresso, sem que haja acordo para sua aprovação.
"A posição de Obama sobre imigração tornou a vida mais difícil para Romney", pondera o cientista político Shaun Bowler, da Universidade da Califórnia. Para ele, nem mesmo a escolha do senador cubano-americano Marco Rubio como vice melhora a situação da chapa de oposição entre os hispânicos. Ainda no processo das primárias republicanas, o pré-candidato Rick Perry chegou a apresentar uma proposta semelhante, mas despertou grande descontentamento.
Ainda segundo Bowler, a médio e longo prazos, o Partido Republicano entenderá que não pode continuar como uma legenda apenas de "anglos" (anglo-saxões sem raízes na imigração). "Eles também precisam fazer apelos a esses eleitores", afirma o professor, ponderando que há uma grande rejeição na base do partido a uma aproximação com hispânicos e negros. "Os republicanos têm problemas em tentar reunir uma coalizão multiétnica. Mas isso se torna cada vez mais necessário se quiserem vencer."
Os conservadores republicanos foram justamente a base que Romney precisou conquistar para garantir a candidatura presidencial, depois de uma longa batalha com adversários como Rick Santorum e Newt Gingrich. Agora, precisa equilibrar os dois lados. Falando a um público latino, uma semana após o anúncio de Obama, o desafiante mediu as palavras e disse que, se vencer, buscará "uma solução de longo prazo para substituir e descartar" a portaria do presidente – que, apressou-se em acrescentar, "não corresponde às promessas feitas aos hispânicos".
As iniciativas fizeram barulho na corrida presidencial. Mas, para analistas, é incerto como elas se refletirão no conjunto do eleitorado. Entre os hispânicos, que representam uma fatia estratégica dos votos, pesquisas realizadas uma semana após o anúncio da regularização de jovens imigrantes, em 27 de junho, mostraram que Obama acrescentou cinco pontos a uma vantagem já grande que tinha sobre o desafiante republicano, Mitt Romney. Segundo a sondagem, encomendada pelas emissoras Telemundo (hispânica) e NBC News, além do jornal Wall Street Journal, o presidente subiu de 61% para 66% de aprovação, enquanto seu adversário caiu de 27% para 26%.
No cenário nacional não houve grandes alterações. Segundo análise do site RealClearPolitics, especializado em pesquisas políticas nos EUA, desde o fim das primárias republicanas, em maio, 10 entre 12 pesquisas nacionais mostraram Obama oscilando entre 43% e 47%, enquanto 11 de 13 sondagens apresentaram Romney com a mesma variação. A exceção é o levantamento da Bloomberg, de 15 de junho, que deu vantagem de 13 pontos para o presidente. "Uma característica estranha para um ano de eleição é a consistência obstinada das pesquisas", avaliou o analista de eleições do site, Sean Trende, em relatório divulgado na quinta-feira.
Na análise do professor Tim Hagle, do Departamento de Ciências Políticas da Universidade de Iowa, muitos americanos ainda estudam o impacto das recentes medidas. "Todos esses aspectos devem ajudar a campanha de Obama, mas ainda não está claro como e quanto", afirma o cientista político. Hagle pondera que há muitas pessoas desconfortáveis com algumas delas, especialmente a reforma da saúde. Alguns pontos da reforma agradam a parte da população, como a possibilidade de manter filhos de até 26 anos como dependentes. Também é bem vista a proibição a seguradoras de vetar clientes com doenças pré-existentes. Mas causa preocupação o possível impacto da extensão da cobertura a 32 milhões de americanos.
Imigração Enquanto agrada à comunidade hispânica, a minoria mais numerosa do país, o presidente descontenta setores mais conservadores. Evitando o controverso tema da anistia geral, a proposta de Obama para a imigração beneficia crianças e jovens de até 30 anos que tenham chegado ao país com menos de 16 e não tenham antecedentes criminais. "É uma posição política cuidadosamente planejada", opina o professor de ciências políticas Shaun Bowler, da Universidade da Califórnia. Segundo ele, uma anistia para estrangeiros adultos enfrentaria resistência, mas o cenário muda quando os beneficiários são crianças.
"Em geral, as pessoas não querem necessariamente uma anistia completa", pondera Tim Hagle. Ele lembra que uma iniciativa do gênero foi adotada em 1986 pelo republicano Ronald Reagan, mas desagradou aos mais conservadores. "A anistia não dissuadiu as pessoas, ao contrário. Muitas vieram depois em busca de oportunidades. Por isso, os republicanos têm argumentado que a anistia, na verdade, encoraja mais imigrantes ilegais."
Os dois analistas ressaltam, porém, que a economia continua e continuará a pautar a corrida eleitoral. Para Bowler, se quiser obter vantagem, Obama precisa de "melhores notícias" nos próximos meses, especialmente na criação de empregos. "E não está claro se conseguirá", afirma o analista. A taxa nacional de desemprego nos EUA permanece em 8,2%. Algumas questões são mais importantes para setores do eleitorado, mas a economia é o tema de interesse geral.
Em artigo publicado esta semana no site da CNN, William Bennett, ex-secretário de governos republicanos, diz que a Casa Branca está ficando sem ideias e sem desculpas para o mau desempenho da economia. Segundo ele, em quase três anos em recuperação, o país adicionou apenas 80 mil empregos em junho, marcando o terceiro mês consecutivo de crescimento baixo. Bennett pontua ainda que a taxa de desemprego divulgada em junho (8,2%) configura o 41º mês acima do patamar de 8% – a série mais longa desde a Grande Depressão, nos anos 1930. "Como a Casa Branca responde a esses dados? Dizendo que ‘não há solução rápida para problemas causados em mais de uma década’", diz Bennet. "A economia se molda como o fator mais importante das eleições de 2012, mas o presidente parece buscar sua reeleição em políticas desgastadas e recicladas e ataques a Romney. É difícil ver essa estratégia como vencedora."
Nos últimos dias, a campanha se tornou mais agressiva, com os candidatos veiculando propagandas negativas contra o adversário e declarações acusatórias. Enquanto Romney fala da política econômica “liberal” de Obama, chamando-a de fracassada, a campanha de Obama veiculou uma propaganda eleitoral com ataques aos investimentos pessoais internacionais do republicano e aos seus negócios. Ontem, Obama fez campanha em Glen Allen, na Virgínia, e, discursando para partidários democratas, chamou Romney de "pioneiro da terceirização" e disse que as ideias de Romney são antiquadas e desacreditadas.
Romney de mãos atadas
Quando propôs novas regras de imigração, que beneficiarão cerca de 800 mil estrangeiros em situação irregular, Barack Obama criou uma situação complicada para o adversário republicano. Se Mitt Romney não pode desprezar o voto hispânico, precisa também do apoio da ala mais conservadora de seu partido, avessa a qualquer benefício para os imigrantes. Segundo o Departamento de Segurança Interna, serão autorizados a ficar no país e pleitear licença de trabalho os imigrantes ilegais de até 30 anos que tenham entrarado no país com menos de 16 e não representem risco à segurança. O projeto é inspirado no Dream Act, proposta que circula há mais de uma década no Congresso, sem que haja acordo para sua aprovação.
"A posição de Obama sobre imigração tornou a vida mais difícil para Romney", pondera o cientista político Shaun Bowler, da Universidade da Califórnia. Para ele, nem mesmo a escolha do senador cubano-americano Marco Rubio como vice melhora a situação da chapa de oposição entre os hispânicos. Ainda no processo das primárias republicanas, o pré-candidato Rick Perry chegou a apresentar uma proposta semelhante, mas despertou grande descontentamento.
Ainda segundo Bowler, a médio e longo prazos, o Partido Republicano entenderá que não pode continuar como uma legenda apenas de "anglos" (anglo-saxões sem raízes na imigração). "Eles também precisam fazer apelos a esses eleitores", afirma o professor, ponderando que há uma grande rejeição na base do partido a uma aproximação com hispânicos e negros. "Os republicanos têm problemas em tentar reunir uma coalizão multiétnica. Mas isso se torna cada vez mais necessário se quiserem vencer."
Os conservadores republicanos foram justamente a base que Romney precisou conquistar para garantir a candidatura presidencial, depois de uma longa batalha com adversários como Rick Santorum e Newt Gingrich. Agora, precisa equilibrar os dois lados. Falando a um público latino, uma semana após o anúncio de Obama, o desafiante mediu as palavras e disse que, se vencer, buscará "uma solução de longo prazo para substituir e descartar" a portaria do presidente – que, apressou-se em acrescentar, "não corresponde às promessas feitas aos hispânicos".