Jornal Estado de Minas

Nova frente se abre em Aleppo em dia de contra-ofensiva do regime sírio em Damasco

AFP
O Exército lançou nesta sexta-feira uma contra-ofensiva para retomar os bairros rebeldes de Damasco e travava combates sem precedentes em Aleppo, segunda maior cidade da Síria, em meio a uma escalada de violência que causou a fuga de milhares de pessoas para o vizinho Líbano nas últimas 48 horas. No dia seguinte ao dia mais sangrento desde o início da revolta, em março de 2011, com mais de 300 mortos, segundo uma ONG síria, o Conselho de Segurança da ONU prolongou por um "último período de 30 dias" a missão dos 300 observadores na Síria. Após a "batalha de libertação" de Damasco anunciada na terça-feira pelos rebeldes, o Exército lançou uma contra-ofensiva para retomar o controle dos bairros "onde os terroristas estavam infiltrados", segundo uma fonte de segurança. Apoiada por tanques, ela "limpou" o bairro de Midan, perto do centro da cidade, após intensos combates. Levados pelo Exército a este bairro fantasma a bordo de blindados, os jornalistas viram cartuchos de vários calibres espalhados pelo chão. O minarete da mesquita de Al-Majid havia sido atingido por um obus e as fachadas dos prédios estavam crivadas de balas. Depois de ter entrado em Qaboun (leste) na véspera, o Exército penetrou de manhã nos bairros de Jobar (leste) e Kafar Soussé (sudoeste), de acordo com o Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH). Além de Midan, uma fonte de segurança indicou à AFP que o Exército controla Tadamoun (sul), Qaboun e Barzé (leste). Enquanto isso, violentos combates eram travados em Jobar, Roukneddine (norte) e, sobretudo, nos "campos de Mazzé", Kafar Soussé e Daraya, no sul e no oeste. Em Aleppo, capital econômica do país, violentos combates eclodiram em vários bairros, abrindo uma segunda frente neste conflito considerado uma "guerra civil" por várias capitais e organizações internacionais. Pelo menos 128 pessoas morreram nesta sexta-feira em todo o país: 85 civis, 26 soldados e 17 rebeldes, segundo o OSDH. Mais de 18.000 refugiados no Líbano em 48h Fugindo da violência, "mais de 18.000 pessoas" se refugiaram no vizinho Líbano nos últimos dois dias, indicou o Comitê Internacional da Cruz Vermelha. O Alto Comissariado da ONU para Refugiados, por sua vez, falou de "8.500 a 30.000" pessoas que haviam se refugiado nesse país durante o mesmo período. Outro vizinho da Síria, o Iraque anunciou que não tem mais condições de receber novos refugiados, em razão da situação de segurança no país. Grande parte desses refugiados deixou Damasco e sua região, palco na quarta-feira de um atentado que matou quatro autoridades do círculo próximo ao presidente Bashar al-Assad. Os funerais oficiais de três deles, incluindo o cunhado de Assad, Assef Shawkat, foram realizados nesta sexta-feira sem a presença do chefe de Estado, segundo a agência Sana. Apesar da violência, e do apelo dos militantes contrários ao regime, pequenas manifestações foram realizadas em Damasco e em Deraa (sul). Em Aleppo, as forças de segurança abriram fogo contra os manifestantes, segundo o OSDH. Na quinta-feira, os rebeldes haviam registrado êxitos ao tomar o controle da fronteira com o Iraque, segundo Bagdá, e de um posto na fronteira com a Turquia. O principal posto na fronteira com o Iraque, Bukamal, era violentamente bombardeado nesta sexta-feira à noite pelo Exército sírio, segundo fontes locais no Iraque. Um diplomata turco anunciou à AFP a respeito da deserção de três generais sírios refugiados na Turquia desde quinta à noite. O chefe do Conselho Nacional Sírio (CNS), principal coalizão oposicionista, Abdel Basset Sayda, tentou de acalmar as minorias, principalmente os cristãos e alauítas, em relação às consequências de uma eventual queda de Assad. "Nós já adotamos um documento que garante os direitos de todas as minorias", declarou esse curdo à rádio-televisão alemã Deutsche Welle. Missão da ONU prolongada por 30 dias O Conselho de Segurança votou a favor de um projeto de resolução apresentado pelos europeus prolongando em 30 dias o mandato da missão da ONU, que teve suas operações suspensas em meados de junho em razão da violência. De acordo com a embaixadora americana Susan Rice, esse prazo permitirá aos observadores "se retirar em segurança". Apenas com "circunstâncias improváveis" eles permanecerão no local além desse prazo, considerou ela. Para o embaixador russo Vitali Churkin, por outro lado, "a resolução não fala de retirada, mas da manutenção da missão", que ainda pode "desempenhar um papel na redução da violência". Na véspera, Moscou e Pequim, haviam provocado a ira dos ocidentais impondo pela terceira vez o seu veto a uma resolução do Conselho prevendo sanções contra o regime. Washington prometeu agir fora do âmbito da ONU. Qualquer ação fora da ONU seria "ineficaz", reagiu o presidente russo, Vladimir Putin. A União Europeia vai examinar a partir de segunda-feira novas sanções contra Damasco, incluindo o reforço no embargo de armas, anunciou o ministro francês das Relações Exteriores da França, Laurent Fabius, mencionando uma "guerra civil" na Síria. A Rússia decidiu "adiar" a entrega de três helicópteros de combate à Síria até que a situação se normalize.