Jornal Estado de Minas

Forças de Bashar al-Assad iniciam megaofensiva para retomar o controle de Aleppo

 “Os tanques estão a algumas dezenas de metros daqui. O prédio sacode e ocorre uma explosão a cada 15 segundos. Eles lançam foguetes pesados. Estou com o corpo colado ao chão. É assustador”. São 7h de sábado em Aleppo (1h em Brasília) e o morador do Bairro de Salaheddine descreve dessa maneira o começo da “mãe de todas as batalhas” – a ofensiva final das tropas do ditador Bashar al-Assad para aniquilar o Exército Sírio Livre (ESL) e retomar o controle da capital econômica do país
Algumas horas depois, vídeos no YouTube mostravam corpos de rebeldes pelas ruas. “As gangues de Al-Assad estão usando tanques T-72, helicópteros e artilharia pesada. Há muitos prédios destruídos e dezenas de feridos. O quinto andar do edifício à minha frente tem cinco grandes buracos, posso ver através deles”, relatou o mesmo morador.
O estudante de economia Mario Haddad teme pela sorte de quem mora em seu bairro, Al-Azizieh. “Estou muito preocupado. Eles já destruíram Homs, Hama e Deraa. O Exército sírio provavelmente quer acabar com Aleppo também”, afirmou ele, pela internet. A família de Haddad já tem bilhetes aéreos comprados e reservados para 8 de agosto. Mas a tentativa de sair do país pode ser inócua. “Voos decolam todos os dias, mas percorrer os 15 minutos de carro até o aeroporto não é seguro”, explicou Haddad. Com base no depoimento de um comandante do ESL, a rede de tevê Al-Arabyia divulgou que as forças de oposição teriam conseguido repelir os ataques do Exército.

Por telefone, Rami Abdel Rahman, diretor do Observatório Sírio para os Direitos Humanos, que funciona em Londres, informou que até as 12h30 de ontem (hora de Brasília) os combates em Aleppo haviam matado 35 pessoas. A organização não governamental calcula que 20.028 sírios morreram desde o início do levante, em 15 de março de 2011 – 13.978 civis e rebeldes, 968 desertores do Exército e 5.082 membros das forças do regime. “A matança continua e ninguém poderá detê-la”, afirmou Rahman.

Pausa Depois de a tempestade de fogo desabar sobre Aleppo durante quase todo o dia, houve pausa dos combates no início da noite. “O ataque contra Salaheddine parou e seguimos o Exército regular até Hamdaniye”, afirmou à agência France Presse o coronel Abel Jabbar Al-Qaidi, chefe do conselho militar da região. De acordo com ele, a tática do ESL é se mover de bairro em bairro e tirar das ruas os membros dos serviços de segurança e das shabihas (milícias pró-regime), antes de avançar.

“Vivemos em uma cidade fantasma. Você não pode sair de casa, ao menos que seja realmente importante. As lojas fecharam ao meio-dia, e a vida noturna no Ramadã já foi bem diferente. Aleppo costumava ficar acordada até a madrugada”, lamenta outro morador do Bairro de Al-Jamelieh, ainda distante dos confrontos, pela internet. “As coisas melhorarão nos próximos dias, depois que o ESL for chutado para fora de Aleppo”, aposta esse sírio, que contou ter simpatizado com a revolução até ela se transformar em luta armada. “Hoje, sou a favor da democracia”, ressaltou.