Jornal Estado de Minas

A face sorridente da velha ditadura

Kim Jong-un controla um país temido por seu arsenal nuclear, enquanto promove shows com Mickey Mouse

Maria Fernanda Seixas
- Foto: KNS
Brasília – O cenário é dos mais excêntricos. Um país sob as regras de uma das ditaduras comunistas mais ferozes da história. Uma população isolada e subnutrida, forçada a viver uma realidade cruelmente fantasiosa. E um novo líder, no auge de seus 20 e poucos anos, ostentando perfil que em nada combina com a dinastia que domina a Coreia do Norte há quase sete décadas.

Kim Jong-un, há sete meses na liderança do país, está casado com uma bela coreana apontada como ex-cantora pop, é fã do ex-jogador de basquete Michael Jordan e adora Mickey Mouse. Sem economizar sorrisos, raros em seu falecido pai, Kim Jong-il, o jovem tem nas mãos um perigoso arsenal nuclear, uma guerra que se arrasta por seis décadas e a população mais brutalizada do mundo, de acordo com a organização Human Rights Watch.

Se em seu país Kim Jong-un foi anunciado como o “pilar espiritual e o farol da esperança”, para o resto do mundo ele é um enigma com perigoso potencial. As especulações sobre o futuro da Coreia do Norte são vagas e pouco se sabe sobre as verdadeiras intenções do novo líder. A única certeza é que, intencionalmente ou não, Kim Jong-un parece flertar com reformas no país.

Ele estudou na Suíça, já visitou a Disney do Japão (ilegalmente, com passaporte brasileiro), teve acesso ao mundo ocidental e, mais que isso, afeiçoou-se a esse universo. Em show realizado em sua homenagem, no início do mês, estava presente o casal Minnie e Mickey Mouse, que protagonizou o evento sem a autorização da Walt Disney Company. O líder e a primeira-dama, Ri Sol-Ju (apelidada de “Kate Middleton do comunismo”), batiam palmas, enquanto os clandestinos ratinhos bailavam junto ao Ursinho Pooh.

“Kim Jong-un tem autoridade absoluta, mas não é um ditador implacável”, afirma o especialista Han S. Park, diretor do Globis Center e professor de relações internacionais da Universidade da Georgia, nos Estados Unidos.

Autoridade O inesperado afastamento do chefe das Forças Armadas, Ri Yong-ho, por supostos motivos de saúde, de acordo com especialistas, indica novo direcionamento político promovido pelo ditador. Também é uma forma de Kim afirmar sua autoridade sobre as Forças Armadas. Comenta-se que ele tem planos para permitir a trabalhadores norte-coreanos, com autorização formal, viajar para a China.

O professor Han S. Park afirma que o panorama deve ser analisado com cautela, pois por trás de Kim há outros agentes políticos de maior influência. “Não devemos esquecer que a Coreia do Norte é um regime comunista. O partido, com seu departamento político ao centro, toma todas as decisões vitais, assim como a China. A política coreana sobre a questão nuclear não mudará enquanto se pensar que a arma nuclear é uma dissuasão contra a invasão estrangeira”, ponderou.
Para o cientista político Heni Ozi Cukier, professor de relações internacionais da Escola Superior de Propaganda e Marketing, ex-consultor de resoluções de conflitos do Conselho de Segurança das Nações Unidas, Kim Jong-un não vai decidir o futuro da nação sozinho. “Ele pode trazer elementos característicos de sua experiência e personalidade, mas ainda não tem o controle político. Vai demorar anos para que obtenha um poder maior. Nem seu pai controlava todas as instâncias do poder”, conclui.