Desde o discurso que pronunciou sobre o Oriente Médio, no ano passado, defendendo um Estado palestino nas fronteiras anteriores à guerra de 1967 – ou seja, incluindo Jerusalém Oriental –, o presidente americano tem sido criticado pela oposição por indispor-se com um aliado histórico. Os EUA, porém, foram essenciais para que não avançasse, no Conselho de Segurança da ONU, o pedido unilateral de reconhecimento como Estado soberano feito pelo presidente da Autoridade Nacional Palestina (ANP), Mahmoud Abbas.
BIPARTIDÁRIO
Com relação a essa e a outras questões, na opinião do professor de relações internacionais Williams Gonçalves, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), a elite política norte-americana mantém um "forte consenso" bipartidário. "A variação de um candidato para o outro se dá mais na ênfase dos discursos, o que, evidentemente, aumenta durante a campanha", avalia.
As similaridades se repetem em diversos outros temas. Em artigo publicado pelo site do Christian Science Monitor, ao qual é ligado, Andrew Milles defendeu que Obama e Romney têm "pequenas diferenças" com relação à Síria, por exemplo. No caso, ambos rejeitam uma intervenção militar, ao estilo do que foi feito na Líbia, e defendem a pressão diplomáticas por meio de sanções. Mas, enquanto a oposição republicana é entusiasta da ideia de armar os opositores sírios, o governo democrata não defende essa opção abertamente, embora seja suspeito de fazê-lo de maneira secreta.
Preocupado em distanciar-se de Obama, Romney radicaliza no discurso. Com relação ao Irã, o desafiante martela na tecla de que é "inaceitável" que o regime islâmico obtenha armas nucleares. Ao comentar declarações de Obama, segundo as quais a opção militar para lidar com o impasse "está sobre a mesa", o republicano disse, durante um debate realizado em fevereiro, como parte da disputa interna pela candidatura, que as opções em relação ao Irã "estão nas nossas mãos".
Na guerra das palavras, porém, Obama sai na frente. Em seus discursos, o presidente exibe como trofeu a execução do maior inimigo dos EUA: Osama bin Laden. Também contam a seu favor a retirada das tropas do Iraque e o início da saída do Afeganistão – duas guerras impopulares, que ajudaram a levá-lo à Casa Branca em 2008. Mas, em geral, na avaliação do professor da UFRJ, pouco mudará na estratégia da Casa Branca nos próximos anos, seja quem for o vencedor na eleição de novembro. "Os norte-americanos consideram que o grande desafio é a China", opina Williams Gonçalves. Para ele, a política externa de Washington concentrará as atenções na Ásia, tratando de conter a influência chinesa e de fortalecer o diálogo com antigos aliados, como Taiwan, Coreia do Sul e Japão. "Essa deverá ser a estratégia, independentemente de partido."