Jornal Estado de Minas

Política externa aproxima Romney e Obama

Apesar do discurso de campanha acirrado e da troca de farpas, posição dos candidatos democrata e republicano à Casa Branca se apoia na manutenção da hegemonia americana

Renata Tranches
Brasília – A primeira viagem internacional do desafiante republicano Mitt Romney, na última semana, trouxe a política externa para o centro das atenções da corrida pela Casa Branca, mas deixou evidente que as diferenças entre ele e o presidente Barack Obama são mínimas nesse tema. As posições de Romney e do democrata Barack Obama (veja infográfico) diferem principalmente na retórica. Mas, segundo analistas e institutos internacionais, a essência das ideias – preservar o papel global dos Estados Unidos como potência hegemônica – é a mesma no programa de ambos os candidatos.
Ao escolher Reino Unido, Israel e Polônia como destinos de sua primeira viagem como aspirante à Presidência, Romney tentou alcançar o público interno com críticas ao adversário relacionadas ao tratamento dispensado aos principais aliados norte-americanos, com especial atenção ao Estado judeu. O candidato prometeu que não faria ataques ao governo dos EUA "em território estrangeiro", mas seus polêmicos comentários, além de provocar um grande mal-estar, pareciam ter como objetivo colocar na berlinda a atual administração. Em um deles, Romney se referiu a Jerusalém como capital de Israel, em contraste com o tratamento oficial das Nações Unidas e do próprio Departamento de Estado – sem falar nos termos em que Obama se pronunciou sobre o assunto. A maioria das embaixadas estrangeiras, inclusive a americana, está em Telavive.

Desde o discurso que pronunciou sobre o Oriente Médio, no ano passado, defendendo um Estado palestino nas fronteiras anteriores à guerra de 1967 – ou seja, incluindo Jerusalém Oriental –, o presidente americano tem sido criticado pela oposição por indispor-se com um aliado histórico. Os EUA, porém, foram essenciais para que não avançasse, no Conselho de Segurança da ONU, o pedido unilateral de reconhecimento como Estado soberano feito pelo presidente da Autoridade Nacional Palestina (ANP), Mahmoud Abbas.

BIPARTIDÁRIO

Com relação a essa e a outras questões, na opinião do professor de relações internacionais Williams Gonçalves, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), a elite política norte-americana mantém um "forte consenso" bipartidário. "A variação de um candidato para o outro se dá mais na ênfase dos discursos, o que, evidentemente, aumenta durante a campanha", avalia.

As similaridades se repetem em diversos outros temas. Em artigo publicado pelo site do Christian Science Monitor, ao qual é ligado, Andrew Milles defendeu que Obama e Romney têm "pequenas diferenças" com relação à Síria, por exemplo. No caso, ambos rejeitam uma intervenção militar, ao estilo do que foi feito na Líbia, e defendem a pressão diplomáticas por meio de sanções. Mas, enquanto a oposição republicana é entusiasta da ideia de armar os opositores sírios, o governo democrata não defende essa opção abertamente, embora seja suspeito de fazê-lo de maneira secreta.

Preocupado em distanciar-se de Obama, Romney radicaliza no discurso. Com relação ao Irã, o desafiante martela na tecla de que é "inaceitável" que o regime islâmico obtenha armas nucleares. Ao comentar declarações de Obama, segundo as quais a opção militar para lidar com o impasse "está sobre a mesa", o republicano disse, durante um debate realizado em fevereiro, como parte da disputa interna pela candidatura, que as opções em relação ao Irã "estão nas nossas mãos".

- Foto: ARTE EMDo discurso à ação, porém, o caminho é longo. "Romney pode falar qualquer coisa, mas não acredito que ele realmente ataque o Irã", pondera o cientista político David Samuels, da Universidade de Minnesota, lembrando o perfil moderado do republicano – tão acentuado que dificultou sua campanha nas primárias do partido. Agora como candidato, a retórica radical tem o intuito de seduzir a ala mais conservadora do eleitorado.

Na guerra das palavras, porém, Obama sai na frente. Em seus discursos, o presidente exibe como trofeu a execução do maior inimigo dos EUA: Osama bin Laden. Também contam a seu favor a retirada das tropas do Iraque e o início da saída do Afeganistão – duas guerras impopulares, que ajudaram a levá-lo à Casa Branca em 2008. Mas, em geral, na avaliação do professor da UFRJ, pouco mudará na estratégia da Casa Branca nos próximos anos, seja quem for o vencedor na eleição de novembro. "Os norte-americanos consideram que o grande desafio é a China", opina Williams Gonçalves. Para ele, a política externa de Washington concentrará as atenções na Ásia, tratando de conter a influência chinesa e de fortalecer o diálogo com antigos aliados, como Taiwan, Coreia do Sul e Japão. "Essa deverá ser a estratégia, independentemente de partido."