A ONU considerou nesta quarta-feira que o governo e, em menor medida, os rebeldes cometeram crimes de guerra na Síria, onde um ataque aéreo devastador deixou mais de 30 mortos em uma cidade próxima a Aleppo (norte).
Segundo o Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH), o ataque realizado por um avião que superou a barreira do som antes de disparar mísseis contra Azaz, cidade rebelde de 70.000 habitantes perto da fronteira turca, deixou ao menos 31 mortos e mais de 200 feridos.
"Muitas pessoas ainda estão presas nos escombros, a situação é horrível", declarou o chefe do OSDH, Rami Abdel Rahman.
A Síria entra no 18º mês de uma revolta, que se militarizou devido à repressão e que causou mais de 23.000 mortes, segundo o OSDH. Os líderes do mundo islâmico devem anunciar no início da noite a suspensão do país da Organização da Conferência Islâmica (OCI).
"Todas estas casas estavam cheias de mulheres e crianças que dormiam por causa do jejum do Ramadã. Até Israel não ousaria fazer algo parecido", denunciou Abu Omar, um engenheiro de 50 anos que mora na área.
"Os mortos são civis e combatentes, mas o que está claro é que era uma base do Exército Sírio Livre" (ESL, que reúne desertores e civis armados), explicou Abdel Rahman.
O ataque provocou pânico na cidade, e centenas de pessoas, principalmente mulheres e crianças, fugiram em direção à fronteira turca, de acordo com o jornalista da AFP.
O ataque também repercutiu no Líbano, pois "feriu gravemente" quatro membros de um grupo de 11 peregrinos xiitas libaneses detidos em maio no norte da Síria.
O anúncio errôneo de suas mortes pelos meios de comunicação libaneses causou caos em áreas xiitas ao sul de Beirute. Homens armados sequestraram vários sírios e vandalizaram suas propriedades, de acordo com a Agência Nacional de Informação (ANI).
Parentes de outros xiitas libaneses detidos na Síria também sequestraram dezenas de sírios para exigir a libertação dos seus.
Manifestantes xiitas bloquearam a estrada que leva ao aeroporto, queimando pneus e um dos homens no local, vestido de preto, dizendo se chamar Mouqdad Ali, disse aos manifestantes: "Não ataquem ninguém, mas se alguém vir um saudita ou alguém do Qatar, por favor, me avise".
Tensões no Líbano O conflito na Síria divide profundamente o Líbano, país de equilíbrio muito frágil, principalmente entre os xiitas, que manifestam sua simpatia pelo regime alauíta - uma ramificação do islamismo xiita - e sunitas, mais inclinados a apoiar os insurgentes.
Os Emirados Árabes Unidos e o Qatar convocaram oficialmente os seus cidadãos a deixar "imediatamente" o Líbano devido ao contexto de tensão relacionado com o conflito na Síria. A Arábia Saudita fez o mesmo, segundo a imprensa libanesa.
Em Genebra, um novo relatório da Comissão de Inquérito da ONU acusou as forças do governo sírio e as milícias shabbiha (pró-regime) de crimes contra a Humanidade, incluindo assassinato e tortura, apesar de reconhecer que o oposição armada também é culpada de crimes de guerra, mas em menor escala.
A Comissão observa uma "deterioração significativa da situação desde 15 de fevereiro", e prepara para setembro "uma lista confidencial de indivíduos e unidades", que poderia servir de base para eventuais acusações no Tribunal Penal Internacional (TPI).
Em visita a Damasco, a responsável pelos assuntos Humanitários da ONU, Valerie Amos, disse que a situação na Síria estava cada vez mais precária e que cerca de 2,5 milhões sírios podem estar em situação de emergência, contra um milhão anunciado no final de março.
Em Damasco, um atentado reivindicado pelo ESL teve como alvo um edifício do Estado-Maior e um tiroteio ocorreu perto do gabinete do primeiro-ministro.
Em Aleppo, onde rebeldes e tropas do governo travam uma guerra aberta há quase um mês, uma nova frente se abriu no bairro Ouwayja (nordeste). Um correspondente da AFP no local mencionou bombardeios aéreos e terrestres na região.
Intensos combates também ocorreram em Salaheddine, onde as autoridades afirmam ter recuperado o controle há alguns dias.
"A estratégia é a de atormentá-los até a exaustão, em vez de conduzir operações de grande escala" nesta cidade onde algumas ruas estão cheias de cadáveres de rebeldes e soldados, segundo uma fonte da segurança.
Em todo o país, a violência deixou nesta quarta-feira pelo menos 156 mortos, incluindo 107 civis, 32 soldados e 17 rebeldes, de acordo com o OSDH.