Esta inquietação reinante foi reforçada com a distribuição em massa de máscaras de gás entre a população, com a verificação do bom funcionamento de um sistema de alerta por SMS e com as especulações sobre o número de vítimas israelenses, "500 mortos", segundo o ministro da Defesa, Ehud Barak, em caso de represálias iranianas. "Há uma histeria orquestrada, com um 'timing' planejado para colocar o país em estado de ansiedade, artificial ou não", criticou o ex-chefe dos serviços de inteligência militar Uri Saguy neste fim de semana no jornal Haaretz.
Segundo Denis Charbit, professor de ciência política na Universidade de Tel Aviv, a recente multiplicação de declarações públicas sobre o Irã tem por objetivo preparar a opinião pública para as consequências de um eventual ataque, e, sobretudo, forçar a administração americana a adotar uma posição mais clara a respeito.
"O recurso do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu e de seu ministro da Defesa a esta diplomacia pública tem por meta obter um compromisso mais claro dos Estados Unidos de que atacará o Irã se o país prosseguir com seu programa nuclear, ou que ao menos autorizará Israel a fazê-lo", declarou à AFP.
"Os dirigentes israelenses consideram muito vagas as declarações da Casa Branca. Ao levantar em público a possibilidade de uma operação militar israelense iminente, querem forçar os norte-americanos a mostrar suas cartas", explica Charbit.
- Pedido de compromisso dos EUA - Em um editorial publicado neste fim de semana no Washington Post, outro ex-chefe dos serviços de inteligência militar, Amos Yadlin, pediu que os Estados Unidos adotem um compromisso mais forte contra o Irã, país que sustenta que seu programa nuclear é puramente civil e que não busca obter a bomba atômica, como acreditam Washington e Israel.
"O presidente norte-americano deveria ir a Israel e dizer aos seus dirigentes (...) que interessa aos Estados Unidos impedir um Irã nuclear e que 'se precisarmos recorrer a uma ação militar, o faremos'", escreveu Yadlin, que mantém um contato regular com Netanyahu e com os principais funcionários da defesa e da segurança israelenses. No entanto, segundo Eytan Gilboa, especialista nas relações entre Israel e Estados Unidos na Universidade de Bar-Ilan, perto de Tel Aviv, a estratégia israelense de pressão pode ser contraproducente.
"A primeira vez (na primavera) funcionou, quando as advertências israelenses levaram a um reforço das sanções internacionais contra o Irã. Netanyahu e Barak pensaram que desta vez também funcionaria, mas, por enquanto, antes da eleição presidencial nos Estados Unidos, é pouco propício, e os vazamentos e declarações na imprensa israelense têm um impacto negativo, porque expõem a profunda falta de confiança e de coordenação entre Israel e Estados Unidos", considera.
O especialista mostra-se, no entanto, otimista sobre um possível encontro entre Netanyahu e Obama no fim de setembro à margem da Assembleia Geral da ONU em Nova York, como sugere a imprensa israelense. Segundo ele, esta reunião pode servir para "restabelecer a confiança entre os dois líderes, a menos que ocorra um acontecimento extraordinário até lá".