O chanceler equatoriano, Ricardo Patiño, garantiu ontem a disposição de seu país de negociar com as autoridades britânicas. "Preferimos continuar com um trabalho de diálogo com a Grã-Bretanha. Recorrer à Corte Internacional de Justiça (CIJ) de Haia é o caminho que nos restaria depois", afirmou à rede de tevê local Gama. "Sabemos que isso leva muito tempo, alguns ambos pelo menos para que esse organismo possa tomar uma decisão."
ALIADO O ministro das Relações Exteriores voltou a pedir que Londres desminta, oficialmente, a ameaça de invasão à representação. Ante esse perigo, o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, fez uma advertência expressa ao Reino Unido. "Haveria respostas muito contundentes caso se atreva a violar a soberania equatoriana da embaixada", disse, em ato transmitido pela TV estatal VTV. "Sugiro ao governo (britânico) que pense muito bem, pois terminaram aqueles tempos nos quais os velhos impérios e os novos faziam conosco o que queriam. O Equador não está só", disparou Chávez. Centenas de equatorianos saíram às ruas de Quito e se concentraram diante do consulado britânico, em Guayaquil, em apoio a Assange.
A postura de Patiño foi elogiada por Christine. "O Equador tomou uma decisão sólida, de princípios, baseada em fatos. Ao contrário da Suécia, do Reino Unido e da Austrália, que são cães de colo dos EUA", disse à reportagem. A mãe de Assange foi pivô, anteontem, de uma polêmica envolvendo um locutor de rádio australiano. John-Michael Howson tentou uma entrevista com Christine, que rebateu: "Não darei a entrevista a você porque se comporta como um porco". Howson respondeu com gritos de "Sieg heil! Sieg heil! Sieg heil!", uma frase nazista. A emissora puniu o funcionário com suspensão.
Especialistas admitem que a permanência de Assange na embaixada pode ser prejudicial aos laços do Reino Unido com a América Latina. Em janeiro passado, o chanceler britânico, William Hague, declarou, em visita ao Rio de Janeiro, que "os dias de nosso distanciamento diplomático" terminaram. Os analistas criticam o desconhecimento de Londres do respeito da região pelo direito ao asilo. Para Michael Ratner, advogado de Assange nos EUA, os britânicos cometeram um grave erro ao ameaçarem invadir a embaixada. "O Reino Unido tratou o Equador como uma colônia vassala. Jamais teria feito tal ameaça contra outra potência, como os Estados Unidos e a China. Agora, está sob forte pressão para dar a Assange o salvo-conduto", comentou por e-mail. Ele acredita que a reunião da OEA, na sexta-feira, obrigará Londres a conceder livre trânsito ao hacker.