Os confrontos entre rebeldes e tropas do governo, que deixaram a Síria em uma caótica guerra civil, têm feito milhares de vítimas e, a cada dia, produzem centenas de refugiados para os países fronteiriços. A Turquia, a Jordânia, o Iraque e o Líbano estão com dificuldade de absorver o fluxo de civis que fogem da violência e pedem ajuda às Nações Unidas. Agora, a violência sectária que começa a ocorrer na Síria já produz tensões e dá sinais de florescer também no Líbano.
A polícia libanesa informou ontem que grupos sunitas e alauitas entraram em confronto em Trípoli, no Norte do país, deixando três mortos e mais de 30 feridos, entre civis e policiais. As ações são reflexo da onda de violência na vizinha Síria, em que os dois grupos disputam o controle do país há 17 meses. Os enfrentamentos recomeçaram por volta das 8h (2h em Brasília), entre os moradores dos bairros de Bab al-Tebaneh, de maioria sunita, e Yabal Mohsen, dominado por alauitas. Os primeiros são aliados dos rebeldes sírios, enquanto os últimos fiéis ao ditador sírio.
Tensão A revolta na Síria exacerba a tensão no Líbano, que viveu 30 anos sob hegemonia síria, e o país se mantém profundamente dividido entre adversários e partidários de Al-Assad, embora as autoridades locais tenham evitado tomar posição frente ao conflito sírio. Desde o início do ano, a região foi palco de confrontos pontuais entre os grupos, que tomaram partido de um dos lados na onda de violência no país vizinho. Os momentos mais violentos foram em fevereiro, com uma ofensiva que durou três dias, e em abril, quando um grupo de peregrinos foi sequestrado por rebeldes sírios. Em represália, o clã xiita Mokdad iniciou campanha de sequestros de cidadãos sírios para conseguir a libertação de um de seus membros, supostamente capturado pelo Exército Livre Sírio.
Em território sírio, tropas do governo retomaram a cidade de Moadamiyeh, controlada pelos insurgentes nos arredores de Damasco, depois de dias de intensos combates, matando dezenas de pessoas, incluídos 23 combatentes. Ativistas disseram que dezenas de corpos foram encontrados em um abrigo na cidade. Em Aleppo, maior cidade da Síria e onde ocorrem combates entre as tropas do Exército e os rebeldes, uma repórter de 45 anos da televisão japonesa que cobre a guerra civil, Mika Yamamoto, foi morta em um tiroteio. Ela foi a primeira jornalista estrangeira a ser morta em Aleppo desde que a guerra civil chegou à cidade do Norte da Síria, há um mês.
Os governos da Rússia e da China alertaram o Ocidente hoje para que não tome qualquer ação unilateral sobre a Síria, afirmando que Rússia e China concordam que violações às leis internacionais e à Carta da Organização das Nações Unidas (ONU) não são permissíveis. As declarações são feitas após o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, ameaçar uma intervenção militar caso o regime sírio use armas químicas durante os confrontos com os rebeldes. O vice-primeiro-ministro da Síria, Qadri Jamil, falando também em Moscou, considerou a ameaça de Obama apenas combustível para mídia.