"Eles sempre apostam na falta de esperança e, ao longo da história americana, perderam essa aposta", afirmou. Obama admitiu, entretanto, que acredita que, apesar de sua reputação de bom orador, não transmitiu adequadamente aos eleitores as conquistas obtidas durante um mandato acossado pela crise econômica. Os republicanos perguntam simplesmente: "O que conseguimos?".
Como consequência, o discurso que pronunciará no grande momento de quinta-feira, em Charlotte (Carolina do Norte, sudeste), será uma oportunidade de ouro para adequar sua mensagem política a dois meses de uma eleição que se anuncia muito incerta.
O principal desafio será refutar a retórica anti-Obama de Romney e de seu companheiro de chapa, Paul Ryan, lançada na semana passada na Flórida. O presidente "precisa neutralizar a mensagem que Romney e Ryan mandaram aos eleitores de que nada foi feito, de que o tempo chegou ao fim e de que Obama decepcionou os americanos", disse Michael Kramer, professor especializado em comunicação presidencial da Universidade St Mary's College (Indiana, norte).
A crítica mais forte de Romney durante a convenção foi que Obama não deu aos americanos o que mais interessa ao povo: prosperidade econômica. "Você sabe que algo está ruim com o que fez como presidente quando a sensação mais agradável que tem é a do dia em que votou nele", disse o candidato republicano.
Ryan seguramente surpreendeu Obama atacando a imagem do presidente, que se apresenta como a personificação da esperança e da mudança. "Os graduados universitários não devem viver até seus 20 anos em seus quartos da infância, olhando para os pôsteres descoloridos de Obama", ironizou.
Obama deve atingir os decepcionados Leila Brammer, professora de Comunicação e Retórica do Gustavus Adolphus College, de Minnesota, disse que essas críticas causam impacto nos eleitores indecisos e que Obama precisa fazer mais do que defender sua administração e falar da economia.
"Precisa realmente encontrar a maneira de comover" as pessoas, disse ela, referindo-se a um presidente que tinha prometido unir uma nação que hoje parece cada vez mais dividida. "A pessoas estão decepcionadas com ele. Não apenas em relação à economia. Também dizem: 'confiávamos nele, era quase uma confiança religiosa, e nos abandonou", afirma Brammer.
Obama tentará recuperar seu carisma na quinta-feira, como fez em 2008, trocando os limites estreitos de uma sala de convenções por um imenso estádio aberto lotado por 70.000 pessoas. Defenderá sua cruzada pelas mudanças, destacando a histórica reforma do sistema de saúde e sua ordem de pôr fim à restrição que obrigava os gays a esconder a sua homossexualidade nas Forças Armadas, a retirada das tropas americanas do Iraque, assim como os golpes desferidos na Al-Qaeda, principalmente com a morte de Osama bin Laden.
Obama reiterará seu apelo pelo aumento dos impostos para os ricos e pela manutenção do sistema de saúde para os idosos, mostrando-se mais sensível à classe média do que o multimilionário Romney. "A mensagem que queremos fazer chegar aos lares é de que este presidente está comprometido por experiência, princípios e de coração a reconstruir uma economia na qual quem trabalha duro possa seguir em frente, na qual a classe média se sinta segura", disse o assessor presidencial David Axelrod.
Para isso, o presidente conta também com o sólido apoio da popular primeira-dama Michelle, que certamente o apresentará como homem e como líder, e do ex-presidente Bill Clinton, lembrado por seus dois mandatos de prosperidade, que também pedirá mais quatro anos para Obama.