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Estado de Minas

Cristina Kirchner está perdendo o encanto na Argentina

No fim do ano passado, a presidente tinha 63% de aprovação, e hoje tem 39%. Opositores afirmam que, em nove anos, o seu patrimônio aumentou em 482%


postado em 03/09/2012 07:30 / atualizado em 03/09/2012 08:08

Brasília – Cristina Fernández de Kirchner se esforça para atrelar a sua imagem à de Evita Perón. A associação com a ex-líder populista mais amada da Argentina coincide com a perda do encanto popular pela atual presidente. Com o prestígio em queda, ela é acusada de concentração do poder, de perseguição à imprensa e de utilização do dinheiro público como arma para capitalizar apoio político. Críticos denunciam uma “chavenização” da Argentina – referência ao presidente da Venezuela, Hugo Chávez, criticado por solapar a oposição e se perpetuar no Palácio de Miraflores. A falta de transparência também estremece a Casa Rosada. Em apenas nove anos, o patrimônio de Cristina Kirchner aumentou em 482%, atingindo o equivalente a US$ 8,6 milhões.

“Este é o governo mais corrupto da história de um país endemicamente corrupto”, afirmou Estado de Minas o publicitário e consultor político argentino Gabriel Dreyfus. “Os únicos que não veem isso são os kirchneristas fanáticos e os que ainda se beneficiam dos ‘planos de ajuda’”, acrescentou. De acordo com ele, os chamados Planos Trabalhar – marca do populismo de Cristina Kirchner – fomentam a vagabundagem e impulsionam o mercado clandestino. Gabriel acusa o Executivo de permitir que a corrupção permeasse todas as esferas do governo. A cientista política Elsa Llenderrozas, professora da Universidad de Buenos Aires, admite que a sociedade tem mostrado alto nível de tolerância, quase sempre ligada à situação econômica. “Quando a economia se deteriora e a crise começa, aumenta a o rechaço dos argentinos quanto à corrupção”, explica.

Elsa admite que a fortuna da presidente se multiplicou de modo alarmante. Os membros de seu gabinete também incrementaram o patrimônio. Se Morocha (Morena, como a presidente é apelidada) viu sua conta bancária mais polpuda, ficou significativamente mais pobre em termos de popularidade. No fim de 2011, ela tinha 63% de prestígio, segundo uma pesquisa da consultoria Management & Fit. Hoje, conta com apenas 39%. A desaprovação ao governo subiu de 29% em outubro do ano passado para 50,4% em junho deste ano. “Isso se deve a vários motivos, como a crescente insegurança; a desatenção em relação aos serviços públicos; os casos de corrupção que atingem o vice-presidente, Amado Boudou; a armadilha cambial e todas as restrições para a compra de moeda estrangeira. Tudo isso somado à negativa do governo a reconhecer a inflação, que já coloca a Argentina no primeiro lugar da América Latina”, comenta a analista.

Para Gabriel Dreyfus, a armadilha do dólar paralisou a indústria e o comércio, gerando mais desemprego. “Não há prestígio que aguente quando o bolso das pessoas começa a doer”, diz. Na última terça-feira, a Justiça decidiu investigar Cristina por supostas irregularidades na restrição a compra e venda de divisas e o uso das reservas para pagar a dívida externa.

Marketing equivocado A estrutura de marketing por trás da figura presidencial revelou-se um fiasco. Em vez de debater abertamente o tema, Cristina Kirchner excluiu-o de suas mensagens cada vez mais frequentes em rede de TV nacional – comportamento semelhante ao do líder venezuelano, Hugo Chávez. Na tentativa de recuperar parte do prestígio, Cristina adotou um estilo de comunicação direta com as pessoas e passou a realizar comícios stand up, marcados pelo coloquialismo. “Ela está se arranhando com a superexposição e desvaloriza a credibilidade de seu próprio discurso. O estilo stand up, com linguagem quase vulgar, frases de duplo sentido e passagens de humor, tem causado reações de assombro, rechaço e incerteza em relação ao seu estado emocional”, avalia Elsa Llenderrozas.


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