Brasília – Cristina Fernández de Kirchner se esforça para atrelar a sua imagem à de Evita Perón. A associação com a ex-líder populista mais amada da Argentina coincide com a perda do encanto popular pela atual presidente. Com o prestígio em queda, ela é acusada de concentração do poder, de perseguição à imprensa e de utilização do dinheiro público como arma para capitalizar apoio político. Críticos denunciam uma “chavenização” da Argentina – referência ao presidente da Venezuela, Hugo Chávez, criticado por solapar a oposição e se perpetuar no Palácio de Miraflores. A falta de transparência também estremece a Casa Rosada. Em apenas nove anos, o patrimônio de Cristina Kirchner aumentou em 482%, atingindo o equivalente a US$ 8,6 milhões.
“Este é o governo mais corrupto da história de um país endemicamente corrupto”, afirmou Estado de Minas o publicitário e consultor político argentino Gabriel Dreyfus. “Os únicos que não veem isso são os kirchneristas fanáticos e os que ainda se beneficiam dos ‘planos de ajuda’”, acrescentou. De acordo com ele, os chamados Planos Trabalhar – marca do populismo de Cristina Kirchner – fomentam a vagabundagem e impulsionam o mercado clandestino. Gabriel acusa o Executivo de permitir que a corrupção permeasse todas as esferas do governo. A cientista política Elsa Llenderrozas, professora da Universidad de Buenos Aires, admite que a sociedade tem mostrado alto nível de tolerância, quase sempre ligada à situação econômica. “Quando a economia se deteriora e a crise começa, aumenta a o rechaço dos argentinos quanto à corrupção”, explica.
Para Gabriel Dreyfus, a armadilha do dólar paralisou a indústria e o comércio, gerando mais desemprego. “Não há prestígio que aguente quando o bolso das pessoas começa a doer”, diz. Na última terça-feira, a Justiça decidiu investigar Cristina por supostas irregularidades na restrição a compra e venda de divisas e o uso das reservas para pagar a dívida externa.
Marketing equivocado A estrutura de marketing por trás da figura presidencial revelou-se um fiasco. Em vez de debater abertamente o tema, Cristina Kirchner excluiu-o de suas mensagens cada vez mais frequentes em rede de TV nacional – comportamento semelhante ao do líder venezuelano, Hugo Chávez. Na tentativa de recuperar parte do prestígio, Cristina adotou um estilo de comunicação direta com as pessoas e passou a realizar comícios stand up, marcados pelo coloquialismo. “Ela está se arranhando com a superexposição e desvaloriza a credibilidade de seu próprio discurso. O estilo stand up, com linguagem quase vulgar, frases de duplo sentido e passagens de humor, tem causado reações de assombro, rechaço e incerteza em relação ao seu estado emocional”, avalia Elsa Llenderrozas.