Jornal Estado de Minas

França proíbe manifestações pró-Islã e protestos prosseguem

AFP
A França, país com a maior população muçulmana na Europa, proibiu uma manifestação prevista para sábado com o lema "Não mexa com meu Profeta", após a publicação de charges que a tornaram alvo, assim como os Estados Unidos, de protestos em vários países islâmicos.
Enquanto isso, os protestos contra estas charges e o filme anti-Islã de produção americana prosseguiram pelo mundo árabe.

Em Teerã, cerca de 200 estudantes protestaram nesta quinta-feira em frente à embaixada francesa e centenas de afegãos saíram às ruas de Cabul, nos dois casos de maneira pacífica, para denunciar o que consideram afrontas a Maomé.

No Paquistão, ao menos 50 pessoas ficaram feridas em Islamabad durante uma manifestação com milhares de pessoas, muitas armadas com paus, e que tentavam entrar no enclave diplomático onde se encontram, entre outras, as embaixadas dos Estados Unidos, França e Reino Unido.

Outro protesto reuniu 4.000 pessoas em Lahore (leste), mas não foram registrados incidentes.

Na Nigéria, milhares de muçulmanos queimaram em Zaria (norte) bandeiras americanas e israelenses e exigiram o julgamento dos produtores do filme.

No Egito, a Irmandade Muçulmana, movimento do presidente Mohamed Mursi, condenou categoricamente a publicação das caricaturas e pediu medidas ao governo francês.

Vários países reforçaram suas medidas de segurança antes da grande oração semanal muçulmana das sextas-feiras, que poderiam ser a ocasião de um aumento da mobilização contra países ocidentais.

O governo paquistanês decretou feriado na sexta-feira em honra a Maomé, expressando sua solidariedade com os muçulmanos que se sentiram ofendidos com o filme.

Já as autoridades tunisianas proibiram qualquer manifestação contra as charges de Maomé, alegando dispor de informações sobre preparativos de atos de violência.

Tensão na França

A publicação na quarta-feira de caricaturas de Maomé na revista satírica Charlie Hebdo provocou temores de um aumento da agitação que se espalhou da África do Norte até a Indonésia, após a difusão na semana passada de trechos do filme "A inocência dos muçulmanos", produzido nos Estados Unidos.

Desde o início dos protestos, mais de 30 pessoas morreram em ataques e manifestações violentas.

Em função disso, na França, as autoridades proibiram uma manifestação convocada para o sábado em frente à Grande Mesquita de Paris.

O governo socialista francês quer evitar que os protestos se multipliquem em seu território, onde vivem de quatro a seis milhões de muçulmanos.

O primeiro-ministro, Jean-Marc Ayrault, já havia anunciado na quarta-feira que as manifestações contra o filme estavam proibidas. "Não há nenhuma razão para permitir que chegue a nosso país conflitos que não dizem respeito à França", declarou.

O secretário geral da ONU, Ban Ki-moon, criticou firmemente o filme anti-islã. A liberdade de expressão é um direito inalienável, mas quando usado "para provocar ou humilhar os valores e crenças de outras pessoas, não pode ser protegido da mesma forma", declarou à imprensa em Nova York.

A Organização da Conferência Islâmica (OCI) convocou uma ação mundial contra a incitação ao ódio.

O secretário geral da OCI, Ekmeleddin Ihsanoglu, pediu aos dirigentes políticos e religiosos a "formar uma frente comum contra os fanáticos e os extremistas envolvidos na desestabilização da paz e da segurança mundial, atiçando a incitação ao ódio religioso".

Várias convocações para manifestações no sábado em Paris e em outras grandes cidades francesas circulam nas redes sociais.

No sábado passado, entre 200 e 250 pessoas, 100 delas foram presas, participaram de um protesto não autorizado perto da embaixada americana em Paris para protestar contra o filme.

A França teme que a questão das caricaturas de Maomé aumente as tensões entre as comunidades.

No mesmo dia da publicação, uma loja de comida kosher, que atende os preceitos da religião judaica, foi atacada em Sarcelles, deixando uma pessoa ferida em um popular bairro do subúrbio parisiense, onde vive uma grande comunidade judaica.

Em Marselha (sul), Omar Djellil, chefe da associação Porte d'Aix, disse à AFP que "os muçulmanos não precisam de nenhuma permissão para defender seus direitos".

O reitor da mesquita de Paris, Dalil Boubakeur, anunciou "a leitura de uma mensagem" de calma durante as orações da sexta.

O renomado intelectual muçulmano Tariq Ramadan desaconselhou manifestações. "Embora nossos corações estejam feridos, a nossa inteligência tem que ter a dignidade de não responder e olhar para o outro lado", disse ele.