Dois cinemas foram incendiados e duas pessoas morreram nesta sexta-feira (21) no Paquistão, no início de um dia de protestos contra um vídeo panfletário produzido nos Estados Unidos que desatou a ira do mundo muçulmano, piorada após a publicação de charges do profeta Maomé na França.
As representações diplomáticas ocidentais nos países muçulmanos reforçaram as medidas de segurança diante do risco de uma nova onda de violência ao fim da oração muçulmana de sexta-feira.
Mais de 30 pessoas morreram nos últimos dez dias nos países islâmicos, em incidentes e atentados motivados principalmente pela divulgação no YouTube de trechos do filme anti-islâmico "A Inocência dos Muçulmanos".
A França decidiu fechar suas embaixadas, consulados, centros culturais e escolas em quase 20 países, pelo temor de ataques após a publicação de charges de Maomé na revista satírica francesa Charlie Hebdo.
Em Peshawar, noroeste do Paquistão, uma multidão incendiou dois cinemas, incluindo uma sala que exibia filmes consideradas obscenos pelos grupos radicais.
O motorista de uma equipe do canal de televisão ARY News morreu e 15 pessoas ficaram feridas nos incidentes. Na cidade de Karachi, a maior do país, um policial morreu e dois ficaram feridos em um tiroteio durante um protesto.
O governo paquistanês decretou feriado nesta sexta-feira, um dia dedicado à honra do profeta dos muçulmanos, para facilitar a participação nas manifestações e demonstrar indignação com o polêmico vídeo.
Mas também decidiu cortar os serviços de telefonia celular durante o dia para dificultar a coordenação de eventuais atentados talibãs ou de fundamentalistas vinculados à rede Al-Qaeda.
As autoridades da Tunísia proibiram qualquer manifestação durante o dia, sob a alegação de estar a par de preparativos de atos de violência.
O governo islamita tunisiano, surgido da Primavera Árabe, teme agora ser alvo do salafismo jihadista, uma corrente extremista com crescente pregação social.
Os salafistas jihadistas "são um perigo", afirmou à AFP Rashed Ghanuchi, principal dirigente do Ennahda, o partido governista, que prometeu combater os extremistas.
Outros incidentes foram registrados na Indonésia, o país com maior número de maometanos do mundo, onde manifestantes queimaram bandeiras dos Estados Unidos, França e Israel em protestos nas cidades de Medan (Sumatra) e Surabaya (Java).
O YouTube restringiu nos últimos dias o acesso ao vídeo "A Inocência dos Muçulmanos" em vários países, incluindo Líbia e Egito, onde começaram os protestos. Outros países, como Paquistão e Sudão, bloquearam por iniciativa própria as imagens.
O vídeo panfletário foi atribuído a extremistas cristãos dos Estados Unidos, mas o presidente iraniano, Mahmud Ahmadinejad, considera uma "conspiração israelense" que pretende "dividir (os muçulmanos) e provocar um conflito sectário".
Nos Estados Unidos, o vídeo permanecerá disponível, após a decisão de um juiz de Los Angeles que recusou o pedido de uma atriz que alegava ter sido enganada pelos produtores do filme.
A publicação das charges do profeta Maomé na revista Charlie Hebdo aumentou a tensão e provocou um amplo debate na França sobre a liberdade de expressão.
A polícia francesa proibiu uma manifestação convocada para sábado diante da Grande Mesquita de Paris sob o lema "Não toque no meu Profeta".