Um tribunal turco condenou nesta sexta-feira 331 oficiais das Forças Armadas, incluídos os ex-comandantes do Exército, Marinha e Aeronáutica, por conspirarem para derrubar o governo em 2003, informaram a televisão estatal e o jornal Hürriyet. Dos 365 acusados no julgamento que durou quase três anos, 34 foram absolvidos. Os três ex-comandantes, bem como outros três oficiais, foram condenados a penas de prisão perpétua, comutadas hoje mesmo para 20 anos de prisão. Na conspiração de 2003, os oficiais tentaram derrubar o governo do partido AK, de raízes islâmicas e até agora no poder. A conspiração foi apelidada de Balyoz (marreta, em turco). O julgamento e as sentenças foram considerados uma derrota política para os militares turcos, que sempre tiveram um papel na defesa do secularismo no país desde 1923, quando foi proclamada a republica.
Em um tribunal nos arredores de Istambul, três juízes sentenciaram nesta sexta-feira o ex-comandante da Força Aérea, Ibrahim Firtina; o ex-comandante da Marinha, Ozden Ornek; e o ex-comandante do Exército, Cetin Dogan, à prisão perpétua. Mais tarde, contudo, as sentenças foram reduzidas para 20 anos de prisão. Os três foram considerados os cérebros da conspiração. Os oficiais deverão apelar das sentenças. O ex-comandante da Escola de Guerra, o general Bilgin Balanli, também foi condenado.
O julgamento dos oficiais - inconcebível há uma década - ajudou a levar o equilíbrio de poder na Turquia para o lado dos civis. Desde a década de 1960, os militares turcos desfecharam três golpes de Estado - o mais violento em 1980. Em 1997, eles forçaram um governo islamita eleito a renunciar. Mas o primeiro-ministro Recep Tayyip Erdogan, ao partido da Justiça e Desenvolvimento (AK), se sentiu mais confiante após chegar ao poder em 2002 e vencer três eleições gerais consecutivas.
No julgamento, que começou em dezembro de 2010 no complexo penitenciário de Silivri, perto de Istambul, os militares foram acusados de terem conspirado em 2003 para derrubar o governo, através de bombardeios a duas das maiores mesquitas de Istambul, um ataque aéreo à Grécia e outros planos para criar a desordem e levar à queda do governo civil. Todos os acusados negaram que houvesse uma conspiração. Segundo eles, o que ocorreu foi a simulação de um cenário político e militar.
"O caso, contudo, registra um número de aparentes inconsistências. Foi alegado que o capitão Ali Türksen salvou um certo documento em seu computador em uma certa data e hora, mas foi revelado que na hora o capitão mergulhava, ao protagonizar um programa para a televisão. 'Como eu poderia salvar um documento no computador enquanto estava mergulhando no mar?', questionou o capitão, que foi acusado'", informou o jornal Hürriyet. Türksen ficou detido durante 18 meses.
Analistas políticos disseram que a decisão poderá prejudicar o moral das Forças Armadas turcas, no momento em que o país enfrenta uma crescente rebelião dos insurgentes curdos no sudeste turco e a instabilidade tomou conta de alguns vizinhos, como da Síria, que atravessa uma guerra civil.