Com a captura de Daniel 'El Loco' Barrera na Venezuela, a Colômbia encerra a época dos grandes senhores das drogas e se prepara para combater organizações de narcotraficantes sem um poder central.
"El Loco' Barrera era o último chefão a dominar uma grande região do país", disse à AFP Christian Voelkel, analista na Colômbia da ONG International Crisis Group.
A queda de Barrera, que antecipa uma disputa entre narcotraficantes por suas rotas de exportação de cocaína através da Venezuela, era um dos homens mais procurados pelas forças de segurança colombianas.
Neste momento "é difícil que um chefão da magnitude de Barrera volte a ser visto" na Colômbia, comemorou o ministro da Defesa, Juan Carlos Pinzón.
Em sua luta contra o narcotráfico nas últimas duas décadas, a Colômbia conseguiu desarticular os hegemônicos cartéis de Medellín, de Pablo Escobar, e de Cali, dos irmãos Rodríguez Orejuela, e capturar depois seus principais herdeiros.
Daniel Barrera era considerado o último dos grandes narcotraficantes dessa geração em liberdade -era provavelmente o mais procurado da América do Sul-, mas seu poder estava longe daquele conquistado por líderes de cartéis mexicanos, como Joaquín 'El Chapo' Guzmán.
Para o pesquisador Ariel Ávila, os narcotraficantes mexicanos poderão agora tentar controlar a saída da droga colombiana a partir da Venezuela, aproveitando a ausência de Barrera, um dos pioneiros na utilização dessa rota para exportar para os mercados de Estados Unidos e Europa, com escalas ma América Central e na África.
A Venezuela já vinha registrando a presença de homens fortes do narcotráfico colombiano nos últimos anos, como 'Valenciano' (do grupo criminoso Los Paisas) e 'Diego Rastrojo' (Los Rastrojos).
"Nestes meses viveremos uma disputa por essa rota. Há vários grupos que podem lutar pelo seu controle. Os mexicanos podem enviar representantes, mas também podem lutar por ela com (o grupo colombiano) Los Urabeños ou com algum comando médio de Barrera", ressaltou à AFP Ávila, que reúne informações para o livro 'La frontera caliente entre Colombia y Venezuela' (2012).
'El Loco' Barrera não se envolvia nesse tipo de confronto porque, ao contrário de seus antecessores, não precisou de um aparato armado ameaçador para se impor em seu reduto de los Llanos Orientales (leste).
A proteção de seus laboratórios e rotas ficava a cargo da facção aliada do ERPAC (Exército Revolucionário Popular Anticomunista da Colômbia), grupo criminoso recentemente dividido e que, assim como Los Urabeños e Los Rastrojos, é proveniente da desmobilização dos paramilitares.
Mas a melhor arma de Barrera era sua habilidade de corromper autoridades da Colômbia e da Venezuela e estabelecer alianças com outros grupos armados, como a guerrilha das Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia).
A guerrilha comunista, atualmente envolvida em um diálogo de paz com o governo, fornecia a Barrera grandes quantidades de folha de coca - matéria-prima da cocaína- colhidas em territórios sob sua influência, indicou Voelkel.
Com Barrera fora de ação, não está claro se algum grupo possui estrutura para assumir a produção de cocaína no sul do país e os contatos para enviá-la ao exterior, indicou uma análise do grupo especializado Novo Arco Íris.
Não faltarão candidatos a se apropriar de uma porcentagem maior deste lucrativo negócio na Colômbia, onde se conseguiu reduzir quase à metade a produção de cocaína nos últimos oito anos, masque ainda assim se mantém entre os níveis mais altos do mundo, com uma estimativa de 345 toneladas no ano passado, segundo a ONU.
No entanto, Voelkel acredita que dificilmente haverá "apenas um sucessor" de Barrera, e que é mais provável que sua estrutura narcotraficante seja atomizada. "Mas o problema segue e não é necessariamente mais fácil combater um negócio fragmentado do que um unificado", disse.