Acabar com o longo conflito armado da Colômbia é a prioridade do governo. "Meu governo tomou a decisão de avançar com prudência, com seriedade, com firmeza e sem repetir os erros do passado, em negociações com a guerrilha", disse Santos na recente Assembleia Geral da ONU em Nova York.
Na quarta vez em que um processo de paz com as Farc é lançado, estas negociações, que serão realizadas em terreno neutro, são anunciadas com melhores perspectivas do que as experiências anteriores, embora não contemplem ainda o fim das hostilidades. Uma primeira coletiva de imprensa está prevista para o dia 17 de outubro. em Oslo.
"A opinião pública, em geral, e os diferentes setores políticos e sociais concordam ao expressar algum otimismo pelo início do processo de paz", comentou à AFP María Clemencia Castro, diretora do Observatório para o desarmamento da Universidade Nacional da Colômbia.
"As guerrilhas assimilaram a impossibilidade da vitória militar e o Estado se mostrou disposto a dar uma saída para o conflito através da solução política", acrescentou.
Desde que assumiu a presidência, em 2010, Santos prepara o terreno para um acordo por meio de diversos mecanismos, entre eles uma lei de restituição de terras e reparação a vítimas, um ponto-chave para as Farc, que surgiram como guerrilha de uma insurreição camponesa nos anos 1960.
Mas, ao mesmo tempo, Santos manteve a pressão militar, o que levou à morte em bombardeios de seus dois principais comandantes, Jorge Briceño, em 2010, e Alfonso Cano, em 2011.
Há uma década, o governo do então presidente Andrés Pastrana rompeu a última tentativa de diálogo com as Farc, acusando a guerrilha de ter aproveitado a desmilitarização de uma região no sul da Colômbia para se fortalecer.
Antes das negociações, Santos havia ordenado que as forças militares defendessem "cada centímetro do território" contra a guerrilha, que registrou uma redução de seus homens de 20.000 para cerca de 9.200 nos últimos quinze anos.
Visão pragmática Timoleón Jiménez, comandante máximo das Farc desde a morte de Cano, promoveu este ano uma mudança de estratégia da guerrilha e anunciou fim do sequestro de civis, uma das principais exigências de Santos antes de empreender um diálogo.
Embora tenha lamentado a falta de um cessar-fogo durante as negociações, Jiménez, também conhecido como Timochenko, expressou sua "grande esperança" de terminar o conflito armado.
"Fazer negociações em meio ao conflito tem o risco permanente de que qualquer ato possa inviabilizar o esforço, mas me parece muito mais pragmático fazê-lo assim", opinou o cientista político Fernando Giraldo. "O governo terá um custo menor caso fracasse", disse.
Levando-se em conta que o conflito seguirá ativo, o governo também foi enfático ao indicar que as negociações devem apresentar resultados em "alguns meses", e não se prolongar durante anos. Mas a decisão de não parar com as operações militares nem com a atividade guerrilheira também carrega riscos.
"Se as comunidades nas zonas de conflito não sentirem que ele está se atenuando e virem, pelo contrário, que a crise humanitária prossegue, então o apoio social ao processo de paz diminuirá de forma sensível com o tempo", considerou Javier Ciurlizza, diretor regional do instituto de análises de conflitos Crisis Group.
"Isto dará razões para a oposição política ao processo de paz atacá-lo e questionar o mero fato de negociar", destacou.
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As autoridades também deverão encontrar uma solução para a participação política dos guerrilheiros que se pacificarem e opções para a suspensão das penas de prisão.
Segundo uma pesquisa recente, mais de dois terços dos colombianos mostram-se favoráveis à solução de um conflito que deixou centenas de milhares de vítimas e que todos os anos consome dois pontos do Produto Interno Bruto.
"Quem na Colômbia não vai querer a paz? Acredito que o ambiente agora é como o de reconciliação. Acredito que pode acontecer algo importante na Colômbia", disse à AFP Girolly Guttierez, um vendedor ambulante de 34 anos.