A divulgação de um relatório da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre a situação da guerra civil no Nordeste da República Democrática do Congo provocou um alvoroço político na região central da África. No documento, de 44 páginas, a entidade acusa formalmente os governos de Ruanda e de Uganda de apoiarem os rebeldes do grupo paramilitar M23.
O grupo M23, liderado pelo general Bosco Ntaganda, desertor do Exército congolês, que luta pela saída e desestabilização do governo do presidente Joseph Kabila. O M23 estaria a serviço dos governos vizinhos, recebendo armas e até tropas de reforço para suas ofensivas. Bosco Ntaganda, conhecido como O Exterminador, é procurado internacionalmente por crimes de guerra, como genocídios e pilhagens (crime de tomar ou destruir propriedade privada durante uma ocupação militar, sem necessidade do ato).
Os tutsis, atualmente no poder em Ruanda, teriam recebido de Bosco Ntaganda a promessa de eliminar a população hutu do nordeste da República Democrática do Congo. O governo de Uganda participaria com o envio de homens treinados do Exército e armamentos.
Em encontro com jornalistas, o vice-ministro das Relações Exteriores de Uganda, Henry Okello Oryem, negou as acusações. O chanceler ugandense criticou o relatório das Nações Unidas, referindo-se ao documento como “lixo”. Já o presidente de Ruanda, Paul Kagame, minimizou as denúncias. “Os problemas do Congo já existiam desde muito antes de eu nascer”, disse.
No entanto, o documento da ONU acusa o ministro da Defesa de Ruanda, James Kabarebe, de instruir pessoalmente os guerrilheiros do M23, além de financiá-los com dinheiro público. Quando tinha 25 anos, Kabarebe foi um dos líderes da reação dos tutsis diante dos ataques dos hutus, em 1994, no episódio que ficou conhecido como Genocídio de Ruanda. Na época, 500 mil pessoas morreram.