A organização de ativistas Avaaz denunciou que as forças do governo do presidente Bashar al-Assad têm praticado sequestros de opositores e são responsáveis pelo desaparecimento de pelo menos 28 mil pessoas na Síria. O grupo acredita que são casos de "desaparecimento forçado", configurado quando o Estado abduz pessoas. O Avaaz utilizou depoimentos de advogados que lutam pelos direitos humanos e de famílias das pessoas desaparecidas para fundamentar seu anúncio. De acordo com o grupo, forças de seguranças vão às ruas do país para espalhar terror, capturando pessoas e levando-as para serem torturadas. “Os sírios estão sendo tirados das ruas pelas forças de segurança nacional e os paramilitares estão desaparecendo nas celas de tortura”, disse a diretora do Avaaz, Alice Jay. O desaparecimento forçado é considerado crime contra a humanidade, de acordo com lei internacional.
O Avaaz diz ter o nome de 18 mil desaparecidos e ter ciência de outros 10 mil casos. “É um método de intimidação. Não saber onde seu marido ou seu filho está, ou se ele está vivo, alimenta o medo e ajuda a silenciar os insurgentes.” Anteriormente, outros grupos de direitos humanos acusaram os rebeldes da Síria de se utilizarem da mesma prática, raptando pessoas favoráveis ao regime de Al-Assad.
Um vídeo que acompanha a declaração do Avaaz mostra dois soldados parando um homem e uma mulher, forçando-os ao chão e arrastando-os para longe. O filme exibe também uma entrevista com um homem dizendo que sua esposa havia sido sequestrada há seis meses no distrito de Baba Amr, de Homs, que foi parcialmente atingido por bombardeios do governo. Uma organização síria de direitos humanos relatou que até 80 mil pessoas desapareceram, acrescentou o Avaaz, uma rede que auxilia ativistas da oposição na Síria juntamente com outras causas em todo o mundo. Os dados não puderam ser verificados de forma independente. O Avaaz disse que entregará a relação dos raptos ao Conselho de Direitos Humanos da ONU, porque, segundo o grupo, o número de desaparecimentos indica que há uma relação entre todos eles.
Crianças Os combates entre rebeldes e forças leais ao regime continuam intensos em várias regiões do país. Uma série de ataques aéreos realizados pelo governo matou pelo menos 44 pessoas no Norte do país. Os bombardeios ocorreram na madrugada e manhã de ontem, atingindo cinco cidades nas províncias de Aleppo e Idlib. Vídeos com imagens fortes foram feitos por moradores e ativistas na cidade de Maaret al-Numan, que foi bastante bombardeada.
As bombas da força aérea destruíram dois edifícios residenciais e uma mesquita, onde muitas mulheres e crianças se refugiavam. Os socorristas informaram a retirada de 44 corpos dos escombros. “Retiramos no total 44 mortos dos escombros, entre eles muitas crianças", afirmou um deles. Na periferia de Maaret al-Nooman, os rebeldes anunciaram um ataque final contra a base de Wadi Deif, cercada por eles há vários dias. Cerca de 250 soldados estão entrincheirados na base que abriga uma importante quantidade de material militar e munições, além de controlar um caminhão que abastece Aleppo com combustível, segundo os insurgentes.
A escalada da violência ocorre na véspera da chegada em Damasco do emissário da ONU e da Liga Árabe, Lakhdar Brahimi, que aposta em um acordo de cessar-fogo durante a festa muçulmana de Eid al-Adha, após a recepção favorável do poder e da oposição da proposta. A uma semana dessa festa muçulmana, que acontece do dia 26 ao 28 de outubro, as forças do regime intensificaram os ataques contra redutos rebeldes no Norte. Apenas ontem, 162 pessoas morreram no país (84 civis, incluindo 13 crianças e nove mulheres, 57 soldados, 21 rebeldes), segundo o Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH).
A oposição disse estar pronta para aceitar uma trégua, desde que o regime implemente o cessar-fogo primeiro. No entanto, analistas duvidam da eficácia dessa trégua, devido à complexidade do conflito e das divergências internacionais sobre uma solução. “Uma trégua temporária é possível, mas ela não teria importância estratégica nem caráter permanente”, declarou Paul Salem, diretor do Centro Carnegie para o Oriente Médio. A alta comissária da ONU para os direitos humanos, Navi Pillay, pediu que o Conselho de Segurança das Nações Unidas "fale a uma só voz", citando uma "situação simplesmente desesperada".