O presidente Barack Obama e o candidato republicano Mitt Romney discutiram nesta segunda-feira, em seu último debate da campanha à presidência, sobre política externa e defesa, base para um verdadeiro duelo sobre economia, a questão fundamental para as eleições de 6 de novembro nos Estados Unidos.
Durante o debate, o democrata questionou as propostas de política externa do rival, enquanto o republicano optou por reintroduzir com êxito na discussão o futuro econômico dos Estados Unidos.
Em 90 minutos, os candidatos falaram sobre temas como o Irã, a ameaça da Al-Qaeda ou a crise na Síria. Obama e Romney tentaram estabelecer uma diferença que ajude a desempatar as pesquisas, que mostra a disputa pela Casa Branca muito parelha.
O ex-governador Romney atribuiu a Obama uma política externa fraca, mas evitou propor o envio de tropas para resolver os desafios dos Estados Unidos no mundo, ante uma guerra que ainda precisa de solução no Afeganistão.
No debate na Universidade de Lynn, em Boca Raton (Flórida), Obama começou acusando seu adversário republicano Mitt Romney de se equivocar em todas as suas decisões sobre política externa, em particular sobre o Iraque: "cada vez que você opinou, se equivocou".
Romney respondeu que os Estados Unidos não conseguirão acabar com a ameaça terrorista e a Al-Qaeda "apenas matando" os extremistas: "felicito o senhor (Obama) por ter eliminado Osama Bin Laden e por perseguir os líderes da Al-Qaeda, mas não sairemos disto apenas matando".
Obama declarou estar feliz pelo fato de Romney reconhecer a Al-Qaeda como uma ameaça e alfinetou: "Há alguns meses o senhor disse que a maior ameaça aos Estados Unidos era a Rússia. O senhor não quer duplicar o que aconteceu no Iraque, mas já disse que quer colocar mais soldados no Iraque. O senhor foi contra os tratados nucleares com os russos. O senhor envia mensagens confusas. Precisamos de uma liderança forte e firme no Oriente Médio, ao contrário do que o senhor faz com suas declarações".
"Quando se trata de política externa, o senhor parece querer voltar às políticas dos anos 1980, às políticas sociais dos anos 1950 e às políticas econômicas dos anos 1920", disse o presidente.
Romney respondeu afirmando que a Rússia é sim um inimigo geopolítico: "o Irã é a maior ameaça a nossa segurança nacional e os russos apóiam os iranianos".
O republicano abriu o primeiro atalho no debate para atacar o desempenho econômico do governo Obama ao afirmar que um país com a economia debilitada não pode desempenhar um papel de hegemonia e liderança no mundo, e defendeu a ampliação das relações comerciais com a América Latina, cuja economia é quase tão grande como a da China.
O volume comercial dos Estados Unidos "cresce 12% ao ano, se duplica a cada cinco anos, mas podemos fazer melhor, particularmente na América Latina".
"As oportunidades para nós na América Latina simplesmente não estão sendo aproveitadas. De fato, a economia da América Latina é quase tão grande como a da China. A América Latina é a grande oportunidade".
Sobre o polêmico programa nuclear do Irã, apontado como uma fachada para obter a bomba atômica, Obama prometeu que "enquanto eu for presidente dos Estados Unidos, Teerã não conseguirá uma arma nuclear".
Em seguida, o presidente desmentiu qualquer negociação direta de seu governo com Teerã sobre o programa nuclear, como informou no sábado o jornal The New York Times. "São informações de jornal e não são certas".
Obama advertiu ainda que o "relógio está andando" e que "não vamos permitir ao Irã que nos envolvam em negociações que não levem a lugar nenhum". "O relógio está andando e vamos fazer o que for necessário", advertiu.
Romney rebateu afirmando que Obama prometeu reunir todos os líderes do mundo em busca de apoio para resolver a crise iraniana, incluindo o venezuelano Hugo Chávez, e que isto foi visto como fraqueza. "Dez mil centrífugas preparando urânio é inaceitável para nós. O presidente deve mostrar o que é ou não é aceitável, apresentar as sanções mais rígidas possíveis, exercer pressão sobre eles para poder evitar uma ação militar".
Sobre sua posição diante de um eventual ataque a Israel, Obama e Romney concordaram que apoiarão o Estado hebreu de todas as formas, inclusive militarmente.
"Se Israel for atacada os Estados Unidos vão ficar do lado de Israel. Montamos a maior cooperação militar e de inteligência da história de Israel (...) e enquanto eu for presidente dos Estados Unidos, o Irã não vai obter uma arma nuclear" para ameaçar o Estado Hebreu.
"Israel é um verdadeiro amigo e nosso melhor aliado na região", acrescentou Obama.
Romney garantiu que "ficaremos ao lado de Israel" contra o Irã, "inclusive militarmente, mas nossa missão é dissuadir os iranianos através de meios diplomáticos e de sanções mais rígidas, absolutamente fundamentais", como o fechamento dos portos aos petroleiros iranianos e um maior isolamento de Teerã.
"Devemos apoiar nossos aliados", disse o republicano, antes de criticar a maneira como Obama reagiu às manifestações da oposição e à violência no Irã após as eleições de 2009.
"O silêncio do presidente foi um enorme erro. Devemos defender nossos princípios, defender nossos aliados, promover um Exército e uma economia mais fortes".
Retomando a questão econômica, Romney prometeu investir mais nas Forças Armadas com o excedente que obterá com os cortes de gastos, que permitirão equilibrar o orçamento em 8 a 10 anos.
Obama reagiu afirmando que as contas de Romney não fecham: "ele quer gastar 5 trilhões de dólares com os militares e reduzir o déficit, esta matemática não bate".
Sobre a acusação de reduzir o número de aviões e navios das Forças Armadas, Obama ridicularizou Romney ao acusá-lo de pensar em termos de "cavalos e baionetas".
"O governador Romney não passou tempo suficiente estudando como funcionam nossas Forças Armadas (...). Governador, também temos menos cavalos e baionetas hoje porque a natureza de nossas forças mudou. Agora temos coisas que se chama porta-aviões e estes navios que navegam sob o mar, os submarinos nucleares", ironizou Obama.
Sobre o Oriente Médio, Romney acusou o governo Obama de não aproveitar a mudança total no ambiente provocada pela "Primavera Árabe", permitindo eventos perturbadores na Líbia, como o ataque terrorista ao consulado em Benghazi, o domínio de parte do Mali por elementos ligados à Al-Qaeda e o avanço da Irmandade Muçulmana no Egito.
"Nossa estratégia é bastante direta: sair atrás dos bandidos, permitir que os muçulmanos possam rejeitar estes radicais por contra própria, ajudar o mundo muçulmano com investimentos, educação, leis, promover a sociedade civil e pegar os bandidos", disse o republicano.
Obama rebateu afirmando que conseguiu formar uma coalizão na Líbia, derrubar um ditador (Muammar Kadhafi) e fazer dos líbios "nossos aliados" sem colocar tropas americanas no terreno. "Na Líbia, nossa primeira preocupação foi a segurança, mas vamos fazer justiça", prometeu sobre a morte do embaixador Chris Stevens e de outros três funcionários americanos.
Sobre a crise síria, Obama destacou que seu governo mobilizou a comunidade internacional e "estamos ajudando a oposição a se organizar com o auxílio de nossos parceiros na região". "Mas é preciso saber que entrar militarmente na Síria é um passo perigoso, e que entregar armas pesadas, que podem cair em mãos erradas, é algo perigoso".
Romney respondeu dizendo que a Síria enfrenta uma tragédia que já deixou 30 mil mortos, em um importante país da região, e que o governo americano tem o dever de garantir que as armas sejam entregues "às pessoas certas". "Precisamos do relacionamento e da amizade para ter um amigo no futuro".
Ao analisar a campanha militar no Afeganistão, Obama lembrou que nos últimos quatro anos "fizemos progressos reais saindo de duas guerras e de políticas econômias equivocadas", em referência ao governo do republicano George W. Bush.
Retomando a questão econômica, o presidente foi direto: "quero trazer empregos de volta para este nosso país, ter a melhor política educacional do mundo, controlar nossas fontes de energia, reduzir nosso déficit cortando gastos, mas também pedindo que os que ganham mais contribuam mais para que possamos investir em tecnologia".
Romney reagiu afirmando que é preciso haver uma liderança verdadeira para promover a paz e a segurança, garantir o progresso da economia e equilibrar o orçamento, após quatro anos de governo que deixaram 20 trilhões de dólares em dívida.
O candidato republicano retomou a promessa de criar 12 milhões de empregos e afirmou que trabalhará com os dois lados em Washington, em referência aos "bons democratas", para promover as oportunidades e reafirmar os Estados Unidos como a grande esperança do mundo.