Jornal Estado de Minas

Exército e rebeldes na Síria anunciam trégua para o Eid Al-Adha

AFP
Negociadores usaram a trégua proposta por Lakdhar Brahimi para negociar com o governo sírio - Foto: AFP PHOTO / KHALED DESOUKI O regime e os rebeldes na Síria aceitaram nesta quinta-feira suspender temporariamente as operações militares a partir de sexta-feira durante a festa muçulmana do Eid al-Adha, mas o sucesso deste cessar-fogo, aparentemente negociado pelo mediador da ONU, parece incerto. Os rebeldes, que já haviam recebido positivamente a trégua proposta por Lakdhar Brahimi, asseguraram que têm "o direito de responder" a ataques das tropas do regime. O Exército sírio também anunciou seu consentimento formal à trégua para a festa muçulmana do sacrifício, da sexta-feira de manhã até segunda-feira, mas também se reserva o direito de responder em caso de ataques a civis e às forças governamentais ou de ataques contra bens públicos e privados. Mas a Frente Al-Nusra, um grupo islamita que reivindicou atentados contra o regime, rejeitou a trégua. Se este cessar-fogo for efetivamente estabelecido, será o primeiro a ser respeitado na Síria, mergulhada desde meados de março 2011 em uma revolta popular que se tornou um conflito armado devido à repressão. No dia 12 de abril, um cessar-fogo proclamado por iniciativa de Kofi Annan, antecessor de Brahimi, havia sido aceito pelas duas partes em conflito. Mas o acordo durou apenas algumas horas, mesmo que os combates tenham perdido intensidade por algum tempo. "Viemos para passar o Eid com vocês" No terreno, os rebeldes aumentaram o controle sobre Aleppo, a segunda maior cidade da Síria que vive intensos combates há mais de três meses. De acordo com moradores de Achrafiyé, bairro de maioria curda no norte de Aleppo, cerca de 200 rebeldes penetraram nesta quinta-feira no início da manhã no norte desta área, que vinha sendo poupada dos combates e onde vivem muitos refugiados. Devido a um acordo tácito, nem os rebeldes nem o Exército tinham entrado até o momento em Cheikh Maqsoud e em Achrafiyé, bairros controlados pelas forças curdas. "Franco-atiradores entraram nos prédios e cerca de cinquenta homens armados, vestidos de preto e usando na cabeça faixas com lemas islâmicos, ocuparam uma escola", relatou um habitante. "Eu ouvi alguns deles dizerem aos moradores: 'Viemos para passar o Eid com vocês'", acrescentou. O Eid al-Adha é uma das festas mais sagradas dos muçulmanos. Aos embaixadores dos 15 países membros do Conselho de Segurança, o emissário da Liga Árabe e da ONU ressaltou que o cessar-fogo, caso seja respeitado, será um "pequeno passo" para uma possível abertura de um diálogo político e para um melhor acesso humanitário. Mas, após 19 meses de um conflito que já causou a morte de mais de 35.000 pessoas, segundo uma ONG síria, a desconfiança entre os dois lados é tanta que Brahimi declarou que "não pode garantir que a trégua será bem-sucedida", de acordo com um diplomata. O cessar-fogo, de qualquer maneira, traria um pouco de descanso para uma população que sofre constantemente com a violência. O Alto Comissariado da ONU para Refugiados (Acnur) afirmou que está pronto, em caso de trégua, para enviar ajuda a milhares de famílias em locais até o momento inacessíveis. "Apenas sobrevivemos" "Nós apenas sobrevivemos. Eu pedi dinheiro emprestado para o meu irmão só para comer. As escolas estão fechadas em Aleppo e as crianças ficam em casa durante todo o dia. Eu nem deixo que elas comprem doces de tanto medo", disse à AFP uma mãe de 36 anos. Na província de Damasco, o Exército, que tenta ganhar terreno, bombardeou Harasta e seus arredores, enquanto combates foram travados no sul da capital. Duzentos quilômetros a leste de Aleppo, os rebeldes tomaram ao amanhecer o controle de um posto do Exército que estava cercado há dias em Raqa. Os combatentes mataram três soldados e recuperaram armas e um tanque, segundo o Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH). Na mesma província, um padre que negociava a libertação de um médico cristão foi encontrado enforcado, segundo moradores e o patriarca ortodoxo. Enquanto isso, a Rússia, forte aliada de Damasco, acusou os Estados Unidos de coordenarem e garantirem apoio logístico para a entrega de armas aos rebeldes sírios, apesar de Washington assegurar que não fornece nenhum tipo de ajuda militar à rebelião síria. "Os Estados Unidos asseguram a coordenação e o apoio logístico" das entregas de armas para "grupos armados ilegais", declarou a diplomacia russa em um comunicado. A nova comissária da ONU, Carla del Ponte, integrante da Comissão de Investigação sobre violações dos direitos humanos na Síria, declarou que deseja identificar as autoridades responsáveis pelos crimes contra a Humanidade e por crimes de guerra cometidos neste país, enquanto a comissão ainda espera ser recebida por Damasco.