Jornal Estado de Minas

Eleições nos EUA

As posições dos dois concorrentes à Casa Branca sinalizam o rumo que o país vai seguir

Saiba o que pensam Barack Obama e Mitt Romney sobte economia, saúde, imigração e política externa

Renata Tranches
Entre eventos de campanha, planos de governo, discursos e debates, o presidente dos Estados Unidos, o democrata Barack Obama, que briga pela reeleição, e seu adversário, o republicano Mitt Romney, posicionaram-se sobre diversos temas que sinalizam como serão as tomadas de decisão nos próximos quatro anos na Casa Branca, dependendo do inquilino. No centro da campanha presidencial, a economia dominou as atenções.
A principal divergência entre o Partido Republicano (que tem o elefante como mascote) e o Partido Democrata (simbolizado pelo burro) está na participação do governo na área econômica. Enquanto democratas defenderam o papel estatal como fundamental para o fortalecimento da economia norte-americana, republicanos viram aí um problema e se mostraram contrários à ideia.

Depois da economia, o tema que mais inflamou a campanha foi a saúde. Os candidatos demonstraram visões extremamente opostas em como lidar com o assunto. Obama se baseou na proposta apresentada por ele e aprovada em 2010, conhecida como o Ato do Cuidado Acessível. A reforma passou a ser chamada pelos republicanos de ‘Obamacare’ e usada pelos conservadores do partido como o maior símbolo de tudo que acreditam estar errado com a Presidência democrata. Em junho deste ano, a Suprema Corte confirmou parte essencial da lei de saúde de Obama, que obriga as pessoas a adquirirem um plano de saúde. Romney prometeu aboli-la se for eleito.

BARACK OBAMA
- Foto: AFP PHOTO/Jewel Samad Prometeu investir bilhões de dólares provenientes de impostos para tentar reduzir a taxa de desemprego. Entre as propostas apresentadas estão a oferta de crédito em impostos para as companhias que mais empregarem e o incentivo às indústrias que mantiverem as contratações no país. O presidente propôs tornar trabalhadores norte-americanos mais competitivos — com treinamentos em centros integrados entre faculdades e empresas, sob o apoio do governo. A proposta, segundo ele, abriria 1 milhão de vagas no setor industrial em quatro anos. Sobre o déficit nacional que passa dos US$ 16 trilhões, o presidente anunciou um plano que, segundo ele, reduziria a dívida em US$ 5,3 trilhões em uma década.

Com o Ato do Cuidado Acessível aprovado em 2010, apesar da oposição republicana, o presidente prometeu implementar o plano com a ajuda dos estados, em um eventual segundo mandato. Uma sentença da Suprema Corte de junho deste ano avalizou o programa, mas decidiu que Washington não pode penalizar os governos estaduais por se recusarem a expandir os programas Medicaid e Medicare (sobre os quais rege o ato). Vários governadores já se manifestaram contrário à expansão. Os republicanos, que chamam a lei de Obamacare, dizem que ela obriga os americanos a contratarem um seguro-saúde sob risco de punição. A Corte entendeu que não se trata de multa, mas de impostos, os encargos atribuídos a ela.

Promessa de campanha em 2008, a reforma imigratória não foi implementada durante seu governo. Em junho, ele anunciou a diretiva que suspendeu a deportação de jovens imigrantes sem documentos, com menos de 30 anos, que tenham se graduado no ensino médio ou prestado serviço militar nos EUA. Reconheceu que o sistema de imigração no país está "quebrado" e prometeu medidas para uma política "mais justa". Disse que procurará trabalhar com o Congresso por uma reforma da imigração mais ampla e pela aprovação do Dream Act — um projeto bipartidário que prevê a legalização de jovens imigrantes graduados ou que tenham servido às forças armadas norte-americanas.

Área em que apresentou algumas das principais promessas cumpridas, o presidente se vangloriou de ter encerrado a Guerra do Iraque, iniciado a retirada das tropas do Afeganistão e matado o principal terrorista da última década, Osama bin Laden. Ele se opôs ao modelo unilateral de seu predecessor George W. Bush e buscou uma aproximação com outros países e com organismos multilaterais. Este ano, definiu a nova estratégia militar do país e assinalou que o foco seria a presença na região da Ásia-Pacífico. O presidente defendeu a saída do ditador sírio, Bashar al-Assad, mas sem o envolvimento militar dos EUA. Com as atrocidades aumentando na Síria, Obama passou a enfrentar críticas crescentes, especialmente da direita americana, por não tomar atitude. Não apresentou uma política específica para a América Latina ou o Brasil, tema que passou praticamente despercebido durante
sua campanha.

O presidente manifestou forte apoio ao direito do aborto nos últimos anos. Em 2008, disse que se oporia a qualquer proposta de emenda constitucional com o objetivo de derrubar a decisão da Suprema Corte, conhecida como o caso "Roe contra Wade", que legalizaria o aborto na maioria dos casos. O site de sua campanha afirma que ele está comprometido a "manter limites estritos" ao financiamento federal para o aborto. Em seu governo, uma decisão do Departamento de Saúde passou a obrigar instituições religiosas a oferecerem meios de controle de natalidade a funcionárias, despertando muitas críticas.

Em maio, pela primeira vez, declarou-se abertamente a favor do casamento entre pessoas do mesmo sexo. Com seu posicionamento, sua administração estabeleceu que não defenderia a constitucionalidade da Lei de Defesa do Casamento (que considera legal apenas a união entre homem e mulher). Seu governo estabeleceu que o Ato de Licença Médico-Familiar valeria para todos os trabalhadores, inclusive homossexuais.


MITT ROMNEY
- Foto: Justin Sullivan/Getty Images/AFPExperiente homem de negócios, disse querer diminuir os impostos e a regulação para tornar o setor privado mais flexível para investir e contratar. Afirmou ser contrário ao uso de dinheiro de arrecadação para estimular contratações. Prometeu reduzir as taxas individuais de impostos a 20% e buscar compensações para a perda da receita federal, eliminando deduções. Mas foi criticado por não especificar como seriam esses abatimentos. O republicano afirmou que suas políticas — baseadas em um plano de cinco pontos — poderiam criar 12 milhões de novos empregos em quatro anos. Ele propôs baixar, em um ano, os gastos federais de 24% para 20% de toda a atividade econômica do país, e reduzir o funcionalismo público federal em 10%. Apesar de não especificar em quanto diminuiria o déficit do país, prometeu que o ajustaria em uma década ou menos.

O candidato se opôs ao Ato do Cuidado Acessível e prometeu removê-lo caso seja eleito. Defendeu que cada estado deve criar sua própria política para os que não têm um seguro-saúde. O programa criado por ele enquanto ainda governava o estado de Massachusetts (2003 – 2007), porém, foi uma das principais inspirações do projeto democrata. Uma das propostas do republicano em um eventual governo é fornecer incentivos fiscais às pessoas que comprarem a cobertura privada de saúde por conta própria. Romney defendeu a elevação gradual da idade para o recebimento de benefícios dos programas de assistência pública (Medicare e Medicaid) e da previdência (social security).

Anunciou planos de incentivo à imigração legal de "talentos" ao país e de concessão de vistos de trabalho temporário para o setor agrícola e outros de demandas sazonais. Disser ter como meta a contenção da imigração ilegal e uma de suas principais estratégias para isso seria reforçar as fronteiras norte-americanas com "cercas de alta tecnologia". Anunciou a criação de um sistema de verificação obrigatório para garantir que somente imigrantes legais sejam contratados no mercado de trabalho americano. Defendeu que jovens imigrantes ilegais levados ao país ainda quando crianças possam receber permissão de residência, e "eventualmente cidadania", se prestarem serviço militar do país.

Criticou o presidente por ter "falhado" na liderança de temas internacionais — como o conflito entre palestinos e israelenses, as ambições nucleares do Irã e a Síria. Apesar das censuras, suas propostas se mostraram pouco diferentes das de Obama. Com relação à Síria, ele defendeu armar rebeldes da oposição, mas não falou em envolvimento militar dos EUA no conflito. Acusou o presidente de negligenciar o maior aliado americano no Oriente Médio, Israel, e apontou a Rússia como a "principal ameaça geopolítica" aos EUA. No último debate entre os candidatos, porém, disse que a grande ameaça aos americanos seria, na verdade, a rede terrorista Al-Qaeda. Romney expressou apoio à transição democrática no Oriente Médio, mas alertou que grupos extremistas apoiados pelo Irã estariam tentando tirar vantagem dos protestos. Com relação à América Latina e ao Brasil, também não mostrou uma política específica, mas o candidato disse ver na região um potencial econômico alternativo à China.

Seus assessores o descrevem como "pró-vida" . Ele afirmou que poderia apoiar medidas para alterar a decisão do caso "Roe contra Wade" e que a legislação sobre abortos deveria ser mantida nos níveis estaduais. Em 2011, no entanto, se recusou a endossar uma dura medida contra aborto proposta por uma organização conservadora dos EUA.

Ao contrário de Obama, afirmou que apoiará uma emenda constitucional para definir o casamento como uma união entre um homem e uma mulher. Na campanha, endureceu sua retórica contra relacionamentos homossexuais, dizendo ser contrário a casamentos e uniões civis. Por outro lado, o ex-governador de Massachusetts nunca se opôs a nenhum benefício a casais de mesmo sexo.