Renata Tranches
Brasília – Os líderes do Mercosul, reunidos ontem em Brasília, assinaram o protocolo de adesão da Bolívia e abriram as portas para a inclusão do sexto membro do bloco sul-americano. O documento é o passo inicial para que a Bolívia (associada do organismo) seja a segunda nação incorporada desde sua criação, em 1991. Em agosto deste ano, a Venezuela passou a integrar o grupo, na condição de quinto membro pleno. O Mercosul tem como sócios fundadores o Brasil, a Argentina, o Uruguai e o Paraguai – este último suspenso há cinco meses, depois da destituição relâmpago do presidente Fernando Lugo.
Realizada no Palácio do Itamaraty, a cúpula dos chefes de Estado do Mercosul foi a última sob a presidência pró-tempore do Brasil, transmitida ao Uruguai. Durante a reunião, os líderes defenderam a ampliação do bloco, a fim de fortalecê-lo. "A América Latina pode fazer muita diferença. Nossas políticas são um exemplo de sucesso", disse a presidente Dilma Rousseff, ao discursar na abertura da cúpula. Por sua vez, a presidente da Argentina, Cristina Kirchner, defendeu o diálogo com a União Europeia (UE), que se arrasta há anos, mas ponderou que ele ocorra de "igual para igual". "Estamos cansados de que nos tratem como protecionistas."
Dilma também deu boas vindas à Bolívia e afirmou que sua entrada "fortalece o Mercosul". A Bolívia "queimou etapas" internas, como sondagem e consultas informais, e partiu direto para o pedido de adesão, como explicaram fontes do Itamaraty. Sua entrada agora precisa ser votada por todos os Parlamentos do Mercosul, inclusive do Paraguai, e passar por um longo cronograma até a incorporação plena, o que pode levar quatro anos. Assunção continuará suspensa até as eleições presidenciais, em abril de 2013. A Bolívia e o Equador, membros associados como a Colômbia, o Chile e o Peru, foram convidados a integrar o bloco sul-americano. Ontem, o presidente equatoriano, Rafael Correa, disse que o convite está sendo analisado internamente, uma vez que existe o temor de que a participação limite a política externa comercial e tarifária do país. "Estamos muito felizes que nos tenham convidado a fazer parte do Mercosul", declarou.
No discurso feito para presidentes e representantes de países membros e associados, Dilma anunciou ainda a criação de um sistema de mobilidade acadêmica, de uma rede de pesquisa e a reformulação do fundo de garantia para pequenas e médias empresas.
Ausência
A cúpula sentiu a ausência do presidente venezuelano, Hugo Chávez. No seu lugar, era esperado o vice, Nicolás Maduro. Nem ele apareceu e a comitiva foi representada pelo ministro de Energia e de Petróleo, Rafael Ramírez, também presidente da PDVSA (Petróleos de Venezuela S.A). O evento começou com atraso por conta de um encontro entre Dilma e o presidente do Uruguai, José Mujica, no início da manhã, no Palácio do Planalto. A chegada dos líderes ao Itamaraty estava prevista para 8h45, mas só começou às 10h15. Dilma os recebeu um a um. O primeiro a chegar foi o próprio Mujica, que perguntado com com qual das duas presidentes (Dilma e Cristina) ele se dava melhor, disse não ter uma preferida. "O Uruguai é um algodão entre dois cristais", declarou. Por último, Dilma recebeu Cristina. Após a primeira reunião entre os membros plenos, Dilma recepcionou os presidentes Correa e Morales.
Venezuela
O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, fez sua primeira aparição na televisão estatal do país em duas semanas logo após voltar de Havana, onde recebeu tratamento contra o câncer. Chávez, de 58 anos, reduziu sua participação em eventos públicos desde outubro, quando venceu as eleições presidenciais na Venezuela. Ele foi a grande ausência da cúpula do Mercosul em Brasília, onde deveria fazer sua primeira participação como membro pleno do bloco. "Estou feliz por voltar ao país de novo, feliz e entusiasmado. E então, onde vai ser a festa?", brincou o presidente ao desembarcar.