A nova luta de Chávez contra o câncer ocorre dois meses após o presidente ter sido reeleito com folga ao término de uma campanha atípica com poucos comícios e na qual, no entanto, fez enormes esforços para parecer curado. Em uma entrevista a alguns dias das eleições, o presidente disse se sentir recuperado e com forças para um novo mandato de seis anos. No entanto, até sexta-feira, quando retornou de um tratamento médico em Cuba, havia se afastado da vida pública por 22 dias. Mas Chávez, um presidente hiperativo antes de sua doença, havia comparecido com aspecto cansado em ocasiões anteriores.
Chávez se referiu no sábado pela primeira vez à possibilidade de que não possa continuar na Presidência e designou como sucessor seu vice-presidente e chanceler, Nicolás Maduro, de 49 anos, que ocuparia seu cargo até a convocação de novas eleições e se apresentaria como candidato do governismo. “Elejam Maduro como presidente da República, peço isso do meu coração”, disse Chávez ao se referir a uma eventual incapacitação. “Fica totalmente clara a rota de sucessão da revolução venezuelana”, disse o presidente da empresa Datanálisis, Luis Vicente León, para quem a designação de Maduro é uma “ordem indiscutível” para o Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV), majoritário na Assembleia Nacional. Chávez, que antes da doença esperava governar até 2031, insistiu na importância da unidade no seio de seu campo para avançar com sua revolução – que dirigiu de forma personalista – e planeja levar o país definitivamente em direção ao socialismo.
A Constituição venezuelana estabelece que, se ocorrer a falta absoluta de um presidente antes da posse – prevista para 10 de janeiro –, deverão ser realizadas novas eleições em um período de 30 dias e, enquanto isso, o presidente do Parlamento assumirá o cargo. Apesar desta última disposição, Chávez disse no sábado que Maduro se encarregaria de exercer a Presidência até 10 de janeiro, caso isso ocorra. Se a falta ocorrer nos primeiros quatro anos de mandato, também devem ser convocadas eleições e o vice-presidente fica responsável por governar temporariamente. Maduro, que atua há mais de seis anos como chanceler da Venezuela, foi nomeado vice-presidente por Chávez poucos dias após o presidente ser reeleito e gozaria do apoio dos aliados dirigentes cubanos, segundo analistas. A recaída de Chávez pode ter impacto nas eleições regionais daqui a oito dias e nas quais o governismo busca revalidar o controle na maioria dos estados e arrebatar da oposição os seus feudos, como os populosos estados de Miranda (Norte) e Zulia (Noroeste). _