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Estado de Minas

Maias comemoram o fim de uma era em meio a temores apocalípticos


postado em 20/12/2012 14:55 / atualizado em 20/12/2012 16:58

 

Membro de grupo folclórico usa máscara maia na Guatemala(foto: AFP PHOTO/Hector RETAMAL )
Membro de grupo folclórico usa máscara maia na Guatemala (foto: AFP PHOTO/Hector RETAMAL )

Os descendentes maias da América Central e do México se despedirão neste 21 de dezembro, com rituais cerimoniais, de uma era de 5.200 anos em seu calendário, uma data marcada pela controvérsia que trouxe interpretações catastróficas sobre um possível fim do mundo.

 O novo solstício representa o último de treze ciclos de 400 anos, denominados B'aktun, que, somados, constituem uma longa era de 5.200 anos, o Oxlajuj B'aktun, segundo o calendário maia.

 "Para os maias, o início de uma nova era implica mudanças profundas no âmbito pessoal, familiar e comunitário para a verdadeira harmonia e equilíbrio entre os seres humanos e a natureza", segundo Felipe Gómez, diretor de Oxlajuj Ajpop, um ente que reúne várias organizações indígenas.

 Contudo, fora dessa esfera de espiritualidade, a data foi aproveitada para mover lucrativos negócios que vão desde o turismo arqueológico até a exploração de fantasias apocalípticas em todo o mundo, alimentadas globalmente por filmes de Hollywood.

 Convidados para o B'aktun

 Na Guatemala, onde se concentra a maior população de origem maia, assim como no México, Honduras, Belize e El Salvador, haverá comemorações oficiais e de empresas privadas, dirigidas principalmente a desatar um boom turístico.

 

O presidente guatemalteco, Otto Pérez, estará à frente do principal ato da comemoração, que começará na noite de quinta-feira e terminará na manhã amanhecer do dia 21 no majestoso centro arqueológico Tikal, uma das cidades mais representativas da cultura maia, que teve seu momento de esplendor entre os anos 250 e 900 da era cristã.

 O diretor do Instituto Guatemalteco de Turismo (Inguat), Pedro Duchez, calcula um crescimento de 8% no fluxo de turistas para este ano - cerca de 200.000 a mais-, induzido pelas comemorações da mudança de era.

 Contudo, essa comunidade indígena não se identifica com o enfoque comercial que o governo e os empresários imprimiram à data.

 Oxlajuj Ajpop anunciou sua própria agenda de atividades em cinco cidades consideradas sagradas e em seis lugares naturais relacionados com a cosmovisão maia.

 "Há duas comemorações aqui. A autêntica dos maias, essa não será vista pelo mundo, é parte de nossa vida particular dos maias. Nós vamos nos despedir do avô sol e de distintas e milhares de formas", afirmou à AFP a Prêmio Nobel da Paz, a guatemalteca Rigoberta Menchú, descendente maia.

 No México, as atividades se concentrarão em sítios arqueológicos como Chichén Itzá (Yucatán, sudeste), onde o governo do estado tem várias atividades culturais, mas, no restante do país, a expectativa em torno da data vem diminuindo.

 Na Riviera Maia, um distrito costeiro que inclui o balneário de Cancun, as autoridades deixaram a iniciativa para os empresários turísticos.

 Na Playa del Carmen, nessa mesma área, os hotéis trabalham na construção de uma estrutura piramidal de 18 metros de altura, armada com 700.000 garrafas de plástico, dentro da qual serão colocadas mensagens de consolo para o mundo de diferentes personalidades.

 Na zona hoteleira de Cancun, uma rede de hambúrgueres anuncia sua oferta especial do fim do mundo e prepara um show gratuito com o popular cantor mexicano Juan Gabriel, com o tema "O renascimento do mundo maia".

 Em Copán, principal centro arqueológico em Honduras, foi organizada uma cerimônia que contará com a presença do presidente Porfirio Lobo, após o jogo de pelota (bola), um elaborado esporte praticado pelos ancestrais maias, considerado um componente muito característico de sua cultura.

 No sítio El Tazumal de El Salvador, o Ministério do Turismo anuncia na sexta-feira um espetáculo de luzes.

 Belize terá atividades culturais no sítio arqueológico Caracol, onde está localizada a estrutura maia mais alta do país - 46 m -, e no Altun Ha, centro cerimonial onde foi encontrada a famosa Cabeça de Jade do deus Sol Kinich Ahau.

 

Mulheres de descendência maia se reúnem em frente a templo em Tikal, na Guatemala(foto: AFP PHOTO/Hector RETAMAL )
Mulheres de descendência maia se reúnem em frente a templo em Tikal, na Guatemala (foto: AFP PHOTO/Hector RETAMAL )

 Paranoia do fim do mundo

 Enquanto isso, a paranoia da catástrofe que prega o fim do mundo para essa data se propaga por todo o planeta.

Na província argentina de Córdoba (centro), as autoridades fecharam na terça-feira os acessos à montanha Uritorco, tradicional sítio de meditação, assim que surgiu no Facebook uma convocação para um "suicídio espiritual em massa" para sexta-feira.

 Na China, centenas de membros da seita cristã Deus Todo Poderoso foram detidos por fazer propaganda ilegal sobre cataclismos relacionados à mudança da era maia.

 Nos Estados Unidos, algumas empresas dedicadas à venda de bunkers e materiais de sobrevivência para casos de catástrofe registraram um aumento de seus negócios nos últimos dias.

 "A ideia de que o mundo acabará subitamente, por uma causa qualquer, é absurda", afirmou o cientista da NASA David Morrison.

 Para os líderes maias, é lamentável tanta especulação e manipulação comercial de uma data que para seu povo está associada apenas à espiritualidade e à esperança de um mundo melhor.

 Mais lamentavelmente ainda, opinam, é o estado de miséria e prostração em que vivem cerca de nove milhões de pessoas, herdeiros da civilização maia que deu ao mundo maravilhas nos campos da ciência, da arte e da cultura em geral.


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