Dezenas de milhares de venezuelanos encheram nesta quinta-feira as ruas do centro de Caracas aos gritos de "Eu sou Chávez!" no dia em que o presidente deveria assumir seu terceiro mandato.
"Como ele não pode vir, estamos aqui para tomar posse. Nós o amamos", disse à AFP Cleofelia Aceros, enquanto caminhava em direção ao palácio presidencial de Miraflores -lugar marcado para a concentração- pela avenida Urdaneta, ocupada por uma maré vermelha de chavistas -cor do partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV).
Muitos manifestantes vestiam uma faixa presidencial de papel com as cores da bandeira venezuelana (amarelo, azul e vermelho), em meio ao som de bandas.
À tarde, o vice-presidente venezuelano, Nicolás Maduro, se juntou à concentração.
Vestido com um traje esportivo vermelho, Maduro subiu no palco principal, enquanto os presidentes da Bolívia, Evo Morales, da Nicarágua, Daniel Ortega, e do Uruguai, José Mujica, ocupavam seus assentos, assim como outros ministros e autoridades da região.
"Hoje e 30 dias após a operação do presidente Chávez, que está enfrentando uma batalha, nós lhe dizemos daqui: comandante, tranquilo, continue sua batalha que aqui tem um governo bolivariano e um povo revolucionário lhe apoiando", disse Maduro em um emotivo discurso.
"Morremos de amor pelo povo, morremos de lealdade por Chávez!", prosseguiu o vice-presidente, enquanto aviões de fabricação russa Sukhoi, da Força Armada Nacional Bolivariana (FANB), cruzavam o céu azul de Caracas.
Diante de Maduro e do número três do chavismo, Diosdado Cabello, presidente do Congresso Venezuelano, a multidão cantou o hino nacional acompanhando uma gravação em que era possível ouvir a voz de Chávez, de 58 anos.
"Nicolás, Nicolás, o povo está contigo!!!!" - gritava a multidão para o candidato do 'chavismo' à presidência em eventuais eleições antecipadas.
"Nicolás (Maduro), quero destacar que a companheira Cristina (Kirchner), o governo que ela preside e o povo argentino estarão com você todos os dias até o regresso" de Chávez, disse o chanceler argentino, Héctor Timerman.
Com um "Até a vida sempre!", Hugo Chávez se despediu há um mês dos venezuelanos para viajar a Cuba para ser submetido pela quarta vez a uma cirurgia contra um câncer. Desde então, Chávez, que durante 14 anos de governo manteve uma presença quase diária nas telas de televisão, não tem se comunicado com o país.
Seu estado é "estacionário", em um quadro de insuficiência respiratória, segundo o último boletim divulgado na segunda-feira pelo governo.
"Se Chávez tivesse vindo hoje tomar posse, eu também teria vindo. Não muda nada o fato de não estar aqui. Levamos ele no coração", afirmou à AFP Luis Brito, de 60 anos, professor de Direito vindo de Puerto la Cruz (noreste).
O ato transcorreu em um ambiente descontraído depois de uma forte controvérsia constitucional resolvida pelo Tribunal Supremo de Justiça (TSJ) na quarta-feira. A instituição decidiu que Chávez não deve ser substituído e que seu governo será mantido, em decisão aceita pelo líder da oposição, Henrique Capriles.