Em seu primeiro dia no comando do quarto mandato chavista, o vice Nicolás Maduro embarcou ontem a Havana, onde visitará o presidente Hugo Chávez. Antes da viagem, ele pediu a Deus que o acompanhasse nessa "batalha" e negou a existência de um governo acéfalo. "Esse governo está governando todos os dias, a toda hora. Hoje é o primeiro dia do novo período da Revolução Bolivariana", declarou Maduro, em pronunciamento transmitido pela TV estatal. Segundo o ex-chanceler venezuelano, 2013 tem sido caracterizado pela preocupação com o tema da "saúde delicada" do chefe de Estado. Os presidentes da Argentina, Cristina Kirchner, e do Peru, Ollanta Humala, desembarcaram ontem em Havana, em busca de notícias de Chávez.
Em um desdobramento político importante, o secretário-geral da Organização dos Estados Americanos (OEA), José Miguel Insulza, pôs fim à polêmica sobre a posse de Chávez e respaldou a prorrogação do juramento ante o Tribunal Supremo de Justiça (TSJ). "O debate já foi resolvido pelos três poderes do Estado da Venezuela: o Executivo estabeleceu, o Legislativo debateu e o Judiciário resolveu", comentou.
Até o fechamento desta edição, as autoridades venezuelanas não haviam divulgado um boletim oficial sobre a situação de Chávez, que trava uma luta contra o câncer, na capital cubana. O último informe governamental tinha sido feito na segunda-feira. "O presidente está consciente da situação em que se encontra. Ele se mantém em comunicação com sua equipe de governo e com familiares que estão em Havana. O presidente é o presidente, não há nenhum outro presidente", disse à Uno Rádio o ministro da Informação e da Comunicação, Ernesto Villegas.
A falta de informações sobre a doença de Chávez levou as organizações não governamentais Transparência Internacional e Aliança Regional pela Livre Expressão e Informação a divulgarem o estudo Acesso à informação sobre a saúde dos chefes de Estado, um relatório de 26 páginas que, além da Venezuela, cita Paraguai, Argentina e Colômbia. Sob a coordenação de Ezequiel Santacava, o documento destaca a necessidade de que se revele todas as notícias concernentes à saúde dos mandatários. "Uma informação tratada como de caráter privado é, na realidade, pública, pois a saúde de um presidente repercute na qualidade de vida da população", explicou Santacava por telefone. "No momento que há uma incerteza enorme sobre a situação de Chávez, isso é uma agressão à democracia, com implicações institucionais", alertou.
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Kirchner viaja a Havana para saber de ChávezCom poderes delegados por Chávez, Nicolás Maduro tem caminho livre para governar Estilo de Chávez desestimula possíveis líderesIrmão de Chávez nega que presidente esteja em comaOponentes de Chávez contestarão adiamento de posseONGs condenam censura em canal de TV na VenezuelaRUMORES O hermetismo do governo venezuelano tem servido de combustível para rumores. A opositora Sonia Camacho, de 66 anos, coordenadora nacional do grupo Mujeres de Negro, recebeu uma mensagem perturbadora pelo celular, datada de 8 de janeiro. "As autoridades venezuelanas e cubanas planejam um velório de alto padrão para Hugo Chávez em Cuba, onde o cadáver receberá honras de herói nacional, antes de ser traslado a sua cidade natal, Bariñas, para posterior enterro em Caracas", afirma o texto. "Ainda que o hospital Cimeq, onde se encontra o corpo de Chávez, permaneça aquartelado, em previsão a vazamentos da imprensa, a informação tem transcendido, por meio de pessoal militar e diplomático."
Para Sonia, o presidente venezuelano está morto ou moribundo. "Se ele estivesse vivo, teria se pronunciado, pois é um egocêntrico", comentou. Ela não escondeu a decepção com a postura da OEA. "Insulza sempre esteve do lado de Chávez e isso fica claro com essa declaração. Toda essa gente é comprada", indigna-se a ativista, que garante já ter sido presa e espancada.