Os comentários de Berlusconi eclipsaram as comemorações de milhares de judeus e outros deportados da Itália para campos de concentração nazistas no Leste europeu. Eles (os comentários) foram classificados de “repugnantes” pelo Partido Democrata (PD), que lidera as pesquisas para o pleito parlamentar de 24 e 25 de fevereiro. “Nossa república é baseada na luta contra o fascismo nazista, e estes comentários são intoleráveis, incompatíveis com a liderança de forças políticas democráticas”, disse Marco Meloni, porta-voz do PD para assuntos institucionais. Antonio Ingroia, ex-magistrado antimáfia em campanha à frente de outra coalizão esquerdista, disse que Berlusconi é “uma desgraça para Itália”.
“As declarações de Berlusconi são desagradáveis e é simplesmente uma infelicidade que tenha escolhido este dia da Memória para reabilitar a ação do ditador que mergulhou a Itália na Segunda Guerra Mundial”, comentou, em comunicado, a deputada europeia do PD (esquerda), Debora Serracchiani. O primeiro-ministro (demissionário) italiano, Mario Monti, esteve também na cerimônia em Milão e disse que o “perigo da segregação e do antissemitismo ainda existem”. “Devemos estar atentos e garantir que certos grupos que emergem de tempos a tempos não provoquem tragédias que a humanidade não deve viver nunca mais.”
HOLOCAUSTO Não foi a primeira vez que Berlusconi defendeu Mussolini, cuja situação permanece profundamente ambígua na Itália 67 anos depois de sua execução por militantes comunistas enquanto tentava fugir para a Suíça, em abril de 1945. Muitos políticos italianos, incluindo Gianfranco Fini, presidente da câmara baixa do Parlamento, vêm das alas do antigo Movimento Social Italiano, oriundo do partido fascista, embora tenham renunciado à extrema direita. “Temos que ser cuidadosos para que estas faíscas, que são recorrentes, não tragam de volta tragédias que a humanidade não deve sofrer novamente”, declarou ontem o premiê demissionário, Mario Monti.
Benito Amilcare Andrea Mussolini (1883-1945) dirigiu a Itália entre 1922 e 1943. A partir de 1938, ele promulgou uma série de “leis raciais” que, na prática, introduziram medidas de discriminação e perseguição aos judeus. No sábado, a chanceler alemã Angela Merkel havia dito que “a Itália não tem a responsabilidade da Alemanha no Holocausto” e que o seu país tem “uma responsabilidade permanente sobre os crimes do nacional-socialismo”.
Mundo sem ódio
O papa Bento XVI lembrou ontem do Holocausto e pediu um “monitoramento constante” para que os “horrores do passado” não sejam repetidos. “A memória dessa tragédia, que atingiu duramente o povo judeu, deve representar para todos uma advertência constante para que os horrores do passado não se repitam”, disse o pontífice, por ocasião do Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto. Destacando a necessidade de superar “todas as formas de ódio e de racismo”, Bento XVI apelou para a promoção “do respeito e da dignidade da pessoa humana”.