As forças de segurança egípcias utilizaram jatos d'água e atiraram para o alto nesta sexta-feira no Cairo para tentar conter os manifestantes, que lançavam coquetéis molotov e pedras nas imediações do palácio presidencial, em um novo dia de protestos contra o presidente islâmico Mohamed Mursi.
A presidência advertiu em um comunicado que as forças de segurança "vão agir duramente para aplicar a lei e proteger os prédios públicos", ressaltando que as "as forças políticas que incitarem estes atos assumirão a responsabilidade".Os confrontos ocorreram apesar do compromisso firmado ontem pelos líderes políticos de conter a violência, após a morte de 56 pessoas em uma semana neste país dividido entre opositores e partidários de Mursi, o primeiro presidente civil e islâmico do Egito.
Os manifestantes, convocados pela oposição, jogaram pedras nas forças de segurança e atearam fogo em pneus, aos gritos de "o povo quer a queda do regime", o mesmo lema utilizado há dois anos durante a revolta popular que derrubou o presidente Hosni Mubarak.A polícia chegou a recuar e se manter no interior do palácio presidencial diante do avanço dos manifestantes, que conseguiram retirar o arame farpado que cercava o palácio e tentaram escalar um dos portões, indicou a agência oficial Mena.
Membros da Guarda Republicana precisaram intervir para expulsar os manifestantes que disparavam fogos de artifício em direção ao palácio.O comandante da Guarda Republicana, citado pela Mena, exortou os manifestantes a evitar "qualquer ato que atente contra a ordem pública".
Na avenida que conduz à Praça Tahrir no Cairo, não muito distante das embaixadas dos Estados Unidos e da Grã-Bretanha, confrontos esporádicos entre manifestantes e a polícia foram registrados. A polícia disparou balas de borracha, ferindo dois manifestantes que foram levados para hospitais.
"Fora Mursi"!
"Liberdade !" "Mursi é ilegítimo", "Fora !", gritava a multidão que invadiu as principais avenidas da capital no início da tarde desta sexta-feira, após a oração semanal muçulmana.
Com bandeiras e faixas exigindo "justiça" para as dezenas de vítimas da onda de violência que atingiu o país nos últimos dias, os manifestantes rumaram para a Praça Tahrir e para o palácio presidencial na periferia de Heliópolis.Milhares de outros manifestantes se reuniram em Alexandria e em Port Said (noroeste). Foi nessa cidade onde, no dia 26 de fevereiro, foram registrados os confrontos mais violentos, que terminaram com a morte de 40 pessoas, após a condenação à morte de 21 torcedores do clube de futebol local envolvido em um massacre ocorrido em um estádio há um ano.
A Frente de Salvação Nacional (FSN), principal coalizão de oposição ao poder, convocou as manifestações exigindo o fim do "monopólio" do poder pela Irmandade Muçulmana, formação a qual o presidente Mursi pertence, a criação de um governo de salvação nacional, a revisão da Constituição e a saída do procurador-geral nomeado pelo chefe de Estado."Se essas reivindicações não forem atendidas, nenhum diálogo político dará frutos", declarou a FSN em um comunicado.
Em um documento assinado após uma reunião no Cairo organizada na quinta-feira pelo imã de Al-Azhar, Ahmed al-Tayeb, os participantes "denunciaram a violência em todas as suas formas" e prometeram se abster de "toda incitação à violência".Um dos líderes da oposição, Amr Moussa, fez um apelo por "manifestações pacíficas".
Apesar das promessas de diálogo, parte da imprensa demonstrou ceticismo quanto a uma verdadeira reconciliação de um país profundamente dividido."Mesmo se houver diálogo, será um diálogo de surdos entre os que governam e os que rejeitam sua autoridade. Os primeiros se baseiam em sua legitimidade e os segundos ameaçam queimar o país", escreveu o jornal governamental Al-Ahram.
Os partidários de Mursi, eleito em junho, afirmam que ele chegou ao poder de forma democrática e que é o primeiro civil a ocupar o cargo.Já a oposição acusa o presidente e a Irmandade Muçulmana de privilegiarem a ideologia islâmica em detrimento do interesse geral.