Milhares de pessoas manifestaram nesta sexta-feira no Egito, convocadas pela oposição, para exigir dignidade e o cumprimento pelo presidente islâmico Mohamed Mursi dos objetivos da revolução que permitiu sua chegada ao poder.
Ao som de tambores, com bandeiras egípcias nas mãos, os manifestantes partiram de vários bairros da capital em direção à Praça Tahrir e ao Palácio presidencial na periferia de Heliópolis.
"O povo quer a queda do regime", gritava a multidão, enquanto alguns chamavam o ministério do Interior de "bandido". Na Praça Tahrir, manifestantes prenderam faixas com slogans hostis a Mursi e à Irmandade Muçulmana, da qual o presidente faz parte.
No Delta do Nilo, a polícia fez uso de gás lacrimogêneo para dispersar a multidão aglomerada em frente a um prédio governamental em Kafr al-Sheikh, enquanto os manifestantes lançaram pedras contra as forças de segurança. Em Tanta, policiais entraram em confronto com os manifestantes que tentavam invadir a prefeitura, segundo a agência oficial Mena.
Essas novas manifestações ocorrem após vários incidentes de violência policial, bem como a emissão de duas fatwas (editos religiosos) que pediam a morte de líderes opositores egípcios. A presidência denunciou essas fatwas como "terrorismo".
Nesta semana, a morte de um militante pró-democracia após vários dias de detenção reavivou os apelos por uma reforma dos serviços de segurança. Esta morte ocorreu poucos dias depois da exibição pela televisão de imagens de um homem nu sendo espancado pela polícia durante uma manifestação em frente ao palácio presidencial.
Trinta e oito grupos da oposição convocaram protestos para exigir um governo de união nacional, emendas na Constituição redigida por uma comissão dominada pelos islamitas e garantias para preservar a independência do poder judiciário.
Após as fatwas contra os líderes da oposição, o ministério do Interior reforçou a segurança dos dois principais opositores, Mohamed ElBaradei e Hamdeen Sabbahi, cujos nomes foram citados por um dos religiosos em seu texto.
ElBaradei, de tendência liberal, e Sabbahi, um nacionalista de esquerda, são membros da Frente de Salvação Nacional (FSN), principal coalizão de oposição laica, contrária a Mursi.
Na quarta-feira, El Baradei protestou contra a lentidão do governo em reagir à fatwa. "O regime fica calado quando uma nova fatwa autoriza a matar a oposição em nome do islã. A religião não pode ser utilizada e corrompida mais uma vez", afirmou.
Na quinta-feira, o instituto de investigação islâmica Al-Azhar, a mais alta instância do islã sunita estabelecida no Cairo, afirmou que estes editos podem levar "à sedição e à desordem".