Jornal Estado de Minas

Confrontos durante manifestações contra o poder islâmico e a polícia no Egito

AFP

Confrontos entre policiais e manifestantes foram registrados nesta sexta-feira no Egito, principalmente perto do palácio presidencial no Cairo, deixando cerca de cem feridos durante protestos convocados pela oposição por "dignidade" e contra o poder islamita.

Pequenos grupos de manifestantes permaneciam à noite nas imediações do palácio de Heliópolis, no subúrbio da capital, reunidos em torno de pneus em chamas. Alguns jogavam pedras nas forças de segurança, que respondiam atirando bombas de gás lacrimogêneo.

Antes, a polícia já havia usado bombas de gás lacrimogêneo para dispersar os manifestantes que atacavam o palácio com fogos de artifício e coquetéis Molotov.

A violência também eclodiu durante manifestações organizadas em diversas cidades como Alexandria (norte) e Tanta (delta do Nilo).

Mais de 120 pessoas ficaram feridas em todo o Egito, incluindo cinco perto do palácio presidencial e 20 na província de Alexandria, segundo o Ministério da Saúde.

O primeiro-ministro Hicham Qandil, citado pela agência oficial Mena, condenou a violência "injustificável", afirmando que ela "compromete a estabilidade do país e prejudica os interesses dos cidadãos".

Durante o dia, ao som de tambores, com bandeiras egípcias nas mãos, os manifestantes partiram de vários bairros da capital em direção à Praça Tahrir e ao Palácio presidencial na periferia de Heliópolis.

"O povo quer a queda do regime", gritava a multidão, enquanto alguns chamavam o ministério do Interior de "bandido". Na Praça Tahrir, manifestantes prenderam faixas com slogans hostis a Mursi e à Irmandade Muçulmana, da qual o presidente faz parte.

Essa nova onda de violência ocorre após vários incidentes de brutalidade policial e à emissão de duas fatwas (decretos religiosos) pedindo a morte de líderes opositores egípcios. A presidência denunciou essas fatwas como "terrorismo".

Nesta semana, a morte de um militante pró-democracia após vários dias de detenção reavivou os apelos por uma reforma dos serviços de segurança. Esta morte ocorreu poucos dias depois da exibição pela televisão de imagens de um homem nu sendo espancado pela polícia durante uma manifestação em frente ao palácio presidencial.

Trinta e oito grupos da oposição convocaram protestos para exigir um governo de união nacional, emendas na Constituição redigida por uma comissão dominada pelos islamitas e garantias para preservar a independência do poder judiciário.

Após as fatwas contra os líderes da oposição, o ministério do Interior reforçou a segurança dos dois principais opositores, Mohamed ElBaradei e Hamdeen Sabbahi, cujos nomes foram citados por um dos religiosos em seu texto.

ElBaradei, de tendência liberal, e Sabbahi, um nacionalista de esquerda, são membros da Frente de Salvação Nacional (FSN), principal coalizão de oposição laica, contrária a Mursi.

Na quarta-feira, El Baradei protestou contra a lentidão do governo em reagir à fatwa. "O regime fica calado quando uma nova fatwa autoriza a matar a oposição em nome do islã. A religião não pode ser utilizada e corrompida mais uma vez", afirmou.

Na quinta-feira, o instituto de estudos islâmicos Al-Azhar, a mais alta instância do islã sunita estabelecida no Cairo, afirmou que estes decretos podem levar "à revolta e à desordem".