Brasília – Para ler ou assistir, a sucessão papal frequenta duas obras distantes no tempo, no conteúdo e no enfoque, mas ambas de interesse para quem queira aproveitar a ocasião e mergulhar mais fundo nos meandros e bastidores da Santa Sé e dos conclaves.
Mais antigo, e também mais espiritual, As sandálias do pescador tem como ponto de partida o romance publicado em 1963 pelo australiano Morris West, e levado à tela em 1968. O personagem central é um bispo recém-libertado na União Soviética Kiril Lakota, vivido no cinema por Anthony Quinn. Sua surpreendente eleição para suceder o papa Pio XII (fictício), em um momento de tensão aguda na Guerra Fria, se mostra hoje premonitória em relação à ascensão, em 1978, do polonês Karol Wojtila, que assumiu o pontificado como João Paulo II. No livro, como no filme, o centro do enredo é a recolocação da Igreja no mundo contemporâneo – tema desenvolvido sob notório impacto do Concílio Vaticano II.
Correndo por fora, uma terceira opção para acompanhar a sucessão de Bento XVI é a comédia Habemus papam, do diretor italiano Nanni Moretti. Conhecido por seu cinema provocativo, o diretor não tem compromisso com o realismo, mas propõe uma situação farsesca ambientada em um conclave. O cardeal que acaba eleito, interpretado por Michel Piccoli, sofre uma crise de pânico e o Vaticano recorre a um psiquiatra no esforço de convencê-lo a apresentar-se aos fiéis. E, diante da multidão reunida na Praça de São Pedro, o papa recém-eleito renuncia.