Damasco – A principal formação armada da rebelião síria ameaçou bombardear a partir de hoje o movimento armado xiita libanês Hezbollah, acusado de disparar contra cidades rebeldes na Síria, uma escalada sem precedentes que provocou novos receios de um alastramento do conflito. Essa ameaça foi feita pelo general Salim Idriss, chefe do Estado-Maior do Exército Livre Sírio (ESL), que acusa o Hezbollah de lutar ao lado do regime de Bashar al-Assad, seu aliado incondicional. Mas esta é a primeira vez que a rebelião cita bombardeios do movimento a partir do Líbano. “O Hezbollah começou a bombardear os vilarejos ao redor de Qousseir a partir do território libanês, e não podemos aceitar isso”, declarou, ressaltando ter “provas de que o Hezbollah envia seus combatentes (...) para apoiar o Exército de Assad”.
O general Idriss relatou disparos da aldeia libanesa de Zeita, no Vale do Bekaa. A região de Qousseir está localizada próxima à fronteira. “Anunciamos ontem que se essa agressão não parar dentro de 48 horas, o ESL responderá às fontes dos tiros. Ao fim delas (hoje), o ESL em Qousseir responderá às fontes dos disparos e também mobilizará combatentes equipados com armas de longo alcance em outras regiões”, alertou Idriss. Em 2012, o líder do Hezbollah, Hassan Nasrallah, afirmou que alguns membros de seu partido combatiam os rebeldes sírios, mas de maneira individual.
No domingo, o poderoso movimento indicou que três libaneses xiitas foram mortos nos combates contra os rebeldes na Síria, recusando-se a especificar se eram membros do partido que domina com seus aliados o governo do Líbano. No mesmo dia, o Conselho Nacional Sírio (CNS), um dos principais componentes da oposição, acusou o Hezbollah de ter lançado no sábado um “ataque armado” em Qousseir. De acordo com o Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH), esses libaneses são membros dos Comitês Populares Pró-Regime e foram treinados pelo Hezbollah. Os rebeldes na Síria são predominantemente sunitas, enquanto o clã de Assad é alauíta, um ramo do xiismo.
O Líbano, que vive há três décadas sob tutela síria, está dividido sobre o conflito entre o Hezbollah e a oposição que apoia a rebelião. Os Estados Unidos temem que o “caos” na Síria permita o Hezbollah pôr as mãos em armas do regime de Assad, incluindo armas químicas. Israel, que também teme a transferência de armas sírias para o Hezbollah, reivindicou um ataque aéreo em 30 de janeiro, perto de Damasco, que tinha como alvo um comboio transportando mísseis terra-ar e edifícios suspeitos de abrigar armas químicas, de acordo com fontes dos EUA.
COMBATES Pelo segundo dia consecutivo, Damasco foi alvo de morteiros que caíram em um complexo esportivo, onde um jogador de futebol foi morto e quatro ficaram feridos. Os rebeldes derrubaram um avião de combate do Exército após a morte de 20 pessoas. Na frente de combate de Aleppo (Norte), os combates continuam entre soldados e rebeldes perto de bases aéreas e do aeroporto internacional, afirmou o OSDH. Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), mais de 70 mil pessoas morreram no país em quase dois anos de conflito provocado por um levante popular brutalmente reprimido pelo regime liderado por Bashar al-Assad.