Mario Monti, de 69 anos, o sóbrio tecnocrata de sorriso inexpressivo que dirigiu a Itália por pouco mais de um ano até "virar político" no final de dezembro, sofreu nesta ocasião uma mudança radical de sua imagem.
Na península, é como se todo mundo tivesse esquecido o estado em que se encontrava o país em 16 de novembro de 2011, quando Mario Monti, ex-comissário europeu pouco conhecido, substituiu Silvio Berlusconi. sempre envolvido em escândalos e afundado na crise da zona do euro.
Na época, este discreto professor de economia, apelidado de "cardeal" por sua personalidade calma e impenetrável, fez papel de herói e foi o último recurso de salvação, enquanto os mercados especulavam sobre um colapso do país por sua enorme dívida de mais de 2 trilhões de euros.
Em um ano, ele restaurou a credibilidade da Itália, baixou o spread (diferença entre as taxas italianas e alemães) chegando a menos de 300 pontos, a metade do seu nível no final do mandato de Berlusconi. Mas, ao custo de uma austeridade draconiana marcada por uma reforma previdenciária dura e aumentos de impostos.
Sua metamorfose em um animal político começou pouco depois com o anúncio surpresa da sua entrada para a arena política, em 23 de dezembro.
Monti tornou-se tão presente nos meios de comunicação quanto o especialista midiático Silvio Berlusconi, que, aos 76 anos, está em sua sexta campanha em 18 anos e aposta todas as fichas na televisão e no rádio.
Os dois homens passam seu tempo trocando farpas através da imprensa. Berlusconi acusa o governo de Monti de ser a causa de todos os males da Itália (recessão, desemprego e aumento de impostos).
Cautelosos no início, Mario Monti também tem mostrado suas garras contra o seu antecessor, que o impulsionou a ser comissário europeu em 1994 e para quem votou na ocasião. Agora, ele diz temer um retorno às reformas promovidas e acredita que por causa de Berlusconi, a Itália foi "ridicularizada" a nível internacional.
Aos olhos do eleitorado, o "professor" tem a aura de uma carreira notável: licenciatura em Economia na prestigiosa Universidade Bocconi, em Milão, seguido de estudos na Universidade de Yale ao lado do futuro Prêmio Nobel James Tobin, depois professor em Bocconi, onde se tornou reitor e presidente em 1994, cargo que ocupa até hoje.
Também em 1994, foi nomeado comissário para o Mercado Interno. Passou um total de 10 anos em Bruxelas à frente da pasta da Concorrência.
Cortesia e simplicidade são as marcas registradas desse católico praticante, educado pelos jesuítas, casado há 42 anos e pai de dois filhos. Correndo o risco de parecer chato, às vezes até robotizado, como uma caricatura desenhada pelo cartunista Maurizio Crozza.
Fazer parte do clube muito exclusivo do Grupo Bilderberg, que reúne centenas de políticos, financiadores e banqueiros de todo o mundo, também contribuiu para uma imagem de tecnocrata distante das preocupações do povo.
Mas, depois de seus primeiros passos na política, ele mudou de cara, passou a fazer críticas maliciosas de humor britânico e alusivos ataques diretos: "Durante o nosso ano de governo, resolvemos os problemas que os governos de centro-esquerda, centro e de direita deixaram apodrecer", declarou recentemente.
Aparentemente aconselhado por David Axelrod, o guru do presidente dos Estados Unidos Barack Obama, ele apertou o cerco, mas também tenta passar mais "empatia" para com os homens comuns.
Resultado: Monti ficou mais doce ao receber de presente durante um programa de televisão ao vivo um cão, imediatamente apelidado de "Empy". "Olha como é doce", disse, revelando que muitas vezes precisa tomar conta dos cães de seus netos.
No mesmo programa, ele bebeu um grande gole de cerveja, discursou no twitter com gíria dos jovens e sorriu.