O jornal La Stampa e a revista Panomara trouxeram mais detalhes do novo escândalo, que ofusca o conclave. Os veículos revelaram que o documento cardinalício será decisivo para a eleição do sucessor de Bento XVI. E sustentaram que, após ser informado por várias ocasiões sobre o andamento das investigações, o papa se convenceu da necessidade de outro líder católico – mais jovem, forte e enérgico – fazer o trabalho de "limpeza" na instituição. Citado pelo jornal espanhol El País, o cardeal Herranz comparou o dossiê a uma bolha criada na Cúria, que explodiu sozinha.
Em entrevista por e-mail, o padre e teólogo italiano Ariel Stefano Levi di Gualdo contou que foi o primeiro a tomar conhecimento do "poderoso" lobby gay dentro do Vaticano – tema abordado em seu livro E Satana si fece Trino (Ed. Bonanno, 2011). "O lobby gay eclesiástico na indicação de dignatários da cúria romana e de bispos e diplomatas é muito forte. Não creio que ele tenha sido a razão para a renúncia do santo padre, mas creio que ajudou a levar Bento XVI a admitir que, por sua idade avançada, não teria força suficiente para lidar com uma situação que precisa ser corrigida o mais rápido possível", declarou. Questionado sobre o teor do relatório que será exposto aos cardeais, di Gualdo criticou o "espírito escandaloso" do jornal La Repubblica. "Como homem de fé, eu acredito na existência do mistério do mal. Eu acredito que Satã invadiu a Igreja. Como seus pecados favoritos são a vaidade e a luxúria pelo poder, não é de surpreender que o uso deles engane muitos homens da Igreja, por meio do sexo e do dinheiro", acrescentou.
ABUSOS
Para o padre di Gualdo, o papa Bento XVI foi traído pelo Vaticano, tal qual Jesus Cristo por Judas Iscariotes. "Por oito anos, ele viveu em uma legítima toca de víboras. E., assim como Jesus, o santo padre foi forçado a carregar a cruz sozinho", afirmou. O holandês Janne Geraets, de 59 anos, disse à reportagem ter conhecimento, por meio de um funcionário do Vaticano, que a rede gay na Santa Sé é um importante meio de os padres ascenderem de posição na hierarquia da Igreja. "Alguns desses religiosos dizem que, no mundo secular, a mulher usa isso (sexo) para galgar uma posição melhor. No Vaticano, é algo importante entre os homens", admitiu o ativista, que há 48 anos sofreu repetidos abusos sexuais de um padre no monastério Don Rua, em Heerenberg (leste da Holanda).
Geraets condena o pontificado de Bento XVI – e a estrutura da Santa Sé – pela proteção aos sacerdotes pedófilos. "Os clérigos têm grande influência na política de muitos países. A Igreja não quer perdê-la", comentou. "Bento XVI basicamente protegeu todos os padres predadores, ao recusar a agir contra bispos e cardeais que guarnecem os abusadores e ao removê-los de arquidiocese, para evitar processo", critica o também ativista americano David Clohessy, de 55 anos. "Nenhum bispo foi punido pelo papa por não seguir as regras que ele determinou (para lidar com o escândalo). Isso permitiu às autoridades continuarem a proteger os predadores, e não as crianças, por saberem que não seriam punidos." Clohessy também foi vítima de violência sexual repetida dos 12 aos 16 anos. "Fui sexualmente abusado, várias vezes, sempre em viagens fora da cidade e tarde da noite, pelo padre John Whiteley. Reportei o caso ao bispo da minha diocese, em Jefferson City (Missouri). O padre foi suspenso, mas jamais removido do ministério", disse.