As ruas do Egito estão se transformando em um espaço para exposição diária dos descontentamentos com as condições de trabalho, a escassez de combustível e as vítimas dos confrontos nos últimos dois anos. E as eleições parlamentares que foram convocadas pelo presidente egípcio, Mohammed Morsi, não devem acabar com a turbulência no país.
Pelo contrário, a disputa tende a causar ainda mais tumulto e conduzir o Egito para um colapso econômico. "As ruas têm vida própria e isso pouco tem a ver com as eleições. São pessoas querendo ganhar a vida ou pagar suas contas", comentou Emad Gad, um proeminente analista e ex-parlamentar.
Morsi convocou eleições parlamentares, que devem ser iniciadas no fim de abril e prosseguir até junho, o que desencadeou uma forte reação do principal líder da oposição, o ganhador do Prêmio Nobel da Paz Laureate Mohamed ElBaradei. Sábado ElBaradei incitou um boicote, o que colocaria em jogo a legitimidade da votação.
Mas é bem possível que a Irmandade Muçulmana de Morsi e seus aliados Salafi se saiam bem. Eles ganharam todas as eleições desde 2011, quando um levante popular derrubou Hosni Mubarak do poder.
Ainda assim, o governo atual não tem conseguido conter os protestos nas ruas, as greves e a criminalidade que definiram o Egito nos últimos dois anos. De fato, os tumultos apenas se intensificaram e se espalharam por todo o país desde que Morsi assumiu a presidência oito meses atrás.
Neste domingo, milhares de trabalhadores da construção bloquearam ferrovias de uma cidade ao sul de Cairo pelo segundo dia consecutivo, em um protesto contra a alta dos preços de óleo combustível industrial e a ineficácia do transporte em todo o Egito.
A manifestação resulta da decisão tomada pelo governo na semana passada de suspender os subsídios aos preços de alguns combustíveis. A medida faz parte de uma reforma que visa a garantir um empréstimo no valor de US$ 4,8 bilhões do Fundo Monetário Internacional (FMI). As informações são da Associated Press.