Jornal Estado de Minas

Castel Gandolfo será refúgio de Bento XVI durante conclave

AFP

Bento XVI, cuja demissão acontece nesta quinta-feira, deve partir imediatamente de helicóptero para Castel Gandolfo, a residência de verão dos papas, uma suntuosa casa a 30 kn de Roma e que permitirá que o "Papa emérito" fique distante do alvoroço midiático que cercará a escolha de seu sucessor.

"O Papa viverá no apartamento que ele sempre ocupou (...) durante quase dois meses", explicou o diretor das Vilas pontificais, Saverio Petrillo, ao longo de uma visita organizada para a imprensa em 22 de fevereiro.

Esta casa de veraneio, propriedade pontifical desde 1596, beneficia de uma posição muito particular: construída inicialmente sobre o cume rochoso que domina o lago de Albano, a cidadela cresceu ao longo dos séculos para virar uma verdadeira residência de férias encrustada em Castel Gandolfo, um povoado de 9.000 habitantes e que figura na lista dos mais belos vilarejos da Itália.

Hoje, a residência e seus jardins se estendem por 55 hectares, 11 hectares a mais do que o Estado do Vaticano, o menor do mundo. A casa de Castel Gandolfo beneficia também da extraterritorialidade.

A propriedade, que de um lado goza de uma vista para o mar e de outro de uma vista para o lago, encontra-se a 426 metros de altitude, o que garante a seus hóspedes um certo frescor nas quentes noites de verão.

Normalmente, os papas vão para a casa na Páscoa e no verão para escapar das altas temperaturas romanas. "O Papa, que vem na Páscoa (que cai este ano em 31 de março), antecipou sua estada em um mês", disse Saverio Petrillo, que evoca "uma situação de rotina quanto à logística, mas excepcional quanto às circunstâncias".

"A demissão de Bento XVI nos pegou de surpresa, foi como um raio no meio de um céu calmo", reconhece Petrillo, que diz compreender a decisão do papa de partir imediatamente para Castel Gandolfo.

"Aqui, o Papa se encontra em um ambiente familiar. Não há grandes obras de arte, nem grandes salões", explicou acompanhando jornalistas aos cômodos de recepção, de proporções modestas se comparadas à monumentalidade do Vaticano.

Os jardins, nos quais se sucedem alamedas de ciprestes e terraço estilo francês onde arbustos formam motivos de elegantes volutas e favorecem longas caminhadas. Uma oportunidade raramente aproveitada por Bento XVI: "é um homem de estudos reservado, que não gosta da vida ao ar livre", notou Saverio Petrillo.

Bento XVI, acompanhado de seus dois secretários particulares e de quatro laicos consagrados que o assistem cotidianamente, deve passar a maior parte de seu tempo em seus apartamentos privados, que ocupam a ala da casa com vista para o mar.

Em 2011, o Papa declarou sobre Castel Gandolfo: "aqui eu encontro tudo. Montanha, lago, e vejo até mesmo o mar (...) as pessoas são gentis". Uma placa com estas palavras elogiosas foi colocada na fachada da prefeitura logo em frente ao imponente palácio apostólico, que domina a praça principal da cidade, ornada por uma fonte.

A fachada atual da residência é de autoria de Carl Maderno, que inteveio depois que Urbano VIII decidiu, em 1626, transformar oficialmente Castel Gandolfo em casa de veraneio dos papas.

Em 1773, Clemente XIV estendeu a superfície da casa incorporando a casa ao lado, do cardeal Camillo Cybo.

Em 1929, com a assinatura dos acordos de Latrão entre a Santa Sé e a Itália de Mussolini, a casa aumentou ainda mais suas dimensões graças a aquisição da Villa Barberini, que compreende as ruínas de um palacete que pertenceu ao imperador Domiciano(51-96 d.C.)

Enfim, Pio XI comprou durante seu pontificado (1922-1939) novas terras para criar uma pequena produção agrícola, onde ainda hoje pastam vacas, contribuindo para a atmosfera bucólica deste reduto de paz.