Os cardeais decidiram nesta segunda-feira, durante a primeira congregação de preparação do conclave, agradecer Bento XVI, mas também exigir explicações francas sobre o funcionamento da Igreja antes da escolha do próximo Papa.
Nesta primeira reunião em congregação os cardeais prestaram juramento de manter em segredo o conteúdo das reuniões, "mas poderão falar à imprensa sobre questões da Igreja", indicou o padre Lombardi.
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O cardeal arcebispo de Paris, André Vingt-Trois, compartilhou da mesma opinião. "Acredito que permaneceremos aqui toda a semana e alguns dias da próxima. Tomaremos todo o tempo necessário para determinar qual o perfil de Papa que precisamos. Gostaria que fosse poliglota, um homem de fé e diálogo. Ele poderia ser jovem, mas não obrigatoriamente. O novo Papa precisará obrigatoriamente enfrentar os problemas na Cúria", declarou o prelado francês.
Bento XVI, muito respeitado por sua mensagem religiosa e coerência, foi, em contrapartida, criticado por não ter realizado reformas no governo central da Igreja.
O porta-voz do Vaticano, o padre Federico Lombardi, indicou que não haverá uma discussão geral sobre o Vatileaks, acrescentando que os cardeais, vindos do mundo inteiro, poderão pedir a seus colegas "todas as informações que julgarem necessárias".
O momento conturbado no Vaticano e, mais recentemente, as especulações sobre um suposto "lobby gay", não são bem vistas pelos cardeais vindos do exterior. Segundo eles, estes problemas deformam a imagem de uma Igreja dinâmica e corajosa que deve enfrentar problemas de sobrevivência.
Para o cardeal espanhol Carlo Amigo Vallejo, "Vatileaks, é muito barulho por nada, apenas problemas de organização, de perfeccionismo da estrutura". Os cristãos da África "não se preocupam muito com os pequenos problemas de nossa vida interna e organização", disse. Barbarin insistiu, no entanto, que os cardeais devem ter "uma visão de uma Igreja universal".
Os 209 cardeais, eleitores (com menos de 80 anos) ou não, foram convocados pelo cardeal Sodano para estas congregações de preparação do conclave. Nesta segunda-feira, 142 entre eles estavam presentes, dos quais 103 eleitores, informou Federico Lombardi.
Entre os ausentes, o ex-arcebispo da Escócia, Keith O'Brien, que admitiu no domingo ter tido "comportamentos inadequados" com jovens padres de sua diocese, após sua renúncia ser aceita por Bento XVI na semana passada.
Este caso revela o mal-estar dentro da Igreja, cujos preceitos de castidade e pureza nem sempre são respeitados por seus membros.
Esclarecimentos sobre esta questões, bem como sobre o dossiê dos cardeais acusados de proteger padres pedófilos, deverão ser cobrados.
Durante seus oito anos de pontificado, Bento XVI puniu dezenas de bispos infiéis a seus votos. Estas primeiras congregações permitirão que os cardeais vindos dos cinco continentes discutam.
Antes do conclave, "alguns querem ir rápido, outros querem mais tempo" para dialogar, comentou o padre Lombardi, enquanto o anúncio de uma data para a entrada em conclave não está prevista para esta segunda-feira.
Todos os 115 cardeais eleitores devem estar presentes para decidir esta questão. Nesta tarde, uma meditação deve ser proposta pelo pregador da Casa Pontificial, o padre capuchinho Raniero Cantamalessa.
A escolha do próximo Papa ainda está em aberto: muitos são os nomes de destaque, entre eles o do italiano Angelo Scola, o austríaco Christoph Schonborn, o húngaro Peter Erdl, o americano Sean O'Malley, o canadense Marc Ouellet, o brasileiro Odilo Scherer, o ganês Peter Turkson e o filipino Luis Antonio Tagle.