Jornal Estado de Minas

Chávez é derrotado pelo câncer aos 58 anos

AFP

O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, morreu nesta terça-feira, em Caracas, aos 58 anos, ao final de uma longa batalha contra o câncer, deixando como sucessor o vice-presidente Nicolás Maduro e a incerteza em um país que liderou por 14 anos.

"Recebemos a informação mais dura e trágica que poderíamos transmitir ao nosso povo. Às 04H25 da tarde (17H55 de Brasília) de hoje, 5 de março, morreu nosso comandante, o presidente Hugo Chávez Frías", disse Maduro.

"Nesta dor imensa desta tragédia histórica que hoje toca a nossa pátria, nós chamamos todos os compatriotas, homens, mulheres de todas as idades, a ser vigilantes da paz, do respeito, do amor, da tranquilidade desta pátria".

"Pedimos ao nosso povo para canalizar nossa dor em paz e tranquilidade. Suas bandeiras serão erguidas com honra e com dignidade, vamos ser dignos herdeiros filhos de um homem gigante como foi e como sempre será na memória o comandante. Honra e glória a Hugo Chávez! Viva Hugo Chávez!"

Logo após o anúncio, Maduro mobilizou as Forças Armadas, que prometeram cumprir a Constituição e a vontade do presidente Chávez.

"Estamos determinando uma mobilização especial da Força Armada Nacional Bolivariana e da Polícia Nacional Bolivariana neste momento para acompanhar e proteger o nosso povo e garantir a paz", disse Maduro em rede nacional de TV.

O ministro da Defesa, Diego Molero, reagiu afirmando que "nos encontramos unidos para cumprir e fazer cumprir os preceitos constitucionais e a vontade do nosso líder comandante Hugo Rafael Chávez Frías", em mensagem à Nação ao lado de alguns dos comandantes das forças armadas.

O ministro também expressou em nome das Forças Armadas seu apoio a Maduro, ao presidente do Parlamento, Diosdado Cabello, e a todos os demais poderes do Estado.

"Você podem contar com as Forças Armadas do povo para o povo, com todos os seus homens e mulheres dispostos da dar tudo de si para cumprir a Constituição", disse o ministro, assegurando que o Exército marcará presença em todo o território venezuelano para "garantir a segurança e a soberania" do país.

O chefe do comando estratégico operacional das Forças Armadas da Venezuela, general Wilmer Barrientos, afirmou que "estamos monitorando todo o país, inclusive a fronteira, nossos mares, e até o momento tudo segue em plena normalidade".

"Todos os meus soldados, em cada um dos postos, estarão protegendo o povo venezuelano neste momento de emoções duras, que golpeiam a alma (...). Sigamos aqui trabalhando para que a Venezuela, o povo, permaneçam em paz como sempre sonhou nosso comandante Chávez".

O líder opositor venezuelano, Henrique Capriles Radonski, prestou sua "solidariedade a toda a família e aos seguidores" de Chávez, destacando que "defendemos a unidade dos venezuelanos neste momento".

Capriles, governador do estado de Miranda, é o principal candidato opositor nas eleições que deverão ser celebradas após a morte do presidente.

"Em momentos difíceis devemos demonstrar nosso profundo amor e respeito a nossa Venezuela! Unidade da família venezuelana!", insistiu Capriles, que perdeu as eleições de 7 de outubro contra Chávez.

Chávez estava internado no hospital militar de Caracas onde era submetido a um tratamento contra o câncer diagnosticado em junho de 2011.

A luta contra o câncer havia impedido Chávez de tomar posse em 10 de janeiro, depois da reeleição de outubro de 2012 para um terceiro mandato de seis anos.

Em janeiro, a Assembleia Nacional concedeu ao presidente uma permissão indefinida de ausência do país para tratar a doença, enquanto o Tribunal Supremo de Justiça autorizou a posse quando Chávez estivesse em condições.

Chávez, que estava no poder desde 1999 e foi diagnosticado com câncer em meados de 2011, sofreu quatro operações em Cuba, com posteriores ciclos de quimioterapia e radioterapia, até ser vencido pela doença nesta terça.

Maduro, de 50 anos, apontado pelo próprio presidente como seu herdeiro político, certamente será o candidato governista nas eleições presidenciais, que deverão ser celebradas no prazo de 30 dias, como diz a Constituição, provavelmente enfrentando Henrique Capriles, de 40 anos.

Líder absoluto do Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV), Chávez havia sido reeleito com folga em 7 de outubro para um terceiro mandato desde que assumiu o poder em 1999, e sua tomada de posse, prevista para 10 de janeiro na Assembleia Nacional, tinha sido adiada 'sine die'.

Apesar de o câncer ter sido diagnosticado em junho de 2011, o presidente só definiu sua sucessão em dezembro passado, forçado pela doença.

Maduro, ex-sindicalista do Metrô de Caracas, enfrentará o desafio de substituir um presidente carismático e falante, que concentrou e personificou o poder, estabelecendo um vínculo quase espiritual com as classes populares, sua base pessoal.

Chávez, que pretendia governar até 2031, aspirava a aprofundar seu projeto socialista no país que tem umas das maiores reservas petroleiras do mundo, mas ainda com amplos setores da população vivendo na pobreza.

Com as missões sociais, uma das chaves de sua grande popularidade, ajudou a atender às necessidades básicas das classes populares, apesar de ser tachado de populista por seus adversários.

Chávez, cujo partido controla também o Parlamento e a maioria dos governos estaduais e prefeituras, nunca reconheceu legitimidade na oposição, nem se mostrou pluralista ou partidário a uma alternância no poder.

Exerceu também um controle absoluto nos meios de comunicação públicos, a partir dos quais governou e se tornou onipresente na vida dos venezuelanos. Usou e abusou das emissoras obrigatórias, nas quais todos os meios de comunicação do país deviam fazer suas transmissões.

Com o dom da palavra e discurso irreverente, o presidente não deixou ninguém indiferente. Se de um lado ganhou a devoção dos pobres, foi ofensivo e desrespeitoso com seus adversários políticos, "a burguesia e o imperialismo", polarizando a sociedade venezuelana, hoje literalmente dividida em dois.

À medida que a doença foi avançando, as invocações a Deus e a Jesus Cristo se multiplicaram na boca de Chávez, que chegou a pedir ao Senhor, com lágrimas nos olhos, "que não o levasse ainda".

Foi um presidente hiperativo, até que a doença o obrigou a deixar de ser um "cavalo desbocado", como ele mesmo admitiu, e nos últimos meses reduziu suas aparições e discursos.

Tratou-se quase exclusivamente em Cuba, onde foi operado quatro vezes, longe dos meios de comunicação, sob a férrea segurança cubana e em companhia de seu grande aliado e amigo, o líder cubano Fidel Castro.

Este tenente-coronel da reserva foi eleito pela primeira vez em 1998, seis anos depois de liderar um fracassado golpe de Estado contra um desgastado sistema bipartidário.

No período mais conturbado de sua controversa presidência, sofreu um golpe de Estado (2002), que o afastou do poder por algumas horas, uma greve petroleira de dois meses (2003) e um referendo revogatório (2004), o qual ganhou.

Após sua reeleição em 2006, radicalizou seu projeto com uma maior intervenção estatal na economia. Seis anos depois, ao vencer as últimas eleições, prometeu tornar o socialismo "irreversível", tarefa que Maduro herdará caso vença as eleições.