Brasília – Evo Morales, Cristina Kirchner e José Mujica puxaram a fila dos líderes sul-americanos que se deslocam desde a manhã de ontem para Caracas a fim de assistir aos funerais do presidente Hugo Chávez. O presidente boliviano caminhou lado a lado com o vice de Chávez, Nicolás Maduro, à frente da multidão que acompanhou o corpo do Hospital Militar para a Academia Militar, onde será velado. A chefe de Estado argentina e o colega uruguaio viajaram juntos de Buenos Aires, mas Cristina preferiu "falar pessoalmente com as filhas de Chávez", segundo o embaixador da Argentina em Caracas, Carlos Cheppi. Próxima ao líder venezuelano desde a presidência de seu marido, Néstor Kirchner, ela estaria "muito angustiada", de acordo com o diplomata.
A presidente Dilma Rousseff deve embarcar às 11h de hoje, acompanhada do chanceler Antonio Patriota e de uma comitiva, que poderia ser integrada, entre outros, pelo governador petista da Bahia, Jaques Wagner. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a quem Chávez chamava de "amigo e irmão", também é esperado na capital venezuelana. Dilma decretou luto oficial de três dias no Brasil.
Sem informar a data da viagem, o presidente chileno, Sebastián Piñera, anunciou que vai à Venezuela para o funeral. De acordo com o jornal venezuelano El Universal, os mandatários do Peru, Ollanta Humala, de El Salvador, Mauricio Funes, e da República Dominicana, Danilo Medina, também confirmaram presença. Rafael Correa, do Equador, embarca hoje para Caracas, assim como o ex-presidente paraguaio Fernando Lugo.
Até o fechamento desta edição, ao menos nove mandatários da América Latina e do Caribe tinham confirmado presença na cerimônia fúnebre, que teve início ontem. O comparecimento numeroso de chefes de Estado latino-americanos, somado às declarações de pesar vindas de todo o mundo e à cobertura da mídia, ressalta a projeção internacional que o presidente falecido conseguiu dar ao país e à própria figura.
Para Alberto Pfeifer, membro do Grupo de Análise de Conjuntura Internacional (Gacint) da Universidade de São Paulo (USP), "Chávez conseguiu aglutinar líderes ao seu redor com benefícios econômicos e por representar resistência à ideologia neoliberal". Ele cita como exemplos a compra de títulos da dívida argentina e os programas sociais que patrocinou na Bolívia. No entanto, Pfeifer ressalta que ausência do líder bolivariano "não vai ser lamentada profundamente, nem por muito tempo". "Essa comoção não está presente na maioria das lideranças da sociedade democrática. Há uma consternação com a morte do presidente, que faz parte das regras da boa diplomacia."
O governo dos Estados Unidos, que manteve relações tensas com Chávez, enviará uma delegação. O Departamento de Estado reiterou que espera "melhorar as relações" após a eleição do sucessor. Na terça-feira, antes de anunciar a morte do mandatário, o vice-presidente Nicolás Maduro expulsou funcionários da embaixada americana, acusando-os de conspirar contra a Venezuela.
Condolências foram enviadas pela Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac) e pela Organização dos Estados Americanos (OEA). Na Europa, França, Reino Unido e Rússia homenagearam Chávez, elogiado no Oriente Médio por dois aliados, os presidentes do Irã, Mahmud Ahmadinejad, e da Síria, Bashar al-Assad.
Em Brasília, no Senado, governistas e oposicionistas debateram duramente os termos de um um voto de pesar pela morte de Chávez, que acabou aprovado. O centro da discussão foi um requerimento proposto pelo senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP), sugerindo o envio de uma comitiva à Venezuela. PSDB e DEM criticaram a proposta, afirmando que o Senado brasileiro não deve solidarizar-se com "um ditador". Fora do Congresso, um dos coordenadores do Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra (MST), João Pedro Stedile, considerou a morte de Chávez "uma perda irreparável para todos os povos da América Latina". (Colaborou Leandro Kleber)