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Estado de Minas

Olhares se voltam para a Capela Sistina, de onde sairá a fumaça

Cardeais permanecerão confinados na pequena igreja, conhecida mundialmente pela riqueza de obras de arte


postado em 12/03/2013 00:12 / atualizado em 12/03/2013 07:48

Otacílio Lage

A pequena igreja, famosa por sua arquitetura, é inspirada no Templo de Salomão do Antigo Testamento(foto: AFP PHOTO / GABRIEL BOUYS )
A pequena igreja, famosa por sua arquitetura, é inspirada no Templo de Salomão do Antigo Testamento (foto: AFP PHOTO / GABRIEL BOUYS )
 

 Quando a fumaça branca sair de uma das chaminés instaladas na Capela Sistina especialmente para o conclave, a Igreja Católica terá um novo chefe. A pequena igreja, famosa por sua arquitetura – mede 40,93m de comprimento por 13,41m de largura e 20,70m de altura – e inspirada no Templo de Salomão do Antigo Testamento, é onde os cardeais há séculos escolhem o Sumo Pontífice. Diante de suas paredes laterais, pintadas por grandes artistas da Renascença, como Rapael, Bernini, Botticelli, Pinturicchio, Rosselli, Signorelli, Ghirlandaio, Perugino e Fra Diamante, são colocadas as mesas, cobertas com toalhas em tom vermelho-escuro, e cada uma é ocupada por nove a 11 cardeais.
A capela ganhou o nome de Sistina do papa Sisto IV (nascido Francesco Della Rovere) – o 212º pontífice, de 1471 a 1484 –, que restaurou a antiga Capela Magna, entre 1477 e 1480, período em que esses pintores criaram uma série de afrescos com referências bíblicas. As pinturas foram concluídas em 1482, e em 15 de agosto de 1483 Sisto IV consagrou a primeira missa em honra a Nossa Senhora da Assunção.

 Mas faltava o teto para coroar a arte exposta nas paredes laterais do templo. Michelangelo foi chamado para a tarefa pelo papa Júlio II (216º pontífice), sobrinho de Sisto IV. O artista utilizou a técnica de pintura afresco para criar cenas relacionadas à história do Antigo Testamento, da Bíblia, do Livro do Gênesis. Ela consiste na aplicação da tinta sobre argamassa de cal queimada e areia úmida – ou fresca –, daí o nome. Como fica logo seca, o pintor tem de ter uma ideia precisa do trabalho e executá-lo com brevidade.

 Júlio II queria que Michelangelo pintasse os 12 apóstolos, ideia que não agradou ao artista. Grande parte das figuras do teto da capela foi concebida como escultura, e muitas poses foram inspiradas em famosos exemplos gregos e romanos. Pronta, a obra retratou a criação de Adão, sua expulsão do Paraíso e o dilúvio. O serviço, apesar de belo, foi penoso para o artista, que precisou ficar horas e horas, durante quatros anos, em posição bastante desconfortável.

 O resultado de tanto trabalho e superação de contratempos resultou no esplendoroso teto, extraordinário nos detalhes, nos contornos e nos traços das figuras. Na perfeita celebração da arte e do divino, Michelangelo, aos 37 anos, concluiu algo admirável que encanta o mundo há mais de cinco séculos. A obra ressalta e confirma a religiosidade do artista e expressa a reverência profunda dele pela antiguidade clássica, revelando um estilo genial e único.

 Ali o homem, segundo Michelangelo, foi pintado em sua glória, nu como veio ao mundo, com sua pureza original, sem maldade. É nesse ambiente único, de menos de 600 metros quadrados, que 115 cardeais a partir de hoje vão passar horas trancados para escolher o novo papa – o primeiro conclave foi realizado nele em 1513. Na concepção católica, ali eles vão falar apenas com Deus, sem conchavos. O braço de Deus estendendo-se para dar vida a Adão, no painel de criação concebido por Michelangelo, com certeza, mais uma vez, há de inspirá-los nesta importantíssima missão.


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