Gustavo Werneck
Extra omnes! Quando esta frase em latim – Fora todos!, em português – for dita na tarde de hoje, ninguém mais, a não ser os 115 cardeais eleitores e oficiais do conclave, poderá permanecer no interior da Capela Sistina, em Roma. A ordem para que todos se retirem será dada pelo mestre de cerimônias da reunião que vai eleger o papa, o cardeal dom Lorenzo Baldiseri, que foi núncio apóstolico no Brasil até o ano passado. Mas, até esse momento oficial, os integrantes do colégio cardinalício terão que cumprir uma extensa programação, que começará às 10h (6h no horário de Brasília), com a missa solene Pro eligendo pontifice, celebrada pelo cardeal decano, dom Angelo Sodano, na Basílica de São Pedro.
O dia começará cedo para os cardeais que vão eleger o 266º papa, o sucessor de Bento XVI, que renunciou no dia 28. Às 7h (horário de Roma), eles se mudam para a Casa Santa Marta (Domus Sancta Marthae), no Vaticano, construída por João Paulo II (1920-2005) para receber os cardeais que chegavam de todo o mundo e recebiam boas acomodações. Depois do almoço, eles vão se encontrar na Capela Paulina, do Palácio Apostólico, e sairão em procissão às 16h30, em direção à Capela Sistina. Nesse cortejo, todos cantarão o hino sacro Veni creator spiritus (Vinde espírito criador), com o qual invocam o Divino Espírito Santo para fazer a escolha do novo ocupante do trono de São Pedro.
Na Capela Sistina, onde ocorre o conclave, as portas ficarão abertas para os primeiros ritos, com a presença da imprensa, nobreza pontifícia e corpo diplomático. Depois da procissão, os cardeais vão pronunciar o juramento, com a mão sobre a Bíblia. É exatamente quando terminar o juramento que dom Lorenzo determinará a saída de todos e fechará as portas da Capela Sistina, explica o assessor de direito canônico da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), o frei carmelita Evaldo Xavier Gomes.
A partir desse momento, o conclave terá início, com a presença dos cardeais e dos oficiais (mestre de cerimônias, ajudantes, auxiliares e outros). Também na tarde de hoje, o cardeal alemão e bispo de Mainz, Karl Lemman, fará uma pregação de ordem espiritual, conta frei Evaldo, também pároco da Igreja de Nossa Senhora do Carmo, na Região Centro-Sul de Belo Horizonte. “O primeiro dia terminará com essa exortação ao Divino Espírito Santo”, afirma, lembrando que, no fim do dia, os cardeais retornarão à Casa Santa Marta e ficarão em celas individuais.”
SEM COMUNICAÇÃO
Durante o tempo em que estiveram participando do conclave, os cardeais não poderão ter nenhum tipo de comunicação com o mundo exterior. “Nem telefone fixo ou celular, internet, tevê, jornais, rádio, enfim, nada mesmo”, conta o frade carmelita, que tem doutorado em direito civil e canônico. Durante a reunião, os cardeais, sentados em cadeiras, formando duas alas, um de frente para o outro, trajarão a veste talar, composta de batina vermelha ou preta com um filete, faixa vermelha na cintura e solidéu vermelho, que fica sob o barrete (chapéu também vermelho de três pontas).
Pelo regulamento, haverá duas votações pela manhã e duas à tarde. Para ser eleito, o papa terá que conquistar dois terços dos votos. Num dia, poderão ocorrer até quatro escrutínios, sendo as cédulas depositadas em urna de cristal que tem a forma de um cálice. A cada escrutínio sem vencedor, os votos serão queimados, saindo da torre da Capela Sistina a fumaça preta. Frei Evaldo conta que poderá ocorrer o máximo de 33 votações. “Se ninguém for escolhido, poderá haver mais sete, com os nomes dos que tiveram mais votos no conclave”, conclui o frade.