A escolha do argentino Jorge Mario Bergoglio como o primeiro papa jesuíta rompe com tabus históricos da Igreja, na opinião do padre José Oscar Beozzo, estudioso da história da Igreja Católica na América Latina. "Os superiores jesuítas sempre foram chamados de `Papa Negro', para contrapor ao `Papa Branco'. É uma ordem religiosa com profunda influência na Igreja, mas sempre houve um temor de ter um jesuíta, de ser ao mesmo tempo um `papa branco' e `papa negro'. Isso rompeu com uma tradição histórica, para o bem da Igreja".
Padre Beozzo disse ser muito significativa a escolha do nome Francisco I. "Tivemos um jesuíta que escolheu não o nome de Inácio, mas de Francisco. Acho que isso é muito significativo porque São Francisco é o santo mais querido dentro e fora da Igreja Católica". Beozzo acredita que a escolha também remete à postura que o novo papa deve adotar com relação aos muçulmanos. "Francisco esteve no coração de um conflito que hoje se repete, que é o conflito do que fazer frente ao Islamismo. Na época de Francisco, o Papa convocou a guerra contra o mundo islâmico, e Francisco tomou um barco e foi ver o sultão do Egito para falar de paz, de amizade. Até hoje os muçulmanos respeitam Francisco e os franciscanos. Acho que nesse momento isso é um recado muito importante".
Para Beozzo, a escolha toca um tema fundamental na trajetória da igreja latino-americana, que é a opção pelos pobres. "Ele é visto como um irmão universal, também irmão dos pobres." São Francisco é também conhecido por seu amor à natureza, e Beozzo afirma que a escolha é também um compromisso com a preservação ambiental. O novo papa é visto como um homem simples, que cozinha a própria comida, anda de metrô e ônibus em Buenos Aires. "É uma pessoa que escolheu o nome de Francisco não por fantasia, mas acho que por uma opção de vida".