Francisco, o primeiro Papa latino-americano da história, iniciou nesta quinta-feira seu pontificado com a marca da simplicidade, com uma missa privada em Roma e uma oferta de flores à Virgem.
O até ontem cardeal argentino Jorge Bergoglio, de 76 anos, proclamado Papa para surpresa de muitos na quarta-feira, após dois dias de conclave, chegou durante o início da manhã à basílica romana de Santa Maria Maior para uma breve oração, onde dezenas de curiosos o esperavam para uma saudação.
Dentro do templo, o novo Papa fez uma oferta de flores à Virgem em uma pequena capela, como havia prometido na quarta-feira na sacada da Basílica de São Pedro, onde milhares de pessoas celebraram sua proclamação.
"Parecia que sempre foi Papa. Não parecia incomodado nem intimidado", disse uma fonte da basílica.
Às 17H00 (13h00 de Brasília), o novo pontífice celebrará outra missa na Capela Sistina com os 114 cardeais que o escolheram em conclave secreto.
Nos primeiros dias de seu papado, Francisco, que pela primeira vez conviverá com o antecessor, o Papa emérito Bento XVI, para o qual ligou na quarta-feira à noite, viverá na residência Santa Marta antes de mudar-se para a residência oficial no palácio apostólico.
A eleição do argentino contrariou todas as previsões dos vaticanistas e especialistas, que apostavam no italiano Angelo Scola, no brasileiro Odilo Scherer ou no canadense Marc Ouellet.
"A surpresa de Francisco", destaca na primeira página o jornal Corriere della Sera, resumindo o sentimento das autoridades políticas e religiosas de todo o mundo, que receberam com surpresa e satisfação a eleição do novo Papa.
Na Argentina, no entanto, a imprensa também questiona seu papel durante a ditadura militar no país (1976-1983).
Realismo e doutrina
"É um pastor de doutrina sólida e realismo concreto", ressaltou o vaticanista Sandro Magister, que recorda que ele sempre manteve "uma boa distância" da Cúria, o governo da Igreja do qual foi rival há oito anos.
"A vitória do Novo Mundo", destacou Marco Politi, outro prestigioso vaticanista, sobre o novo Papa, o primeiro não europeu em 13 séculos.
"Apenas quatro votações bastaram para que a igreja virasse a página e retirasse da agenda todas as referências a seu tortuoso passado", escreve no "Il Fatto Quotidiano".
Nunca antes um jesuíta havia assumido o comando da Igreja. O nome Francisco também é inédito.
"Acredito que, antes de mais nada, é uma referência a Francisco de Assis, com esta ideia de que o Papa está ligado aos mais pobres e aos mais humildes", disse à AFP o vaticanista Bruno Bartoloni.
Considerado um conservador na doutrina, mas progressista na área social, Francisco iniciou o papado com um gesto inédito na Praça de São Pedro, onde pediu primeiro a bênção do povo antes de abençoar os fiéis.
Nos primeiros dias de pontificado, o Papa terá uma agenda muito carregada. Após a missa com os cardeais nesta quinta-feira, na sexta-feira receberá todo o colégio cardinalício na Sala Clementina no Vaticano e no sábado se reunirá com jornalistas.
No domingo pronunciará o tradicional Angelus de seu quarto papal. Também pretende visitar nos próximos dias o Papa emérito Bento XVI.
A missa de entronização, que deve contar com a presença de líderes e personalidades de todo o mundo, acontecerá na próxima terça-feira 19, dia de São José, patrono da Igreja.
Com esta eleição terminam quatro semanas agitadas na história moderna da Igreja, após a renúncia inesperada de Bento XVI, que alegou "falta de forças", um fato sem precedentes nos últimos sete séculos.
O novo pontífice deverá responder aos escândalos que explodiram durante o último pontificado, como o dos abusos sexuais de menores ou o caso "VatiLeaks", o vazamento de documentos confidenciais do pontífice.