Paula Sarapu, Arnaldo Viana e Luiz Ribeiro
Invariavelmente, as pessoas têm orgulho do nome de batismo. Esse orgulho cresce quando o nome se liga repentinamente a um grande fato ou a um personagem de relevância para a humanidade. É o caso dos Franciscos, que já existiram em maior quantidade no Brasil, principalmente por questões religiosas. O nome perdeu força e certamente voltará a crescer graças ao novo papa. Nas ruas, os “xarás” do novo líder mundial da Igreja Católica ganharam evidência.
Francisco de Paula Bacattini Filho, de 69 anos, empresário do ramo de autopeças, está envaidecido com o nome escolhido pelo argentino e jesuíta Jorge Mario Bergoglio para comandar o mundo católico. “Me senti surpreso e honrado. Ele se mira em São Francisco de Assis, pela simplicidade e desprendimento. Passa boa impressão, pela simpatia, e demonstrou que quer dirigir a Igreja pela linha da humildade.” Casado, três filhos e quatro netos, Bacattini Filho acredita que o papa Francisco vai interferir nos rumos da Igreja Católica. “Há certos princípios considerados intocáveis pelo Vaticano, mas se não houver mudança a Igreja vai se afastar cada vez mais dos fiéis. É preciso flexibilizar, primeiramente, o relacionamento com o próprio homem, outros setores da sociedade e instituições. O papa sabe disso e vai inaugurar uma nova era no catolicismo. Espero que restabeleça a referência que a Igreja sempre foi.”
Para Francisco de Paula Teresa Vianna, de 15, filho de Bento, orgulho dobrado. A coincidência em relação aos nomes dos papas, o atual e o anterior, arrancou risadas em um momento de família, quando os dois assistiam às notícias na televisão sobre a escolha do novo pontífice, na noite de quarta-feira. Católico praticante, o estudante que quer ser advogado, durante a infância, não gostava do nome inspirado em um primo muito querido, por causa do apelido do Chico. Mas a descoberta do santo protetor dos animais o fez admirar o nome.
“Gosto de bichos, tive três cachorros em João Monlevade, onde morava até o ano passado, mas também gosto muito da ideia do desapego aos bens materiais, que eu levo na minha vida. Não ligo para roupas de marca como o pessoal da minha idade e meu celular, apesar de ser um smartphone, eu consegui por causa de desconto na operadora”, conta o rapaz, que vai à missa com os pais sempre aos domingos. “Espero que ele consiga dar um rumo novo à Igreja. O mundo mudou e, por mais que o papa seja conservador, a Igreja tem que se adaptar às questões que a sociedade tem discutido, como o matrimônio entre pessoas do mesmo sexo.”
Outro adolescente, Francisco Junio Rodrigues Gregório, de 16, não se aprofunda nas questões da Igreja. Apenas sonha com um mundo melhor, agora orgulhoso de ser xará da maior autoridade católica. Aluno do 1º ano do ensino médio, exerce a função de auxiliar de mecânico em uma oficina do Bairro Concórdia, na Região Nordeste de Belo Horizonte, quando está fora da sala de aula. “O novo papa aparenta ser uma pessoa tranquila, que pensa na humanidade. Estou orgulhoso, porque também só penso no bem das pessoas.” E, com a bênção do pontífice, ele quer se especializar e se tornar um bom mecânico. “Adoro carros”, diz o adolescente, que é filho e neto de Franciscos.
Ruptura rumo ao recomeço
O pequeno Francisco Martins Blasco Quirino, de 6 anos, sabe que carrega o nome do avô. A bisa era devota de São Francisco de Assis e quis homenagear o santo. Pela televisão, ele ouviu seu nome e chamou a mãe. “Ele mesmo atentou para isso”, conta a engenheira Renata Blasco, de 37 anos. “Seguimos uma orientação religiosa e sempre rezamos juntos à noite”. Francisco também gosta de ir à igreja, para cantar músicas de Deus”. Sem timidez, ele conta o que achou do nome escolhido pelo Papa: “É bonito, igual ao meu!”. Para Renata, que quis homenagear o pai, Roberto Francisco, a renúncia de Bento XVI representa uma ruptura e o recomeço. “Espero que se inicie um novo momento na Igreja Católica, em que os fiéis estejam mais próximos do pontífice. Os papas costumam ficar muito distantes do povo, até os santos eram mais próximos”.
Outro Francisco que está orgulhoso de carregar o mesmo nome do escolhido por Jorge Mario Bergoglio é Francisco Amâncio Neto, de 62, de Pirapora, no Norte de Minas. O nome está tão arraiagdo em sua vida que é de outro Chico que ele tira seu sustento: o Rio São Francisco. Amâncio trabalha no vapor Benjamin Guimarães, a única embarcação movida a lenha ainda em circulação no mundo, que, atualmente, realiza passeios pelas águas do rio. “Para mim, a escolha do nome do papa como Francisco foi motivo de grande alegria. Espero que São Francisco abençoe o religioso e que esta bênção chegue até aqui, nas cidades banhadas pelo São Francisco.”
O pedreiro Francisco Xavier da Silva, de 53, de Montes Claros, deposita esperanças de um mundo melhor com a escolha do novo papa. “Se o outro papa (Bento XVI) renunciou é porque ele deve ter visto muita corrupção. Espero que o novo papa possa fazer alguma coisa para melhorar a vida do povo”, diz ele, que se diz católico, mas não sabe por que recebeu esse nome. Mesmo sendo testemunha de Jeová, o serralheiro Francisco Soares de Souza, de 46, respeita a liderança do papa. “Acredito que todas as organizações religiosas precisam ter um ‘cabeça’. Achei muito bom o fato de o papa pedir aos católicos para rezarem por ele. Isso foi um bom sinal.”
Para o empresário Francisco de Assis Junior, de 43 anos, ao escolher o nome Francisco, Jorge Bergoglio demonstrou que realmente segue a simplicidade e a humildade. “Se todo mundo seguisse esses princípios, com certeza, o mundo seria bem diferente. Quando as pessoas adotaram a simplicidade, tudo fica mais fácil”, opina o empresário, que é católico. Ele lembra que o seu pai, o comerciante aposentado Francisco de Assis, de 89 anos, sempre teve um estilo de vida simples e também procura adotar o mesmo comportamento. “Acho que devemos tratar todo mundo com a mesma atenção. Nós todos somos iguais”, afirmou Assis Junior.
MISSÃO ABENÇOADA
“Respeito todas as religiões, seus dogmas e doutrinas, mas sou evangélico. Achei a escolha do nome emocionante. Pelo que conheço dos meus familiares católicos, como o Zezé, São Francisco foi um homem simples, cuidando dos necessitados e animais. Espero que o papa, como representante de sua Igreja e de muitos povos, siga o que São Francisco pregou e que é clássico em sua oração: doar, amar, dedicar, perdoar... Porque é dando que se recebe... Que ele tenha uma missão abençoada. Porque eu tenho os dois filhos de Francisco e ele tem milhões de filhos. A escolha de meu nome, creio, foi em homenagem ao santo mesmo. Naquele tempo, tinha muito disso no interiorzão de Goiás.”
Francisco Camargo, de 75 anos, pai da dupla sertaneja Zezé di Camargo e Luciano