Em lugar do crucifixo de ouro e pedras preciosas, Francisco continua a usar a cruz simples de metal que o acompanha desde que era padre. Nas primeiras aparições ele dispensou a capa e o sapato vermelhos - Foto: Alessandro Bianchi/Reuters O primeiro gesto talvez traduza todo o resto. Ao se inclinar e pedir orações aos fiéis no momento em que era apresentado como papa eleito, na sacada da Basílica de São Pedro, o argentino Jorge Mario Bergoglio sinalizou ao mundo que calçaria as sandálias da humildade. Francisco assumia ali perante a multidão na praça um traço que o caracterizou vida afora: a simplicidade.A partir dali, o jesuíta que sucedeu ao severo – e sisudo – Bento XVI daria provas, em todas as suas aparições e declarações, de que será um sumo pontífice de carne e osso. Ora pelas vestes escolhidas (sem ostentações), ora por dispensar as formalidades de segurança do Vaticano, ora por se dirigir aos cardeais com naturalidade que pouco lembra a liturgia do cargo.

No primeiro dia, enquanto os príncipes da Igreja esperavam em fila para cumprimentá-lo, foi diretamente saudar o cardeal indiano Ivan Dias, imobilizado numa cadeira de rodas. Improvisou na primeira homilia, na Capela Sistina. Em vez de se sentar na cadeira papal, ficou de pé. As demonstrações de desprendimento se confirmariam ao se dirigir aos argentinos sugerindo que em lugar de estar em Roma na terça-feira, início oficial de seu pontificado, destinem para a caridade com os pobres o dinheiro que gastariam com a viagem.