Jornal Estado de Minas

Papa Francisco tem encontro informal com a presidente da Argentina

Kirchner e Jorge Bergoglio mantêm relações tensas e espera-se que o encontro sirva para aproximar as duas partes antes da missa de entronização oficial do pontificado de Francisco, na terça-feira

AFP

Presidente da Argentina e papa passaram cerca de 20 minutos juntos - Foto: AFP PHOTO/OSSERVATORE ROMANO

 O papa Francisco realizou um encontro bastante informal nesta segunda-feira (18/3) com a presidente argentina, Cristina Kirchner, antes de almoçar com ela em sua residência provisória do Vaticano, anunciou o porta-voz da Santa Sé em uma coletiva de imprensa.

O pontífice argentino e Kirchner realizaram uma reunião de cerca de 15 ou 20 minutos antes de almoçar, acrescentou Lombardi, informando que não será divulgado nenhum comunicado oficial do Vaticano sobre este encontro, classificado por ele de muito informal. A presidente argentina, no entanto, convocou a imprensa a partir das 12h30 GMT (09h30 de Brasília) no hotel Eden, onde se hospeda e de onde saiu nesta manhã chuvosa com um chapéu preto.

Kirchner e o até a última quarta-feira arcebispo de Buenos Aires Jorge Bergoglio mantêm relações tensas e esperava-se que este encontro, que deveria começar às 12h50 GMT (9h50 de Brasília), servisse para aproximar as duas partes antes da missa de entronização oficial do pontificado de Francisco, na terça-feira. As divergências entre ambos começaram durante a presidência de seu marido, o falecido Néstor Kirchner, que não apreciava as críticas nas homilias do então arcebispo, que denunciava com frequência o escândalo da pobreza ou o flagelo da droga e do crime na Argentina.

Néstor Kirchner chegou a classificar Bergoglio de "verdadeiro líder da oposição". A relação ficou ainda mais tensa com a legalização, em 2010, do casamento homossexual na Argentina. Desde sua eleição, na quarta-feira, a única sombra no início do papado deste austero Papa jesuíta que seduziu os fiéis com sua humildade, sua proximidade e seus discursos simples foram acusações sobre sua suposta passividade durante a ditadura que atingiu a Argentina entre 1976 e 1983, ressuscitadas em seu país e retomadas pela imprensa mundial.

O Papa é criticado por não ter feito o suficiente para proteger dois sacerdotes de sua ordem, Francisco Jalics e Orlando Yorio, sequestrados e torturados pelos militares. Diante da proporção que o assunto tomou, o porta-voz do Vaticano, Federico Lombardi, publicou na sexta-feira uma declaração que rejeitava estas acusações como caluniosas e atribuía sua origem à esquerda anticlerical.

Cristina Kirchner é a primeira dos diversos chefes de Estado e de Governo que serão recebidos pelo novo Papa. Após a cerimônia solene na terça-feira, o pontífice receberá os representantes das 130 delegações oficiais, entre eles a presidente Dilma Rousseff e o líder mexicano, Enrique Peña Nieto, que dirigem os dois países com mais católicos do mundo.